terça-feira, 13 de maio de 2025



13 de Maio de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Redução na incerteza faz dólar e bolsas subirem

Ao menos por 90 dias, Estados Unidos e China vão fazer uma trégua na guerra comercial, anunciaram ontem representantes americanos e uma nota chinesa, depois de dois dias de negociações em Genebra, na Suíça - ironicamente, na cidade que é sede da fragilizada Organização Mundial do Comércio (OMC), ignorada por Donald Trump.

Conforme o anúncio, nesse período os EUA vão reduzir a cobrança de imposto de importação da China de 145% para 30%, enquanto os chineses deixarão de cobrar 125% para aplicar 10%. Ainda são níveis muito além da normalidade.

As principais bolsas americanas também subiram, acima da média: 2,81% no índice mais tradicional (DJIA) e 3,26% no mais abrangente (S&P 500) da bolsa de Nova York e 4,35% na Nasdaq, de tecnologia. A chinesa Hang Seng, de Hong Kong, teve alta de 2,98%. O Ibovespa, no Brasil, não repetiu o entusiasmo e fechou com oscilação positiva mal visível de 0,04%. A valorização maior das bolsas e moeda americanas embute a percepção de que o manicômio tarifário de Donald Trump pode de fato passar por desmanicomização.

"Corrida contra o tempo"

A trégua sinaliza redução na incerteza, que havia alcançado picos históricos, com quebras sucessivas de recorde do ouro - era o último refúgio de porto seguro quando o dólar e os títulos do Tesouro dos EUA ameaçavam deixar de ser. O alívio é ilustrado pela queda de 3,46% na cotação do mineral precioso no dia do anúncio.

Na Comex, divisão de metais da Bolsa de Nova York, o contrato para entrega em junho encerrou o dia a US$ 3.228. O ouro só passou dos US$ 3 mil por onça troy depois do início da série de anúncios de aumento de tarifa pelos EUA.

Embora seja uma capitulação importante dos EUA na guerra comercial deflagrada com pompa e circunstância em 2 de abril, o acordo ainda não marca seu final. De lá para cá, empresas americanas perderam bilhões de dólares em valor de mercado, o PIB dos EUA caiu e o déficit comercial aumentou.

- O que aconteceu na verdade foi uma corrida contra o tempo para que os EUA não destruíssem a economia do país e, de quebra, de boa parte do mundo industrializado, antes do Natal deste ano - observa o economista e consultor econômico André Perfeito. _

Vendas gaúchas para a China caem 19%

Principal parceiro comercial do RS, a China está comprando menos produtos gaúchos neste ano. O acumulado de exportações para lá de janeiro a abril mostra diminuição de 19% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Os embarques, em valores totais, foram de US$ 1 bilhão para US$ 840,1 milhões, conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). É o pior resultado desde 2016, considerando só os primeiros quatro meses do ano.

O que provocou o declínio até abril foi a queda nos preços das commodities (matérias-primas), das quais o Brasil é grande exportador. Houve redução de 22%, em valores totais, nos envios de soja para a China, principal produto exportado em 2024.

- Já havia tendência de queda nos preços das commodities. Com as tarifas e a possibilidade de recessão americana, os preços caíram mais, afetando a soja - afirma Marcos Lélis, professor de Economia da Unisinos.

O que mais preocupa, complementa Lélis, são as exportações gaúchas de carne bovina para China terem desabado 92%. Foram de US$ 23,4 milhões, de janeiro a abril de 2024, para US$ 1,8 milhão, considerando o mesmo período neste ano.

O que pode ter ocorrido é um possível redirecionamento de comércio, já que as exportações gaúchas de carne bovina para os EUA, em valores totais, saltaram 590% - ou aumentaram sete vezes até abril em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Importações crescem

Enquanto as exportações gaúchas para China diminuíram até abril, houve aumento de embarques na via oposta. Os embarques, em valores totais, do país asiático para cá aumentaram 21%, de US$ 589,7 milhões para US$ 712,2 milhões. É o que faz setores da indústria nacional pedirem ao governo novos mecanismos de defesa. O temor é de "invasão" de produtos asiáticos, que têm porteira fechada para entrar no mercado americano. _

Braskem diz ter blindagem antitarifaço

Dona da maior parte do polo petroquímico de Triunfo, a Braskem afirma ter proteção contra a guerra tarifária deflagrada por Donald Trump. Com ativos industriais em diversas regiões do mundo, a gigante do setor químico tem cerca de 80% da produção nacional com venda concentrada no mercado doméstico, o que limita a parcela exportada e, portanto, impactada por tarifas.

- A Braskem tem posição privilegiada nos mercados em que atua, passando relativamente blindada em relação à toda discussão tarifária - afirmou o diretor financeiro da companhia, Felipe Jens, em apresentação de resultados do primeiro trimestre realizada ontem.

Conforme o CEO da Braskem, Roberto Ramos, a guerra comercial gerou "muita instabilidade e muitas dúvidas". Após as negociações entre EUA e China, Ramos prevê a retomada de "algum tipo de normalidade".

- No frigir dos ovos, depois de toda a arruaça, acho que pouca coisa vai restar. Ou seja, quem é competitivo vai continuar sendo competitivo. O dever de casa que temos de fazer fica inalterado.

A Braskem teve lucro líquido de R$ 698 milhões no primeiro trimestre deste ano, revertendo prejuízo de R$ 1,3 bilhão registrado no mesmo período do ano anterior.

Gás na expansão

Para reduzir os custos operacionais, a Braskem estuda utilizar mais gás em suas fábricas no Brasil, substituindo o uso de nafta como matéria-prima. Há duas alternativas para implementar o plano na operação de Triunfo, segundo Ramos: importar etano líquido e/ou usar propano, brasileiro ou argentino, com acesso via Lagoa dos Patos.

A taxa média de utilização da unidade - ou seja, quanto usa efetivamente da capacidade total - é de cerca de 65%, enquanto a nacional é de 74%. _

Ajuda para "desinundar" e faturamento duplicado

Depois de alugar, vender e emprestar 19 bombas que drenaram cerca de 20 bilhões de litros d?água durante a enchente de maio de 2024, a Higra apresentou seu resultado para o ano da cheia histórica: R$ 180 milhões de faturamento, o dobro do que o registrado em 2023.

A empresa de São Leopoldo produz bombas anfíbias, que, ao contrário da convencionais, podem ser submersas para retirar grandes volumes de água e detritos.

Durante a enchente, os equipamentos da Higra foram instalados em São Leopoldo, Novo Hamburgo, Canoas, Porto Alegre e Cachoeirinha.

Desde então, a empresa tem crescido mais rapidamente. Em novembro passado, fez a compra de uma planta para produção própria de motores e geradores molhados em Caxias do Sul, criando a Higra Motors. _

GPS DA ECONOMIA

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