
O segredo da longevidade
No início do mês, estive em São Sepé, na região central do Rio Grande do Sul, para a visita anual de aniversário do seu Ivo Vasconcelos, avô do meu marido. Ele completou 99 anos e celebrou com um animado baile na Capela São Francisco. Galeto, salada, arroz, massa caseira, batata-doce, aipim? O tradicional festival de carboidratos típico das festas do interior. Uma delícia. Mesas compridas, bancos lotados, muita conversa, risadas e causos. Seu Ivo, emocionado, recebeu os desejos de saúde, felicidade e boa colheita na lavoura da amizade, ao som do Parabéns Gaúcho, entoado com entusiasmo no salão.
Curiosa, perguntei a ele qual seria, afinal, o segredo para viver tanto e tão bem. Lúcido, bem de saúde e com limitações naturais da idade, segue morando na mesma casa onde criou os filhos e viveu com a esposa, falecida há quase 20 anos. Respondeu com simplicidade que é não exagerar. Cuidar da alimentação, manter horários para comer, trabalhar e dormir. Nada em excesso. O mesmo no caso de bebidas, que ele aconselha a não fazer "misturagem". Disciplina, sobriedade e leveza.
Recentemente, perdemos a irmã Inah Canabarro, aos 116 anos. Até então, era a mulher mais velha do mundo - e morava aqui no Rio Grande do Sul. Viveu grande parte da vida em um convento, longe dos holofotes, com uma rotina marcada pela simplicidade, fé e uma paz interior admirável. Gostava de chocolate e doce de leite, afinal, ninguém é de ferro. Mas seu ritmo era outro. Um estilo de vida que, mesmo soando antiquado aos olhos modernos, revela uma profunda conexão com a essência da existência.
Nesta semana, nos despedimos de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, aos 89 anos. Um homem de ideias simples, vida discreta e alma generosa, pelo que todos que conviveram com ele contam. Um raro caso de político que viveu com coerência entre discurso e prática. Cultivava afetos, trabalhava com propósito, ria com frequência, mantinha a mente ativa e o coração em paz.
Essas pessoas aparentemente têm algo em comum: não correram contra o tempo. Caminharam com ele. Fizeram da rotina uma aliada, não uma prisão. Encontraram sentido nas pequenas coisas, priorizaram os vínculos, valorizaram o agora. Conversaram. Tomaram um mate com quem gostam.
Talvez a longevidade verdadeira não esteja apenas nos anos vividos, mas na forma como vivemos cada um deles. Em tempos tão acelerados, essas histórias nos convidam a refletir sobre ter menos pressa e mais presença. Porque viver muito é bom. Mas viver bem? isso, sim, é extraordinário. Já disse David Coimbra: a vida é boa.
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