sábado, 31 de maio de 2025


31 de Maio de 2025
MARTHA MEDEIROS

Meus 40 anos

Não parece que foi ontem, parece que foi quando foi: na minha pré-história. Aos 23 anos, juntei um punhado de poemas e os expus, pela primeira vez, para um paulistano que andava sacudindo o mercado editorial com uma coleção que virou a queridinha dos modernos: Cantadas Literárias. Ao enviar pelo correio o envelope recheado com meus versos, não lembro de ter pensado que eu estava sendo louca ou cara de pau demais, o mais provável é que eu não tenha pensado em nada. 

Apenas obedeci à pulsão de vida que me empurra até hoje. Um "vai lá e tenta" sem medo do fracasso. Se tenho um mérito, talvez seja este: não ficar de braços cruzados aguardando a morte. Tem gente que paralisa e prefere ser uma eterna promessa. Nunca prometi nada para ninguém, nem para mim mesma.

Ainda sobem ao palco bandas de rock que fazem turnês de aniversário, coisa que não se verá mais no futuro: um artista que surge hoje, por mais talentoso que seja, compete com milhares de outros em serviços digitais como o Spotify. Dificilmente se destacará como ídolo de massa. Por vivermos em um mundo faminto por novos conteúdos, intuo que ninguém mais se manterá, por anos a fio, em destaque. 

A fama tende a ser um conceito em extinção e festejar 40 anos ininterruptos de qualquer coisa, seja de um amor ou de uma carreira, talvez venha, um dia, a ser considerado um insucesso, como se a pessoa tivesse esquecido de viver. Sei lá se sou boa de previsão, em 2065 se saberá, pena que não estarei aqui para confirmar.

Mas, em 2025, bodas e aniversários continuam a ser celebrados e a persistência resiste como sendo um valor. Persistência que não precisa ser monótona: foram bem movimentados os 40 anos transcorridos entre meu primeiro livro, Strip- Tease, e o próximo (uma edição especial, com frases e versos ilustrados por Daniel Kondo, já já). Me aventurei por diferentes gêneros literários, escrevi relatos de viagens, fiz parcerias musicais, tive textos adaptados para o teatro, sucumbi ao mundo digital e, aguentem, ainda tenho planos. 

A cenoura segue pendurada em frente ao nariz. Continuo na busca por outras primeiras vezes. Estou prestes a abraçar um projeto que me assusta barbaramente. E entre um frio na barriga e outro, não esqueço de viver - aliás, é a parte que mais gosto. _

Estabeleci uma relação estável e longeva com as palavras que escrevi

Se tenho um mérito, talvez seja o de não ficar de braços cruzados aguardando a morte

MARTHA MEDEIROS

31 de Maio de 2025
COTIDIANO

COTIDIANO

Com o tempo, essas bonecas passaram a ser vistas sob diferentes prismas, variando entre arte, terapia e fetiche midiático. No Brasil, ainda nos primórdios da internet, já era possível encomendar um reborn baseado na foto de um filho. Mesmo sem o alcance das redes sociais atuais, a proposta gerava controvérsia. E a palavra reborn (renascido) fazia, de certa forma, sentido: embora soubéssemos que não é possível reviver nossos bebês, a fantasia de um novo começo trazia algum conforto. Ainda assim, a vida exige que convivamos com os erros e acertos, e não com a ilusão de um recomeço perfeito.

Hoje, o Brasil lidera esse movimento. No TikTok, bebês reborn viraram febre, embalados por um consumo desenfreado e um desejo constante por curtidas e visibilidade. A indústria da performance social ignora a crítica, e o que vemos nas redes é um desfile de cenas simbólicas: partos simulados, bebês com batimentos cardíacos, nascidos "na placenta", sugerem até a criação do "Dia do Bebê Reborn", no Rio de Janeiro. Em Minas Gerais, houve proibição de atendimento a esses bonecos pelo SUS. Algumas pessoas já os matriculam em creches.

A pergunta que se impõe é: estamos assistindo a uma crise simbólica da maternidade? A maternidade sempre estará em conflito, pois é atravessada pela cultura, pelas projeções inconscientes e pelas exigências sociais de cada época. A forma como lidamos com ela é que muda, assim como mudam nossas ferramentas para enfrentá-la ou evitá-la.

O uso do bebê reborn pode ser saudável enquanto estiver no campo da metáfora, do "faz de conta". Quando ultrapassa esse limite e passa a ocupar o lugar do real, substituindo o bebê real por um boneco idealizado, entramos no território da negação. Nessa fronteira, surgem preocupações legítimas com a saúde mental. Já há diagnósticos relacionados a transtornos dissociativos em casos extremos.

Um bebê reborn não chora, não exige, não contraria. Ele representa a maternidade sem conflitos, sem noites mal dormidas, sem frustrações... Uma maternidade impossível. Ninguém compra um filho. Compra-se uma representação idealizada de um filho desejado. Mas filhos reais são seres com desejos, frustrações, personalidade própria, e que provocam reações intensas nos cuidadores. A maternidade, em sua essência, é um campo de tensões, encontros e desencontros, e é justamente esse embate que constrói vínculos verdadeiros.

Durante a gestação, criamos um "bebê imaginário", moldado por nossos desejos, medos e projeções. Imaginamos se dormirá bem, se será calmo, com quem se parecerá. Esse bebê sonhado dá lugar, no parto, ao bebê real, com demandas imprevisíveis e subjetividade própria. Podemos aceitá-lo como ele é ou tentar moldá-lo às nossas expectativas, criando um "bebê reborn" simbólico dentro de nós. Quando o desejo do cuidador apaga a individualidade da criança, abrimos espaço para uma relação patológica, onde a fantasia se sobrepõe à realidade.

Frustrações são parte do processo. São elas que nos ensinam a escutar, a interpretar o choro, a suportar o cansaço e a crescer emocionalmente. Tornar-se mãe, pai ou cuidador é atravessar esse campo de construção emocional que nos humaniza, e não perpetuar uma ilusão plástica e silenciosa do que gostaríamos que fosse.

Mais do que apontar excessos, este texto convida à reflexão: que maternidade estamos tentando viver ou evitar? 


31 de Maio de 2025
J.J. CAMARGO

Se o estímulo foi por uma coisa boa, dessas que dão aos otimistas apressados a sensação espontânea de que nem tudo está perdido, os comentários serão pífios e burocráticos. Mas se resultou de alguma mágoa ou ressentimento, você logo descobrirá a quantidade de sentimentos inferiores reprimidos, à espera de que alguém venha solidariamente resgatá-los.

Depois que publiquei uma crônica que relatava a experiência de um médico velhinho, que passou a vida cuidando das pessoas com carinho, não porque quisesse impressionar ninguém, mas porque não conseguia ser de outro jeito, e que, quando adoeceu, provou o amargo do atendimento despersonalizado, as redes sociais abriram as comportas da indignação e choveram relatos semelhantes em indiferença, alienação e rigidez afetiva.

Uma avó foi levada às pressas para a emergência de um grande hospital e deixada com a tradicional camisola, esperando por um exame. Sempre friorenta, reclamou:

- Moça, eu vou pegar uma pneumonia aqui! - Não, vovó, o que a senhora tinha que pegar já pegou! - respondeu uma atendente apressada, que provavelmente nem ouviu a reclamação (e se tivesse ouvido, que diferença faria?).

- Escuta, minha filha, eu sei que estou velhinha, mas não te esqueças que eu ainda sou um ser humano!

Em outro relato, uma paciente, grande fumante, com câncer de pulmão, internou com a expectativa de que pudesse ser operada, porque ouvira que a maioria dos sobreviventes estavam entre os casos cirúrgicos. Ao final da avaliação, foi informada de que o tratamento seria feito com quimioterapia que, felizmente, naquele tipo histológico, funcionava muito bem. Mais tarde foi encontrada aos prantos. Tudo porque um estagiário, em provável liberdade condicional, passou para vê-la, resolveu testar as informações. Ela perguntou:

Meu doutorzinho, meu tumor é muito ruim? Ele respondeu:

- Do que eu aprendi até agora, parece que é o pior.

Uma terceira história: um homem de barba muito branca, com um tumor de pleura que lhe invadia as costelas, continuava gemente depois do analgésico e seguia implorando por mais. A atendente, chateada com a insistência, foi definitiva:

- O senhor já recebeu tudo o que estava prescrito. E vou lhe contar um segredo que aprendi: gemido não é analgésico!

O mais triste é que oferecer a esse trio um curso intensivo focado em empatia e compaixão seria inútil. Quando essas virtudes, lá atrás, foram excluídas do DNA, não há manipulação genética que conserte. 

J.J. CAMARGO

31 de Maio de 2025
CARPINEJAR

Série do casal

Algo me irrita. Vamos destrinchar por capítulos. Todo casal tem sua série predileta do momento. Você recebe permissão para explorar qualquer título, menos aquele. É produto proibido para a solidão.

Depois que Beatriz e eu decidimos um programa em comum, exigimos fidelidade pela temporada inteira. Nada de passar o seu par para trás. A sincronia é uma forma de evitar spoiler, indiretas ou o estraga-prazer das dicas. É o emparelhamento do amor, o Bluetooth da confiança.

Como eu viajo muito para shows e palestras, e nem sempre estou em casa, sou obrigado a mostrar disciplina. A suportar a abstinência. A segurar a imperiosa vontade. A controlar a obsessão. A não ceder à tentação. Aceito o fato consumado: não desejo discutir à toa. Aprendi a não dar sequência aos episódios, ainda que morra de curiosidade sobre o que os personagens farão.

Não desonro o combinado com o play escuso, escondido e egoísta nas plataformas do meu celular. Limito-me à TV. Protejo sua condição soberana e igualitária no casamento, revelando nossa irrestrita lealdade. E sigo o pacto à risca.

Só que, quando regresso das andanças e retomamos nosso delicioso entretenimento no sofá - com direito a pipoca e cobertor -, minha esposa dorme no meio da trama.

Como Beatriz pode apagar justamente naquela cena tão aguardada? Ela não está com fissura, com dependência química como eu? Série é como chocolate: impossível de recusar. Um bem- estar do cacau, despejando doses fartas de teobromina, cafeína e feniletilamina em nosso corpo, colorindo a massa cinzenta.

Eu observo Beatriz atentamente, faço um exame de corpo de delito. Levanto o seu braço, e ele cai. Ela realmente desmaia como uma pedra. Não se mexe. Fica na posição fetal (letal) de conchinha.

Eu não sei como proceder: se a acordo ou a deixo dormir. Se continuo rodando e espero que ela recupere o atraso no dia seguinte. Se paro tudo, para não contar nenhuma vantagem, e me encaminho junto para a cama, vencido pela triste casualidade.

Nem sei quando ela começou a cochilar. O que acompanhou de verdade. Até onde prestou atenção. Foram alguns minutos, ou desde o princípio? Não existe VAR para flagrar o instante do coma de seu cansaço.

Acontece uma crise de consciência sem tamanho, uma culpa estratosférica - e sequer desfruto da chance de consultá-la naquele estado de hibernação. Se ela falar algo, não há certeza de que se lembrará do diálogo. É provável que esteja sonhando.

O que eu descobri tardiamente - e gostaria de avisar a todos os maridos que amargam semelhante situação e desespero, pois é um alerta de utilidade pública - foi a artimanha capaz de colocar um casamento em perigo.

Não devo ser o único corno na história da humanidade. Acredito que corresponda a uma regra feminina. Ela dorme porque já assistiu sozinha ao episódio. Perdeu o interesse. Finge que é novidade, simula desconhecimento de causa, mas não se aguenta com a repetição, e acaba capotando.

Não duvido que tenha o costume de maratonar a série completa enquanto eu me vejo distante. Isso explica sua tranquilidade, sua paz de espírito, seu despojamento livre de urgências. 

CARPINEJAR

31 de Maio de 2025
OPINIÃO RBS

Para evitar a ruína no campo

Diante do quadro dramático do endividamento dos agricultores gaúchos, surge como um pequeno alívio a confirmação de que as parcelas de financiamentos tomados para custeio e investimentos em operações do Plano Safra pelos produtores do Estado terão os vencimentos prorrogados. A decisão foi aprovada em reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) na quinta-feira. Trata-se de uma medida necessária em virtude de mais uma colheita frustrada no Rio Grande do Sul por estiagem, o que novamente impôs dificuldades para o pagamento dos compromissos financeiros.

Mas, ainda que seja uma providência bem-vinda, tem efeitos limitados, por englobar apenas os financiamentos subsidiados que contam com a equalização do Tesouro. Ou seja, não contempla o crédito contratado a juros livres junto a bancos, cooperativas cerealistas e fornecedores de insumos, por exemplo. Ao cabo, é um paliativo que não chega perto de ser a saída estrutural indispensável para solucionar o grande endividamento acumulado ao longo de uma sequência de vários anos com quebra de produção por falta de chuva.

Deve ser compreendido que o ciclo 2024/2025 no Estado foi o quinto, em um intervalo de seis anos, afetado por déficits hídricos de diferentes magnitudes. Ao longo desse período, portanto, a renda com a produção ficou bastante abaixo da projetada, enquanto as contas continuaram a bater na porta. Inexiste negócio que, submetido a tamanho malogro no faturamento esperado, permaneça incólume sem afundar em uma enorme crise e não tenha sua sobrevivência posta em risco. Segundo a Federação da Agricultura do Estado (Farsul), a soma das dívidas dos produtores gaúchos chega a extraordinários R$ 72,8 bilhões.

Diante de uma conjuntura excepcional, medidas ordinárias não bastam. Permanece incontornável encontrar uma fórmula que leve à repactuação de todo o passivo acumulado nos últimos anos, em condições que signifiquem fôlego para os produtores continuarem com capacidade de produzir para, ao longo de um prazo razoável, quitarem seus compromissos. A pauta da securitização, que consiste na unificação dos diversos débitos das pessoas físicas e jurídicas em uma só dívida, a ser paga em um prazo estimado de 20 anos, ainda precisa avançar.

A primeira proposta, apresentada pelo senador Luis Carlos Heinze e em tramitação, é considerada inviável por implicar em um custo de cerca de R$ 60 bilhões para o Tesouro, em um momento de degradação do quadro fiscal do país. Mas há outras alternativas à mesa, como a elaborada pela Farsul, que prevê o uso do dinheiro do Fundo Social do Pré-Sal, alimentado por royalties do petróleo, como fonte de recursos para proporcionar a renegociação. 

A verba seria devolvida ao longo desses 20 anos. Em entrevista à Rádio Gaúcha, na sexta-feira, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, mostrou-se favorável à ideia. Citou também a possibilidade do uso do Fundo Clima, gerido pelo BNDES. Ainda que pareça, portanto, existir agora boa vontade federal para encontrar uma solução estrutural, é preciso que lideranças do Estado, o que inclui a bancada gaúcha no Congresso, mantenham a mobilização para viabilizá-la. Um impasse pode levar à eclosão de uma grave crise social no campo, com a ruína de produtores de todos os portes. 



31 de Maio de 202
MERCADO - Paulo Rocha

Caixa diz que financiamentos imobiliários estão "normalizados"

Correspondentes bancários e corretores confirmam melhora, mas relatam ainda alguma dificuldade em faixas subsidiadas do Minha Casa, Minha Vida.

Profissionais que trabalham no ramo imobiliário e dependem de financiamentos via Caixa Econômica Federal para fechar negócios falam em "normalidade" nas transações, após meses de angústia no final de 2024. A falta de dinheiro registrada pelo banco, em razão de problemas na fonte dos recursos - a poupança e o FGTS -, foi contornada, segundo correspondentes bancários e corretores de imóveis consultados por Zero Hora. Mas restam ainda queixas sobre demora referentes a linhas específicas do programa Minha Casa, Minha Vida, que dependem de subsídios governamentais.

Especialistas apontam dois fatores para a redução dos recursos naquele momento. A queda dos depósitos da poupança (em razão da alta na taxa de juros) e a ampliação do prazo de vencimento das letras de crédito imobiliário (LCI). Em fevereiro de 2024, o Conselho Monetário Nacional estendeu de três meses para um ano o vencimento dos papéis.

- Isso afugentou alguns investidores, principalmente aqueles que tinham baixos recursos ou tempo - explica o economista José Antônio Ribeiro de Moura, professor da Feevale.

A poupança demonstrou pequena recuperação em abril deste ano, mas segue perdendo investidores.

Prazo de 30 dias

Responsáveis por intermediar o financiamento imobiliário entre compradores e a Caixa Econômica Federal, correspondentes bancários afirmam que o momento é positivo para os clientes.

- Já começou a normalizar bastante - afirma Vasconcelos.

Os correspondentes calculam que as transações com a Caixa se confirmem em cerca de 30 dias, a partir da aprovação do crédito. O prazo inclui a vistoria do imóvel, a elaboração do contrato, o registro do imóvel e a liberação do dinheiro. Em Porto Alegre, pode demorar uma ou duas semanas a mais, dependendo da zona responsável pelo registro do imóvel. No ano passado todo o processo chegou a levar mais de três meses, segundo relatos.

Eu perdi financiamentos habitacionais por causa daquela demora da Caixa - diz a correspondente Lúcia Helena Paim.

Procurada, a Caixa evita dar detalhes sobre valores ainda disponíveis para a concessão de crédito imobiliário. Em nota, afirma que "as contratações ocorrem dentro da normalidade". _

Subsídio gera atrasos em programa federal

O guarda-chuva que forma o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) reúne recursos da poupança e do FGTS. Para 2025, o Conselho Curador do FGTS aprovou orçamento de R$ 126,8 bilhões para habitação no país, ante R$ 105 bi em 2024.

A região sul do Brasil ficou com R$ 19,5 bilhões.

Porém, uma parte do sonho da casa própria pode depender de subsídios do governo federal. É o caso de quem busca adquirir um imóvel enquadrado nas faixas 1 e 2 do Minha Casa, Minha Vida, para pessoas com renda mais baixa. Segundo correspondentes, sem o valor a Caixa não libera a sua parte do financiamento, emperrando o negócio. O subsídio é calculado conforme a renda da família e o valor do imóvel. Citado por correspondentes como gestor desse subsídio, o Ministério das Cidades nega problemas. Porém, ainda há relatos de demora na liberação dos subsídios.

- Tenho um cliente que está há cinco meses esperando. O subsídio que ele aguarda é de apenas R$ 480 - relata um correspondente bancário de Porto Alegre que, por receio de afetar a relação com as instituições financeiras, prefere não se identificar. 


31 de Maio de 2025
OPINIÃO RBS

Para evitar a ruína no campo

Diante do quadro dramático do endividamento dos agricultores gaúchos, surge como um pequeno alívio a confirmação de que as parcelas de financiamentos tomados para custeio e investimentos em operações do Plano Safra pelos produtores do Estado terão os vencimentos prorrogados. A decisão foi aprovada em reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) na quinta-feira. Trata-se de uma medida necessária em virtude de mais uma colheita frustrada no Rio Grande do Sul por estiagem, o que novamente impôs dificuldades para o pagamento dos compromissos financeiros.

Mas, ainda que seja uma providência bem-vinda, tem efeitos limitados, por englobar apenas os financiamentos subsidiados que contam com a equalização do Tesouro. Ou seja, não contempla o crédito contratado a juros livres junto a bancos, cooperativas cerealistas e fornecedores de insumos, por exemplo. Ao cabo, é um paliativo que não chega perto de ser a saída estrutural indispensável para solucionar o grande endividamento acumulado ao longo de uma sequência de vários anos com quebra de produção por falta de chuva.

Deve ser compreendido que o ciclo 2024/2025 no Estado foi o quinto, em um intervalo de seis anos, afetado por déficits hídricos de diferentes magnitudes. Ao longo desse período, portanto, a renda com a produção ficou bastante abaixo da projetada, enquanto as contas continuaram a bater na porta. Inexiste negócio que, submetido a tamanho malogro no faturamento esperado, permaneça incólume sem afundar em uma enorme crise e não tenha sua sobrevivência posta em risco. Segundo a Federação da Agricultura do Estado (Farsul), a soma das dívidas dos produtores gaúchos chega a extraordinários R$ 72,8 bilhões.

Diante de uma conjuntura excepcional, medidas ordinárias não bastam. Permanece incontornável encontrar uma fórmula que leve à repactuação de todo o passivo acumulado nos últimos anos, em condições que signifiquem fôlego para os produtores continuarem com capacidade de produzir para, ao longo de um prazo razoável, quitarem seus compromissos. A pauta da securitização, que consiste na unificação dos diversos débitos das pessoas físicas e jurídicas em uma só dívida, a ser paga em um prazo estimado de 20 anos, ainda precisa avançar.

A primeira proposta, apresentada pelo senador Luis Carlos Heinze e em tramitação, é considerada inviável por implicar em um custo de cerca de R$ 60 bilhões para o Tesouro, em um momento de degradação do quadro fiscal do país. Mas há outras alternativas à mesa, como a elaborada pela Farsul, que prevê o uso do dinheiro do Fundo Social do Pré-Sal, alimentado por royalties do petróleo, como fonte de recursos para proporcionar a renegociação. A verba seria devolvida ao longo desses 20 anos.

 Em entrevista à Rádio Gaúcha, na sexta-feira, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, mostrou-se favorável à ideia. Citou também a possibilidade do uso do Fundo Clima, gerido pelo BNDES. Ainda que pareça, portanto, existir agora boa vontade federal para encontrar uma solução estrutural, é preciso que lideranças do Estado, o que inclui a bancada gaúcha no Congresso, mantenham a mobilização para viabilizá-la. Um impasse pode levar à eclosão de uma grave crise social no campo, com a ruína de produtores de todos os portes. 

31 de Maio de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

PIB contrasta com narrativa da oposição

Com a eleição de 2026 no radar, opositores do governo torturam os números para que confessem que o país está à beira do caos. Os números não dizem isso, mas a narrativa mostrada nas redes sociais e nos programetes do PL - o partido que está no momento com a palavra no horário das inserções - sugerem que o Brasil está no caminho de se tornar uma Venezuela, o país preferido na hora das comparações esdrúxulas.

O crescimento do PIB em 1,4% no primeiro trimestre de 2025 em comparação com o último de 2024 é uma excelente notícia, mesmo que não tenha ocorrido equilíbrio entre setores. Mais uma vez, foi o agro quem puxou o trem, com 12,2%. Um número exuberante, mesmo com a crise do setor no Rio Grande do Sul.

Não tendo como contestar os números, o que fazem bolsonaristas como o presidente do PL no RS, deputado federal Giovani Cherini? Colocam em dúvida a seriedade da estatística, com a alegação de que o presidente do IBGE, Márcio Pochmann, é petista. Esquecem que quem apura os números do PIB são os técnicos do IBGE, usando a mesma metodologia de governos anteriores. Mesmo que alguém mandasse maquiar os números, esses técnicos não permitiriam, mas como narrativa para as redes sociais é o que basta: lançar dúvidas sobre a honestidade alheia.

O mesmo ocorre com a inflação, pesadelo que obriga o Banco Central a manter os juros altos. Baixou na última prévia de maio para 0,36%, ante 0,43% em abril, mas os adversários tratam como se vivêssemos no período da hiperinflação dos estertores do regime militar e dos governos José Sarney e Fernando Collor.

Diz a propaganda do PL que o presidente Lula está fazendo sumir o ovo e o café da mesa dos brasileiros. Ignora-se, naturalmente, que o aumento do preço do café é consequência de uma crise mundial de oferta e que o ovo já baixou, mas ainda carrega resquícios de uma mistura de especulação com aumento do preço dos insumos e da escassez nos Estados Unidos.

Mês a mês, outro índice atesta a vitalidade da economia brasileira: a oferta de emprego. No último trimestre, ficou em 6,6%, o menor para este período desde o início da série, em 2012. O que dizem os críticos do governo? "Ah, mas aí não estão contabilizados os que não procuram emprego porque ganham Bolsa Família".

De fato. Não estão, como nunca estiveram nessa estatística. _

mirante

Justiça climática será o tema da palestra que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, fará neste sábado em Porto Alegre. A atividade faz parte da programação do Festival Fronteiras. Será às 9h30min, com entrada gratuita.

Governos de Sergipe, Santa Catarina, Mato Grosso, Minas Gerais e da capital paulista estão interessados em replicar o programa Mãe Gaúcha, que distribui kits com itens essenciais para gestantes em vulnerabilidade.

Não basta trocar nome para que programa tenha êxito

Em 2023, a então ministra da Saúde, Nísia Trindade, lançou o Programa Nacional de Redução de Filas para consultas com especialistas. O orçamento inicial era de R$ 600 milhões. Em 2024, foram destinados R$ 1,2 bilhão para Estados e municípios. Previam-se mutirões para fazer a fila andar, mas pouco avançou.

Em 2025, o governo anunciou o Mais Acesso a Especialistas. Não deslanchou e esse teria sido um dos motivos para a queda da ministra, substituída por Alexandre Padilha.

Como os segurados do Sul continuam precisando ficar anos na fila para conseguir uma simples consulta com especialista, o governo resolveu mudar o nome para tentar tirar do papel a promessa de acabar com esse tormento.

Na sexta-feira, o programa foi relançado com o nome de Agora Tem Especialistas. Será que agora vai?

Não foi só o nome que trocou. No redesenho, o compromisso é aumentar o número de consultas, exames e cirurgias.

Uma das principais novidades desta nova versão é a inclusão de carretas superequipadas, que irão ao encontro de pacientes onde falta estrutura. Nas grandes cidades, a promessa é de fazer parcerias com a iniciativa privada para reduzir a fila e garantir resolutividade.

No lançamento, Lula definiu o programa como o sonho da sua vida e citou os ex-ministros a quem nos governos anteriores apelou para que garantissem uma segunda consulta com profissional especializado. 

PT sugere a Leite enviar recursos para a saúde

Deputados do PT querem que o governador Eduardo Leite redirecione para a saúde os R$ 136 milhões oferecidos pelo governo do Estado para a prorrogação das dívidas de produtores rurais. O valor foi sugerido por Leite na quarta-feira, antes de o Conselho Monetário Nacional confirmar o uso de recursos do Tesouro para a postergação, no dia seguinte.

A proposta do Piratini indicava utilizar recursos do Fundo Rio Grande (Funrigs) ou outra fonte compatível.

Agora que o governo federal garantiu a prorrogação, os petistas sugerem que Leite encaminhe o valor para enfrentar a crise nos hospitais gaúchos. Inicialmente, a sugestão partiu do deputado Paulo Pimenta, em um novo vídeo que integra o embate digital que travou com Leite na quinta-feira.

- Já que o senhor tem tido tantas ideias sobre o uso do Funrigs, coloque esse recurso para a saúde da Região Metropolitana que vive uma crise estrutural - propôs. _

Rossetto embarca na proposta

Na tarde de sexta, o deputado Miguel Rossetto embarcou na proposta e encaminhou ofício ao governo estadual com a mesma sugestão de Pimenta.

- Não enxergo nenhum motivo mais relevante, nenhum tema mais urgente - disse.

Em nota, a Casa Civil do RS afirmou que a sugestão "mistura os assuntos para mudar o foco da discussão". A pasta diz que vai discutir o tema com a Famurs. 

POLÍTICA E PODER


31 de Maio de 2025
INFORME ESPECIAL- Vitor Netto

Brasil em 133º na participação feminina na política

Dados do estudo Mulheres na Política: 2025, realizado pela União Interparlamentar (UIP) e ONU Mulheres, revelam que o Brasil ocupa a 133ª posição no ranking global de representação parlamentar feminina e a 53ª posição em representação ministerial.

Conforme os números atualizados em 1º de janeiro de 2025, as mulheres representam 18,1% da Câmara dos Deputados (93 de 513 parlamentares) e 19,8% do Senado (16 de 81).

Os países com maior participação feminina no parlamento são Ruanda, Cuba, Nicarágua, México, Andorra e Emirados Árabes Unidos. O Brasil aparece atrás de nações como Etiópia, Senegal, Namíbia, Uzbequistão, Suriname, Serra Leoa, Iraque, Lituânia, Israel e Arábia Saudita.

No âmbito ministerial, o cenário é mais favorável: o Brasil ocupa a 53ª posição, com 10 das 31 pastas ministeriais comandadas por mulheres (32,5% do total). Os países líderes são Nicarágua, Finlândia, Islândia, Liechtenstein e Estônia.

Cenário global

No cenário global, a presença feminina nos parlamentos aumentou 0,3% em relação a 2024, alcançando 27,2%. Já nos cargos ministeriais, houve redução de 0,4%. A média mundial mostra 27,2% de representação feminina nas Câmaras e 27,4% nos Senados.

Segundo a ONU Mulheres, em 2025 apenas 25 países têm mulheres como chefes de Estado ou de governo, sendo 12 deles na Europa. Os dados indicam também que 11,9% dos países têm mulheres como chefes de Estado e 8,3% como chefes de governo. Na representatividade dos gabinetes ministeriais, as mulheres ocupam 22,9% dos cargos em todo o mundo.

O estudo também revela a distribuição por áreas ministeriais com maior participação feminina: mulheres e igualdade de gênero (87%), assuntos familiares e infantis (71%) e inclusão social e desenvolvimento (56%). Os menores índices são em religião (2%), transporte (13%) e defesa (13%). _

"Ele vai voltar", diz Trump em encontro com Elon Musk

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o empresário Elon Musk se encontraram no Salão Oval da Casa Branca nesta sexta-feira. A reunião ocorreu após o anúncio da saída do bilionário do Departamento de Eficiência Governamental nos EUA - o Doge.

- Musk não está indo embora do governo. Ele vai voltar, eu tenho um pressentimento. O Doge é o bebê dele - afirmou Trump.

A reunião foi recheada de afagos por ambos os lados. O que já era apontado por analistas se confirmou: apesar de Musk deixar o governo, não cortará todos os vínculos com o presidente.

- Espero seguir sendo um amigo e conselheiro do presidente, quero continuar apoiando a equipe do Doge - disse Musk.

Trump parabenizou o trabalho do empresário frente ao departamento:

- É um dos maiores líderes que o mundo já produziu. Ele tem muitos talentos que estão à disposição da nossa nação. Ele trabalhou no maior programa de reforma governamental. Os números são substanciais, mas serão ainda mais.

Musk, que ficou 128 dias no cargo, agradeceu ao presidente.

- Minha época como ministro foi muito especial. (...) Confio que, com o passar do tempo, veremos economias e a redução de trilhões de dólares em desperdício - disse o empresário. _

Presidente de Harvard defende estudantes estrangeiros

Dias após a ofensiva de Donald Trump de proibir a presença de estudantes estrangeiros em Harvard, o presidente da instituição, Alan M. Garber, defendeu a presença de alunos internacionais durante discurso na cerimônia de formatura da universidade na quinta-feira.

- E bem-vindos, membros da turma de 2025. Membros da turma de 2025 da mesma rua, de todo o país e do mundo todo. Em todo o mundo, como deve ser - disse, iniciando o discurso.

O presidente da universidade foi ovacionado em diversos momentos. Apesar de não citar nominalmente Trump, determinados pontos do discurso foram analisados como indicativos de respostas ao republicano.

Resistência ao presidente

Economista e médico, Garber se tornou presidente da escola em agosto de 2024 e segue no cargo até 2027. Ele tem sido voz ativa e símbolo de resistência desde o início do ano, quando Trump cortou verbas de Harvard.

Em abril, por exemplo, o presidente americano cortou bilhões em repasses federais para instituições de ensino. No caso de Harvard, o corte foi de US$ 2 bilhões. _

De olho roxo

Durante o encontro, um fato chamou a atenção: o bilionário Elon Musk, proprietário de empresas como X, Tesla e Starlink, estava com o olho direito roxo.

Questionado, disse que o ferimento foi causado pelo filho, X Æ A-Xii, de cinco anos, em uma brincadeira.

- Eu disse para ele: "Vai e me dá um soco na cara". E ele deu - contou aos jornalistas.

O bilionário ainda fez brincadeiras diante do possível tapa que o presidente da França, Emmanuel Macron, recebeu da esposa. Musk disse: "Não estava em nenhum lugar próximo da França". 

INFORME ESPECIAL


30 de Maio de 2025
CARPINEJAR

É complicado

Quando alguém não quer conversar, não está a fim de prosa nem de verso, declara: "É complicado". É a senha irônica, cética e realista de quem busca se retirar. O código morse da indiferença. O "aham" disfarçado de palavras. A réplica universal para não se comprometer. A fuga polida da nossa época. Parece estar entrando no papo, porém anseia ir embora.

Não é que a pessoa não esteja ouvindo - é que ela não pretende continuar ouvindo. Gostaria de se ausentar dali no próximo minuto. É uma promessa de abstenção.

Não adianta discursar para ela, não adianta argumentar ou chamar atenção. Guarde sua saliva. Ela será uma parede. Repetirá "É complicado" até você se dar conta.

"É complicado" traz uma falsa esperança. Parece que o emissor está concordando com você, mas não se propõe a procurar uma solução junto. Não se sente confortável para se posicionar. Talvez perceba uma falta de confiança na relação. Ou carregue um medo de se envolver à toa em polêmicas. Ou veja grandes riscos de ser mal interpretado ou de desembocar numa rua sem saída de algum extremismo ideológico.

Existe uma economia do tempo, um racionamento da energia. Uma percepção de que será inútil expor considerações pessoais ou informações científicas: o outro lado já está decidido.

Notou que, se confessar o seu ponto de vista, não sairá mais do embate. Não conseguirá mais se despedir. Apenas se poupa de dar sua opinião. Demonstra preguiça com aquele encontro. Não deseja se aprofundar no assunto. Tenta evitar o falatório desnecessário.

É uma forma educada de manifestar que não há interesse, ou que não haverá nenhuma resposta direta.

Pressentiu que não ocorreram empatia, conexão, afinidades. Ou inclusive identificou confusão nos sentimentos do interlocutor, pouca clareza em suas intenções. E então profere a sentença.

A expressão pode ser a constatação de estar diante de um chato, ou de um inoportuno, ou de um fofoqueiro, ou de um tipo que já se mostra absolutamente indiscreto.

Trata-se de uma estratégia moderna de dispersão. Um recurso de linguagem da isenção, para permanecer em cima do muro.

- O que acha do tarifaço do Trump?

- É complicado.

- Como analisa o rombo da Previdência?

- É complicado.

- Como reage à alta dos juros no Brasil?

- É complicado.

- A dívida pública está fora de controle?

- É complicado.

- E esse dólar, jamais vai baixar?

- É complicado.

- Vai ter reforma tributária de verdade ou só maquiagem?

- É complicado.

- A China vai mesmo dominar o mundo até 2050?

- É complicado.

- A inteligência artificial substituirá os jornalistas?

- É complicado.

- Relacionamento aberto funciona?

- É complicado.

- Cancelamento tem poder de cancelar alguém para sempre?

- É complicado.

- Ainda temos tempo de salvar o planeta?

- É complicado.

- Quanto mais durará a guerra na Ucrânia?

- É complicado.

- Por que a influenciadora Virgínia Fonseca e o cantor sertanejo Zé Felipe se separaram?

- É complicado.

- Por que toda música viral no TikTok começa com "Cê acredita"?

- É complicado.

Nunca são perguntas inofensivas. São uma cilada: prepare-se, que lá vem tese.

O complicado cabe para tudo- para não dizer nada.

Aliás, quem você acha que ganhará as próximas eleições presidenciais no Brasil? 

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30 de Maio de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Pressão cresce, e Haddad fica entre mar e rochedo

Depois de alcançar a mínima de R$ 5,645 durante o dia, o dólar moderou a queda diante do agravamento do impasse em torno do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Fechou com baixa de 0,5% ontem, para R$ 5,666. A pressão cresceu com o ultimato do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos- PB), de segurar só por 10 dias a tentativa de derrubar o decreto que elevou as alíquotas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse de que não havia alternativa.

O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, afirmou que eventual derrubada do decreto do IOF, com arrecadação prevista de cerca de R$ 19 bilhões, comprometeria todo o Minha Casa, Minha Vida, mais investimentos do Ministério da Defesa. No entanto, afirmou que a equipe econômica vai buscar, em 10 dias, "construir uma solução, para dar uma resposta à altura do problema". Afirmou que teria "soluções estruturais para a situação fiscal que o país enfrenta". Segundo Haddad, foi o que pediram Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Detalhe: em dezembro passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros palacianos fecharam a porta para as "soluções estruturais".

O "sofrimento" do ministro

Motta pediu a presença de Lula na discussão de alternativas. Sugeriu opções, como revisão dos benefícios fiscais - tão polêmica como aumento de imposto - e a taxação das bets para compensar a eventual revogação do reajuste do IOF. Alertou, ainda, que seria um "equívoco" o governo recorrer ao Judiciário para sustentar a medida em caso de derrubada no Congresso.

Com forte especulação sobre perda de força de Haddad, o ministro da Fazenda acompanhou Lula em evento e desabafou:

- Servir ao governo do presidente Lula é sempre uma coisa interessante. Por mais que você sofra com o tanto que você é criticado (...), tem o dia de hoje para apagar todo o sofrimento e a gente celebrar a vida de vocês.

Lula fez um afago, mas não deu "solução estrutural". _

As entregas e as perdas de Musk

O balanço da passagem do bilionário Elon Musk pelo governo dos EUA como chefe do "Departamento de Eficiência Governamental" foi mesmo uma piada. De mau gosto. Como o próprio Musk havia anunciado, foi "extremamente trágico" para milhares de americanos demitidos e centenas de programas de ajuda emergencial a países pobres ou de renda média, como o Brasil, interrompidos. E não parece sequer ter sido "extremamente divertido" para ele, como pretendia.

Para lembrar, a sigla em inglês do "departamento" de Musk era Doge, nome da memecoin que tem como símbolo um cão da raça shiba inu, a preferida de Musk. A pretensão do bilionário era cortar US$ 2 trilhões em despesas. No balanço mais recente, a estimativa era de redução de US$ 160 bilhões, mas essa conta não deduz os custos provocados pelas demissões. Embora seja verdade que o custo dos cortes só pesa uma vez, enquanto a remoção da despesa permanece, a ação arbitrária e caótica de Musk não provoca inveja nem dos maiores defensores de ajustes fiscais. Não por acaso, a saída ocorre logo depois que o bilionário explicitou decepção com a "big, beautiful bill", que concedeu bilhões de dólares em renúncia fiscal.

Enquanto cortava bilhões do orçamento americano, Musk também viu os lucros da Tesla encolherem algumas centenas de milhões. No primeiro trimestre, o resultado despencou de US$ 1,4 bilhão em 2024 para US$ 409 milhões neste ano.

Conforme o Bloomberg Billionaires Index, Musk havia perdido US$ 121 bilhões - para comparar, o PIB da Eslováquia - de sua fortuna pessoal até o mês passado. Suas ações na passagem pelo governo dos EUA provocaram boicote à marca Tesla, especialmente na Europa. E o tarifaço do "chefe" Trump corroeu mais um pedaço do valor de mercado de seus negócios. Nem sua queridinha dogecoin escapou: em seis meses, acumula perda de 48,5%. _

Aporte de fundo em startup

Um aporte de R$ 5 milhões vai dar largada a fundo de R$ 300 milhões na Região Sul. A Clínica Experts, startup de Lajeado que faz gestão de clínicas de saúde e prestadores de serviços, é a primeira gaúcha a captar recursos com o Criatec 4. O fundo de capital tem participação do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e Badesul e é destinado a projetos de inovação.

Com cerca de 5,5 mil clientes em 12 países, a Clínica Experts prevê investir os R$ 5 milhões em novas funcionalidades para sua plataforma, como soluções de pagamento. A ferramenta já pode ser usada para agendamento, cadastro de pacientes e financeiro. Conforme o fundador e CEO da Clínica Experts, Tiago Mário, a previsão é chegar a dezembro com receita recorrente mensal de R$ 2,2 milhões, resultado de salto para 12 mil clientes. 

Tarifaço de Trump treme, mas não cai

Bolsas subiram na Ásia e nos EUA, ontem, depois que o Tribunal de Comércio Internacional bloqueou o tarifaço do presidente dos EUA. Conforme a decisão, Donald Trump extrapolou sua autoridade ao impor tarifas gerais sobre importações. A Casa Branca recorreu e, antes do final do dia, o tribunal federal de apelações dos EUA restaurou a principal arma da guerra fiscal.

O tribunal de comércio havia afirmado que a definição constitucional é de que Congresso tem "autoridade exclusiva" para regular o comércio, o que não poderia ser anulado pelos poderes emergenciais do presidente para proteger a economia dos EUA.

A ação havia sido movida pelo Liberty Justice Center em nome de cinco pequenas importadoras afetadas pelas tarifas. Há ao menos outros sete processos contestando a guerra comercial de Trump, incluindo ações movidas por 13 Estados e grupos de empresas.

Ao justificar a medida, os três juízes que compõem o grupo afirmam que "o tribunal não se pronuncia sobre a sensatez ou a provável eficácia do uso de tarifas pelo presidente. Esse uso é inadmissível não porque seja imprudente ou ineficaz, mas porque (a Constituição) não o permite". Trump ganhou a batalha, mas a abertura do caminho judicial pode inspirar outras iniciativas. _

bC dos EUA acentua independência

No primeiro encontro presencial entre Donald Trump e o presidente do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), Jerome Powell, o presidente dos EUA afirmou que seria um "erro" não reduzir o juro básico no país. Em comunicado publicado no site do Fed, Powell diz não ter comentado com Trump suas expectativas para a política monetária. E fez questão de acrescentar "exceto para enfatizar que o rumo da política dependerá inteiramente das informações econômicas que vierem a público e do que elas indicarem para as perspectivas econômicas". Ou seja, que o BC dos EUA seguirá independente.

GPS DA ECONOMIA

30 de Maio de 2025
INFORME ESPECIAL - Vitor Netto

Por que Elon Musk deixou a Casa Branca?

O governo de Donald Trump sofreu, na quarta-feira, a primeira baixa entre seus principais nomes. O bilionário Elon Musk deixou a chefia do Departamento de Eficiência Governamental - o Doge. O empresário havia investido muito dinheiro na campanha trumpista - foram US$ 288 milhões, segundo informações do jornal Washington Post.

O papel do Doge era reduzir a burocracia dentro do governo ao cortar gastos e cargos. O professor de Direito e Relações Internacionais da Universidade La Salle, Fabrício Pontin, explica que, apesar de o cargo ter sido criado por Trump, o trabalho de Musk criou conflitos com grupos aliados do republicano e desgastou o empresário:

- Nos últimos meses, vimos muita gente dentro do governo, o pessoal da velha guarda, puro sangue, atacando Musk e a atuação (do Doge) como um órgão que dificultava fazer a política populista que esses caras defendem para o Trump.

Também na quarta-feira, Musk criticou em público políticas implementadas pelo presidente dos EUA que dificultariam o seu trabalho. É um dos estilos de Trump: colocar os aliados a brigarem entre si, aponta Pontin.

- Não vejo como surpresa, não é algo inesperado, mas é significativo para a forma como Trump conduz a política interna - completa.

Musk, entretanto, não deve sumir do governo do republicano, segundo o professor:

- Trump não quer Musk como um adversário.

O presidente já havia revelado a membros do seu gabinete a intenção de Musk de sair do cargo em abril. Além disso, os cinco meses de governo não "compensam" o investimento que o empresário fez na campanha.

Impactos para o Brasil

Musk é hoje um dos principais atores nas discussões sobre liberdade de expressão e regulação das redes sociais. Seus embates públicos já atingiram o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Sem o bilionário, o foco do governo Trump pode mudar.

- A saída dele pode significar que isso não será mais uma prioridade tão grande - diz Pontin.

Musk também era o principal aliado do presidente Javier Milei dentro da Casa Branca, o que causa incertezas sobre as relações dos governos americano e argentino. _

"Trump sempre amarela"

A sigla Taco tem deixado o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, irritado. A expressão significa, em inglês, "Trump Always Chickens Out". Na tradução literal para o português, "chicken" significa galinha, já o termo "chicken out" pode ser interpretado como "amarelar". Então, a frase teria a conotação de "Trump Sempre Amarela" ou "Trump sempre se acovarda".

O termo foi usado por colunista do jornal Financial Times, na segunda-feira, em artigo no qual comentou o adiamento da aplicação de tarifas à União Europeia (UE), anunciadas pelo presidente. Rapidamente, a sigla tomou as redes sociais, até que, durante uma coletiva de imprensa na quarta-feira, uma jornalista disse a Trump que analistas de Wall Street estavam usando o termo para se referir às idas e vindas nas tarifas.

- Eu amarelo? Nunca ouvi isso - respondeu o presidente.

Trump rebateu, citando que era a Europa que pedia tempo para negociação:

- Você chama isso de amarelar? Isso é negociação. (...) Geralmente, ouço o contrário, que estou sendo muito duro. 

Marina Silva recebe apoio de deputadas de esquerda

Obrigada pelo gesto, que se transforma em um ato de mulheres que sei que passam pelo mesmo em diferentes realidades. Vocês estão no cotidiano do parlamento, onde isso acontece de forma explícita e sutil, e, às vezes, é até da pior forma, porque é igualmente violenta, desrespeitosa, mas ninguém vê ou não percebe - disse Marina.

O encontro foi organizado pela coordenadora-geral dos Direitos da Mulher da Secretaria da Mulher da Câmara, deputada Jack Rocha (PT-ES), e reuniu parlamentares de partidos da esquerda.

- Você é essa voz do Brasil, mas não é uma voz sozinha. Nós estamos com você o tempo todo, em pensamento e espírito, no sentido da defesa do meio ambiente, de quem ali habita, da nossa fauna, da nossa flora, da nossa grande biodiversidade que existe no Brasil, dos nossos biomas, seja na Floresta Amazônica ou na Mata Atlântica ou no Cerrado ou qualquer outro tipo de espaço - declarou Jack.

Além das deputadas, o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), e o coordenador da Frente Ambientalista da Câmara, deputado Nilto Tatto (PT-SP), também participaram do ato. _

Deputado Por Um Dia recebe inscrições

As inscrições para a segunda edição de 2025 do programa "Deputado Por Um Dia", iniciativa da Escola do Legislativo Deputado Romildo Bolzan da Assembleia Legislativa do RS, se encerram amanhã.

Este ano, pelos 190 anos da Assembleia, são duas edições, uma por semestre. Na primeira, em 16 de junho, participarão as escolas: Instituto Estadual de Educação Professor Isaías (Santiago); Escola Estadual de Ensino Fundamental Eveline Fonseca de Oliveira (Candelária); Escola Municipal de Ensino Fundamental Vereador Antônio Giúdice (Porto Alegre); Escola Municipal de Ensino Fundamental Augusto Meyer (Anta Gorda); Escola Municipal de Ensino Fundamental Otaviano Paixão Coelho (Lagoão).

As inscrições para o segundo semestre estão abertas no site ww2.al.rs.gov.br/escola. A cada edição, são selecionadas cinco escolas públicas ou privadas por sorteio. A iniciativa promove ações para que estudantes do 7º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio vivenciem o cotidiano do Legislativo estadual. 

INFORME ESPECIAL

sexta-feira, 30 de maio de 2025

Punição contra Alexandre de Moraes seria inédita

Algemas

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, está sendo alvo de uma ofensiva que tenta enquadrá-lo, nos Estados Unidos, com base em uma lei que jamais foi usada contra ministros de Supremas Cortes de outros países. Levantamento em 2.250 registros de sanções aplicadas pela Lei Global Magnitsky, entre 2012 e 2025, mostra que as pessoas-alvo foram, pela ordem: (1) autoridades de regimes autoritários; (2) integrantes de grupos terroristas; (3) criminosos que lavam dinheiro; (4) agentes de segurança acusados de assassinatos em série.

A Lei Magnitsky é uma norma criada a partir de projeto de lei bipartidário. Ele foi aprovado pelo Congresso dos EUA e sancionado por Barack Obama em dezembro de 2012. Segundo registros jornalísticos da época, "a intenção primeira foi a de punir autoridades russas responsáveis pela morte do advogado tributário russo Sergei Magnitsky em uma prisão de Moscou em 2009". A lei - de aplicação global - autoriza o governo dos EUA a punir aqueles considerados "violadores dos direitos humanos". As punições: congelar seus ativos e proibi-los de entrar no país estadunidense.

Tal norma se tornou agora, 13 anos depois, a principal estratégia de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro para tentar enquadrar Alexandre de Moraes em cortes internacionais. A investida ganhou novo fôlego após o chefe do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, afirmar, na semana passada, que o governo Donald Trump "tem grandes possibilidades" de aplicar sanções contra o ministro do STF com base na mencionada norma.

Levantamento publicado anteontem pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra que, entre os casos emblemáticos a partir da sanção da lei, estão: (1) assessores diretos do príncipe Mohammed bin Salman, ditador da Arábia Saudita, responsabilizados pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi; (2) o ditador da Chechênia, Ramzan Kadyrov, acusado de execuções extrajudiciais; (3) integrantes de grupos terroristas do Iraque e do Afeganistão; (4) dirigentes do Partido Comunista Chinês punidos por sistemáticas políticas de repressão no país.

Na América do Sul, figuram membros de facções criminosas com conexões no Brasil, envolvidos em lavagem de dinheiro e evasão de divisas, além de Horacio Cortes, ex-presidente do Paraguai, por envolvimento em esquemas de corrupção e lavagem. O caso brasileiro todavia rompe com o padrão histórico.

O cientista político Guilherme Casarões, que também é professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas/SP, analisa que uma eventual sanção contra Alexandre de Moraes com base na Lei Global Magnitsky seria inédita desde a criação da norma. "Atingir ministros de Supremas Cortes, e mais do que isso, um ministro da instituição máxima do Judiciário brasileiro, é a novidade na aplicação desta lei. Seria a primeira vez desde a sua criação", afirma.

O professor Casarões ainda acrescenta já existirem precedentes dos EUA alcançando juízes de cortes superiores de outros países. O episódio mais emblemático envolveu o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela. Seus membros foram sancionados em 2017 após permitirem ao ditador Nicolás Maduro governar por decreto e dissolver a Assembleia Nacional. Tais punições, no entanto, foram aplicadas com base em uma ordem executiva específica, justamente, do então presidente Donald Trump (2017/2021), criada exclusivamente para lidar com a crise institucional venezuelana. 

"Devagar se vai ao longe"

Já completou cinco anos de tramitação na Justiça estadual gaúcha, uma ação popular contra os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) Marco Peixoto, Iradir Pietroski e Alexandre Postal. Eles foram condenados em primeiro e segundo graus à devolução - ao Estado do Rio Grande do Sul - de dinheiro recebido indevidamente a título de supostas licenças-prêmios. As quantias individuais são R$ 447.943, R$ 300.593 e R$ 471.519, respectivamente. Elas totalizam R$ 1.220.055. Cálculos extraoficiais indicam a quantia atualizada de R$ 1,7 milhão.

A sentença determinando a devolução é de julho de 2022. O segundo grau confirmou a condenação em 19 de dezembro de 2024. Os três conselheiros réus interpuseram embargos de declaração. O Espaço Vital questionou o Departamento de Imprensa do TJ-RS sobre o "lustro" (em latim: "lustrum"), que é uma medida de tempo de um período de cinco anos, correspondendo à metade de uma década. Perguntou-se sobre a data do próximo julgamento.

A resposta foi econômica no esclarecimento: "Os embargos de declaração ainda estão sendo processados. Assim que estiverem prontos para julgamento, serão pautados". (Processo nº 5014699-48.2020.8.21.0001).

 "Devagar se vai ao longe"

A frase acima era muito utilizada antigamente, quando se queria dizer que não adiantaria atropelar os fatos, porque poderia haver tropeço. Na prestação jurisdicional trata-se de uma inverdade: cada dia de demora é um irrecuperável dia perdido. Geralmente os réus se beneficiam. O relator do recurso é o desembargador Leonel Pires Ohlweiler, da 3ª Câmara Cível.

"Justiça tardia é, na prática, uma forma de injustiça" - escreveu Ruy Barbosa, em "Oração aos Moços", 1921.

Criopreservação de óvulos

Decisão proferida na 42ª Vara Cível de São Paulo (SP) determinou que a Bradesco Saúde custeie gastos relacionados à manutenção dos óvulos de uma mulher que está em tratamento quimioterápico. Ela foi diagnosticada com câncer de mama. O julgado também determina o ressarcimento dos valores já dispendidos pela consumidora durante procedimento de extração e congelamento em clínica particular.

A sentença traz uma crítica à operadora de plano de saúde: "A negativa do direito à criopreservação de óvulos - como etapa anterior de tratamento de quimioterapia - revela a pouca atenção da ré à questão de gênero, cujas desigualdades são explícitas em um país, como o Brasil, marcado pelas mais diversas espécies de violência". (Processo nº 1115592-32.2024.8.26.0100).

Acréscimo de atribuições

O TST acolheu recurso da professora Silvia Regina Barrile, contra o Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, de Bauru (SP), e reconheceu o direito dela a horas extras realizadas em plataforma digital ("Syllabus"), de ensino à distância. Segundo o acórdão, "a mudança aumentou as atribuições e a carga horária da professora". Ela atendia alunos até em fins de semana.

Ela dava aulas para os cursos de fisioterapia e enfermagem desde 1996. Em 2008, foi implantado novo modelo pedagógico, informatizado, baseado em banco de dados alimentado pelos professores. As atividades, a partir de então, consistiam em preparar o material, atender aos requisitos técnicos da plataforma, frequência e material de ensino, como provas e exercícios.

O julgado arrematou definindo que "a nova carga horária não se confunde com a preparação do conteúdo a ser ministrado". Além disso, a interação com os alunos no ambiente virtual para resolução de dúvidas se dava fora do horário das aulas. (Processo nº 10866-19.2018.5.15.0091).

Proteção contra ameaças

A OAB/RS oficiou à bancada federal gaúcha por imediatas ações legislativas que garantam maior proteção contra ameaças à advocacia. O projeto de lei nº 5.109/2023 - que estende medidas protetivas no exercício profissional - está em ritmo de tartaruga forense, aliás legislativa.

A Ordem pediu também a apresentação de um projeto de lei que inclua a advocacia privada na Lei nº 15.134/2025, aumentando a pena em caso de homicídio. Por enquanto só foram reconhecidas como "atividade de risco permanente" as atribuições inerentes ao Poder Judiciário, ao Ministério Público e à Defensoria Pública.

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Educação e união femininana sociedade indiana

a menina e a pipa

Jaime Cimenti

A menina e a pipa (Editora Intrínseca, 192 páginas, R$ 59,90, tradução de Sofia Soter) é o novo romance da consagrada escritora, cineasta, roteirista e atriz francesa Laetitia Colombani, que publicou o romance best-seller A trança, sucesso editorial na França com mais de 1.4 milhões de exemplares vendidos e adaptado para o cinema. Laetitia publicou também As vitoriosas. Os dois livros foram lançados no Brasil pela Intrínseca.

A menina e a pipa apresenta uma protagonista, a professora Léna, que tenta fugir de si mesma após a morte trágica do marido. Ela se exila num pequeno vilarejo na Costa do Coromandel, no extremo oriente da Índia. Ela encontra alento no ritual de tomar banho de mar pelas manhãs, quando só os pescadores estão de pé.

Certo dia, por um descuido proposital ou mero infortúnio, a correnteza a leva para o fundo e Léna começa a se afogar. Como numa cena orquestrada pelo destino, ela é salva por uma menina que costumava ver na praia, brincando com uma pequena pipa. A menina pediu ajuda para a Brigada Vermelha, um grupo de mulheres que praticam autodefesa e treinavam ali perto. Elas faziam isso para tentar se defender da violência de gênero no país. Elas salvaram Léna.

Léna, agradecida, experiente como professora, em retribuição decide ensinar Preeti, líder da Brigada, e Lalita, a menina da pipa, a ler e escrever. Léna queria desvendar o que havia atrás do silêncio absoluto de Lalita, cujo tutor não queria deixá-la ter aulas. Ele dependia dela no restaurante da família e os costumes indianos são contra a educação feminina, especialmente das dalits, a camada social mais baixa no sistema de castas indiano.

Depois dos acontecimentos inesperados, Léna vê novos propósitos para sua vida e tem a ideia de abrir uma escola no vilarejo, com o apoio da Brigada Vermelha e de alguns moradores. Nem todos são a favor de Léna, que enfrentará grandes desafios. Como se vê, o romance é uma história inspiradora e 

Otelo (Elo Editora, 130 páginas, R$ 67,00), tragédia do genial William Shakespeare, adaptada em prosa por Flávia Côrtes, escritora e roteirista , com modernas ilustrações de Rodrigo Mafra, traz o general mouro Otelo que, em Veneza, a serviço, conhece e se casa com a nobre Desdêmona. Eles vão para a Ilha de Chipre. Lá se envolverão com o alferes Iago e sua mulher Emília, por vários interesses.

Todos os pardais do mundo (Memorabilia, 134 páginas), de Márcio Grings, escritor, colunista de jornais, radialista e poeta, traz 260 Haicais. Edição bilíngue, com apresentações de Daniela Barbosa e Ronaldo Lippold. "Santa Maria, / sem praias ou monumentos / Os mais belos montes" e "Com dó do adversário, / Subo no ringue / & levo um soco no olho" estão na obra.

Epicuro - Carta sobre a felicidade e outros escritos (L&PM Pocket, 176 páginas, R$ 32,90), com tradução do grego, apresentação , comentários e notas de David Bezerra, traz um dos maiores pensadores gregos. Ele fala de controle de si, ou dos desejos, de conhecimento das regras da natureza, de amizade, justiça e simplicidade. O epicurismo segue válido até nossos dias e refere que o objetivo maior de pensar é ser feliz. 

Saudades do verão

O frio, o calor, as estações, a lua e suas fases, as estrelas e as constelações, o sol e a chuva existem nos calendários de papel, na real e dentro de nós. Dentro de nós, essas coisas todas, muitas vezes, aparecem fora das épocas ou dos dias dos calendários oficiais. Nossas vidas não são tão certinhas e arrumadinhas como as notas das Quatro Estações de Vivaldi.

Esse verão, por exemplo, oficialmente começou dia 21 de dezembro de 2024 e terminou dia 21 de março no nosso Hemisfério Sul. Foi um verão caliente, acho que patrocinado pelas fabricantes de aparelhos de ar-condicionado. Como acontece há alguns anos, o ano no Brasil não começou só depois do Carnaval. As notícias preocupantes, além de algumas boas, não deram folga nem no Natal e fim de ano.

Depois das sagradas orgias natalinas, do pilequinho e das eternas promessas do Réveillon, aí é que o verão realmente começava, dentro e fora de nossas cabeças. Não valia o calendário. Nos primeiros dias de janeiro a gente vestia as fantasias brancas da imortal e profissional esperança patropi, cancelava todos os compromissos possíveis, engavetava os problemas e, se possível, tirava férias, pendurava as dívidas velhas e deixava envelhecer as novas. Entrevistas de emprego, noivado e casamento ficavam para mais adiante.

A gente respirava o ar do Ano Novo e pensava que no Brasil, graças a Deus, a coisa toda ia se resolver depois do Carnaval. Quem podia ia para o Rio de Janeiro e, naquela época dourada, ficava na casa de alguma tia em Copacabana, curtia praia, Carnaval de rua e as maravilhas daquele Rio ainda não tão dominado pela criminalidade.

Nesse verão nem nos domingos de manhã o escalafobético e estonteante noticiário político-econômico-sexual deu folga. Escândalo de hoje enrolado no jornal de hoje mesmo e bombas em cima de bombas nas redes antissociais. Velhas e terríveis novidades da política e da economia, crises e desastres não aguardaram o Carnaval e ficaram aí estragando as festas, as praias, serras, os churrascos das lajes e das mansões nos condomínios e coberturas.

Antes a gente pegava um fusquinha, umas roupinhas leves, uns mantimentos, um calção desbotado, um velho caniço e um tubo de Paraqueimol e ia para Pinhal, Cidreira, Tramandaí, Imbé, Capão da Canoa e Torres para um veraneio básico: chalé, mar, sol, inofensivas tatuíras, areia, banana, puxa-puxa, cachacinha, peixe, abacaxi, segurança, calmaria, aluguel de pangarés com direito a fotos, rede e artesanato local, sonho e rapaduras em Santo Antônio da Patrulha, controle de velocidade light nas estradas, curvas, passarinhos, árvores e pão quente de Glorinha, na linda e serpenteante estrada velha.

Lua, estrelas, sol, mar, nuvens, alguma chuva, lua, estrelas... O tempo, o mar e o verão não tinham pressa. O fardo do jornal Folha da Tarde, a vespertina, era jogado nos cômoros a partir do aviãozinho teco-teco. As noticias leves de verão pousavam preguiçosas, calmas, para não atrapalhar o sossego dos veranistas, que naqueles tempos queriam apenas sossego, como na futura e gostosa canção do inesquecível Tim Maia.

A propósito...

Neste início de primavera 2025, diante de tudo, é bom lembrar, sem saudosismo demais, dos verões de 1950-2000 e pensar que o tempo é só um ponto de vista dos relógios, como versejou o Mario Quintana. O melhor mês nas praias segue sendo março. Praias ensolaradas desertas, casas, apartamentos e hotéis hospedando a brisa... E la nave va! Vida e estações seguem sem se preocupar com números e rótulos. Dentro de nós as quatro estações vão e vem, como ondas do mar, num eterno retorno, não se importando se é preto ou vermelho na folhinha.

(Jaime Cimenti)