
No centro do mundo
Gosto de mapas. Eles me ajudam a entender esse mundão redondo que trilhamos diariamente, até mesmo quando, pela lógica das representações gráficas, parecemos estar de cabeça para baixo. Também me permitem calcular roteiros quando vou a um endereço desconhecido ou localizar nações e cidades esquisitas onde jamais passarei.
Bela criação gráfica essa. Uma obra coletiva, pelo que sei: antes mesmo da invenção da escrita, nossos antepassados trogloditas já desenhavam mapas nas paredes de suas cavernas. Depois, os gregos antigos fizeram os seus desenhos geométricos e geográficos, os chineses acrescentaram seus traços peculiares e a cartografia mais elaborada ganhou impulso com as navegações portuguesas e espanholas. Cabral não chegou ao Brasil por acaso: o governo português queria saber quais eram as suas propriedades abaixo da linha imaginária do Tratado de Tordesilhas.
Os mapas são linhas imaginárias, mas, supostamente, representativas da realidade. Por isso, confesso que sinto um certo desconforto com aquele mapa-múndi redesenhado pelo IBGE para colocar o Brasil no centro do globo terrestre. A polêmica representação cartográfica foi apresentada outro dia pela ex-presidente Dilma Rousseff ao primeiro ministro chinês, alegadamente com o propósito de valorizar a imagem do nosso país no contexto geopolítico global.
No mapa-múndi tradicional, o Norte fica no topo de um globo aberto em duas fatias. Na nova representação do IBGE, o Sul vai para cima e a América do Sul aparece invertida, com a Argentina e o Chile espetados para o alto como uma torre. Se a população do Rio Grande do Sul escorregar planeta abaixo num eventual terremoto de desenho animado, não vai mais parar no Uruguai, mas sim em Santa Catarina - o que, a bem da verdade, já fazemos voluntariamente a cada verão.
Entendo que não chega a ser um absurdo colocar o Brasil no centro do mundo: se o planeta é esférico, cada povo pode imaginar o seu país onde melhor lhe aprouver. Mas que confunde, confunde. Tomara que o chinês tenha entendido a alegoria, pois ultimamente as lideranças mundiais andam demasiado sensíveis com questões geográficas.
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