sábado, 11 de novembro de 2023


11 DE NOVEMBRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

DIFERENTES, MAS IGUAIS

Nada é mais positivo e belo na política do que quando visões opostas se reúnem na mesma causa incontestavelmente justa. Assim ocorreu em 1961, no Movimento da Legalidade. Aqui no Rio Grande do Sul, até os opositores mais ferrenhos se uniram à pregação do governador Leonel Brizola.

Ao contrário, porém, nada é mais negativo, ou horripilante até, do que quando a unidade se faz por algo torpe e perigoso, que ameace a saúde da população ou a vida em si.

Este é o caso, agora, da inesperada união dos três senadores gaúchos - Paulo Paim, Luís Carlos Heinze e Hamilton Mourão - ao apresentarem o Projeto de Lei 4.653, que estimula a extração e o uso do carvão mineral, um dos responsáveis diretos pelo aquecimento global. Pergunto: nossos três senadores esqueceram que isso provoca desastrosas consequências para a saúde humana e para a própria vida do planeta?

O projeto de lei, que os três senadores apelidaram de "transição energética justa", trafega na contramão de todas as conclusões da ciência. Além disso, renega as advertências dos organismos ambientais, como a Organização Climática Mundial, sobre a necessidade de excluir o uso dos combustíveis fósseis até 2030.

O projeto propõe o absurdo de prolongar até 2040 os subsídios governamentais à exploração do carvão mineral. Esqueceram-se dos malefícios à saúde humana, como na região carbonífera de Candiota, onde as doenças respiratórias afetam crianças e adultos em níveis gigantescos.

Será isso a "transição energética justa" que os três senadores querem transformar em lei a ser cumprida?

Esqueceram-se os senadores das advertências do papa Francisco contidas na encíclica Laudato Si. O esquecimento vai além e contradiz (ou nega) as conclusões da ciência de que os últimos anos superaram o aquecimento do planeta mais do que em milhões de anos, séculos afora.

A unidade de pensamento dos nossos três senadores ao negarem as funestas consequências do aquecimento global mostra que, mesmo com visões políticas diferentes, são igualmente iguais.

Talvez exclamem: e daí, é só o planeta que vai sofrer!.

As guerras são terríveis por serem instrumentos de morte e destruição. Todos perdem numa guerra - o agressor ou o agredido e até o que triunfa. Ou não é isso que mostram agora a agressão dos terroristas do Hamas e a resposta do Estado de Israel?

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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