quinta-feira, 30 de novembro de 2023


30 DE NOVEMBRO DE 2023
TULIO MILMAN

Liberdade

A Maya está aprendendo a nadar. Touquinha enfiada na cabeça, fralda de piscina, maiô tamanho quatro e muita animação passaram a ser ingredientes das nossas manhãs de sábado.

Por enquanto, ainda entro na água com ela. É só uma questão de tempo. Na aula passada, a Maya já começou a se soltar mais sozinha, dando risadas com as brincadeiras. Uma delas envolvia um pequeno regador. A professora, muito dedicada e competente, perguntou para suas aluninhas, uma de cada vez: "Tu tomas banho de banheira ou de chuveirinho?". A Maya foi a terceira a responder. Ficou quieta, olhou em volta, refletiu, fez uma carinha fofa e disparou: "De piscina". Caímos na gargalhada.

Ah, os filhos!!! Eles nos ensinam a pensar sobre a vida. Foi o que fiz com a resposta óbvia e, por isso, tão divertida e verdadeira. Nós, adultos, somos presas fáceis das alternativas forçadas. Nos oferecem duas opções e, quase sempre, ficamos grudados a elas, como se fossem as únicas.

O que você prefere: frio ou calor? As praias gaúchas ou as de Santa Catarina? Governo ou iniciativa privada? O indivíduo ou o coletivo?

Liberdade, de fato, é compreender o tamanho do infinito. Curtir as bergamotas do inverno, os dias mais longos do verão e a luz do outono. Correr na areia plana de Xangri-lá, relaxar no mar calmo de Bombinhas e mergulhar na Lagoa dos Patos. Valorizar a importância do empreendedorismo, agradecer o SUS pelas vacinas e celebrar as parcerias entre o público e o privado. Aceitar que o indivíduo deve sempre ser respeitado, que o homem é um ser social e que, dependendo das circunstâncias, a ênfase entre um e outro pode e deve variar.

No final de semana passado, conversava com meu pai e com a minha mãe, 91 e 78 anos, respectivamente, sobre os desafios da inteligência artificial e sobre o que restará para nós, humanos. Chegamos a um ponto em comum: a importância da pergunta. É a partir da dúvida que nasce a certeza.

Banho? Nem de chuveiro, nem de banheira.

De chuva? De piscina? De sol?

Ou quem sabe o seco ou a sombra?

Então a professora de natação espalhou vários brinquedos pela borda. Pediu que cada aluna escolhesse um. Maya estendeu o bracinho e pegou um patinho amarelo. Terminado o primeiro exercício, a orientação era largar o brinquedo e escolher um outro. Lá estavam três patinhos idênticos, enfileirados na beira da piscina. Maya recolocou um no lugar e, rapidamente, agarrou outro, exatamente igual. Afinal de contas, não era o mesmo. Mas também era.

E por que não?

TULIO MILMAN

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