sábado, 25 de novembro de 2023



24 DE NOVEMBRO DE 2023
MARCELO RECH

O pêndulo

Duas eleições nesta semana, na Argentina e na Holanda, confirmam que o pêndulo político está mais ativo do que nunca. Por este fenômeno, vastas porções do eleitorado se aninham em candidaturas nos extremos, em silenciosa reação a exageros nas guerras culturais, a incúrias governamentais ou à volúpia com que alguns setores se adonam do aparato estatal.

Pela lógica, na Argentina, a fatia descontente com a inflação causada pela irresponsabilidade da esquerda e com os privilégios a castas do funcionalismo e a corporações tenderia a votar em Patrícia Bullrich, que apresentava planos sensatos de combate à inflação e ao crime. Na prática, os argentinos se mostram tão enfastiados com meias medidas e com mais do mesmo que resolveram simplesmente implodir tudo ao colocarem o primeiro anarcocapitalista da história na chefia de um governo.

Um movimento semelhante ocorreu na liberalíssima Holanda na quarta-feira, quando o eleitorado deu ao PVV, o partido da extrema direita de Geert Wilders, 37 assentos no parlamento, 12 a mais do que o segundo colocado, uma aliança de esquerdas. A vitória de Wilders é uma reação à inércia em se conter a imigração ilegal, que criou um enorme déficit habitacional e espalha por zonas urbanas populações estrangeiras que não se integram ao modo de vida holandês. Wilders baixou o tom ao deixar de pregar a proibição do Corão e o fechamento de mesquitas. Em contrapartida, aprofundou uma retórica que espezinha os bolsões muçulmanos: "Devolver a Holanda aos holandeses", o que inclui o absoluto respeito à igualdade de gêneros e a diferentes orientações sexuais.

O Brasil já viu esse filme também. Pelo movimento de pêndulo, milhões de eleitores que votaram na esquerdista Dilma ajudaram, anos depois, a eleger o direitista Bolsonaro. A dificuldade da esquerda em lidar com a criminalidade, as omissões no combate à corrupção e os excessos do politicamente correto acabaram por fermentar um ressentimento que eclodiu no extremo oposto nas urnas de 2018. Como Milei e Wilders, Bolsonaro conquistou seu espaço menos por sua biografia e mais por erros primários dos adversários e de instituições que não conseguem ver além de suas bolhas. A falta de limites e o corporativismo do STF, por exemplo, entregaram de bandeja incentivos ao ideário bolsonarista.

O pêndulo voltou a balançar em 2022 diante da verborragia desenfreada de Bolsonaro, do loteamento do governo entre teocratas e velhas raposas, além de insanidades, como sua batalha pessoal contra as vacinas. Tanto fez que o pêndulo nem parou no meio: foi direto desarquivar um lulismo que parecia esgotado pelo massacre da Lava-Jato. Agora é Lula que experimenta o fenômeno. Se não se livrar do esquerdismo infantil e irresponsável, um representante da direita estará com a mão na taça em 2026.

MARCELO RECH

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