
24 de Maio de 2025
CONEXÃO BRASÍLIA - Matheus Schuch
Sucessão de erros amplia desgaste
A estratégia do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em demonstrar compromisso com o equilíbrio fiscal foi por água abaixo, em boa parte pela postura de colegas de governo. O vazamento de informações sobre o aumento do IOF gerou mal-estar interno, ampliou a repercussão negativa junto à população e despertou série de erros que devem piorar ainda mais o ambiente político para o governo Lula.
Na quinta-feira à noite, logo após a confirmação do ajuste no IOF, a cúpula do Planalto se reuniu com o presidente Lula e decidiu que era necessário recuar parcialmente. A Haddad, que já estava fora de Brasília naquele momento, restou acatar.
Mas coube ao ministro, na manhã de sexta-feira, chamar a imprensa para tentar justificar a medida. A entrevista foi desconcertante. O titular da Fazenda tentou mostrar, sem sucesso, que o recuo era natural e que o aumento de alíquotas é, na verdade, uma recomposição ao patamar cobrado no governo passado. Não colou.
É verdade que não tem um jeito bom de anunciar aumento de impostos. Mas o dano à imagem do governo poderia ser minimizado se o roteiro pensado por Haddad fosse seguido à risca. A primeira etapa envolvia uma coletiva de imprensa para anunciar congelamento do orçamento da União bem acima das projeções de mercado, mostrando compromisso no cumprimento do arcabouço fiscal e disposição de cortar na carne.
Minutos antes do evento, porém, o ministro dos Transportes, Renan Filho, anunciou em entrevista o valor do aperto fiscal e a decisão de recompor parte da receita com o aumento de IOF.
Além de pegar a equipe econômica de surpresa, a declaração sem detalhamento deu margem para uma profusão de especulações. Já no início da entrevista sobre o congelamento, Haddad foi questionado sobre o aumento de impostos e não escondeu sua irritação. Reiterou que havia um acordo para que nenhum vazamento ocorresse e uma estratégia de divulgar a notícia no final da tarde, após o fechamento do mercado.
A falha no roteiro piorou logo depois, quando o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, admitiu à imprensa que Haddad havia discutido as medidas com o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo. De novo, Haddad tentou justificar que as conversas são rotineiras e se apressou em dizer que o chefe da autoridade monetária não tem responsabilidade alguma sobre as decisões da Fazenda.
Com os erros, o governo conseguiu piorar o que já era ruim. Haddad perdeu mais um ponto de credibilidade com investidores e o setor produtivo, ficou a desconfiança sobre a real independência do BC, e a oposição ganhou de bandeja mais uma crise para explorar.
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