
Mauro Vieira presta contas no Senado
Pela quarta vez desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, esteve na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado. Em reunião ontem, o chanceler falou sobre o asilo concedido à ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia e a saída de venezuelanos da embaixada da Argentina em Caracas, entre outros assuntos.
- A senhora Heredia foi submetida a cirurgia grave recentemente, relacionada à coluna cervical, e está em recuperação. Ela também tem um filho menor de idade, que ficaria desassistido, tendo em vista que seu marido está detido. A concessão do asilo diplomático é prática tradicional do Brasil (...) obedece a um rito protocolar e não cabe discussão do mérito - disse Vieira.
Segundo o chanceler, o governo peruano foi consultado e não se opôs ou questionou o pedido. Além disso, o ato contou com o aval de Lula.
O ministro também foi questionado sobre a saída de venezuelanos opositores de Nicolás Maduro da embaixada da Argentina em Caracas no começo do mês. O Itamaraty informou que só tomou conhecimento do fato após os opositores já terem deixado o local. A embaixada está sob custódia do Brasil desde agosto de 2024, já que o governo argentino não reconheceu a vitória de Maduro.
- Não participamos da fuga, do mecanismo, do complô para a fuga e não sabemos (como saíram). Esperamos um dia receber essa informação - disse Vieira.
Demais assuntos
Mauro Vieira negou ter havido "mal-estar" diplomático com o governo chinês após declarações da primeira-dama, Janja da Silva, em jantar da comitiva brasileira na China. Na ocasião, Janja teria falado sobre a regulamentação das redes, dizendo que o TikTok favorecia a direita. Contudo, Vieira afirmou que foi o presidente Lula quem fez menção e que teria pedido "auxílio" à primeira-dama. O ministro também negou haver convite para que autoridades chinesas venham ao Brasil.
Sobre a viagem de Lula à Rússia para as comemorações do Dia da Vitória, que marcou os 80 anos da derrota do nazismo na Segunda Guerra Mundial, Vieira defendeu a agenda do presidente em Moscou. A visita foi interpretada pela oposição como um gesto de "apoio" a Vladimir Putin.
- A viagem à Rússia foi única e exclusivamente uma celebração. Não houve outra intenção e não houve uma participação em outro sentido. _
"Compreendi o que mais significa ser católico"
O arcebispo metropolitano de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, foi um dos 133 cardeais que participaram do conclave que elegeu o papa Leão XIV.
Depois de mais de 20 dias na Europa, ele retornou ao Rio Grande do Sul e expressou ontem suas impressões sobre o evento histórico.
Segundo Spengler, durante as votações fechadas na Capela Sistina, pouco se conversava. Os diálogos ocorreram, de fato, nas assembleias gerais que antecederam os escrutínios. Ele contou que, antes do conclave, todos os participantes receberam um livro com o histórico dos cardeais, de modo a ajudar na escolha.
- É uma sensação privilegiada de ouvir as visões da Igreja de diferentes lugares. Ouvir o cardeal do Irã, de onde não se tem notícia, ouvir o cardeal do Mianmar, Nicarágua, então é uma experiência única e muito bonita.
Um dos fatos que mais marcaram os dias em que o arcebispo passou no Vaticano foi a entrada na Capela Sistina.
- Lá dentro, é um local de oração silenciosa. E vou guardar na memória o que foi a entrada, ver 133 homens invocando a Ladainha de Todos os Santos, ou o Veni Creator Spiritus, o "Vinde, Espírito Criador"... É de fazer os pelos virarem ao contrário. Lá dentro compreendi o que mais significa ser católico - enfatizou.
Outro momento que Spengler destacou foi a votação que elegeu o então cardeal Robert Prevost:
- Quando chegou aos 89 votos (dois terços do total de eleitores), começamos a bater palmas. Ele permaneceu muito sereno. Foi um momento muito bonito.
Todos os participantes prestaram juramento de silêncio sobre tudo o que ocorreu dentro do conclave. Questionado sobre o seu voto, ele afirmou:
- Voto eu dei para quem eu achei digno para esse ministério. É secreto - riu. _
Entrevista - Dom Jaime Spengler
"Sempre tinha uma garrafinha de vinho em cima da mesa"
Arcebispo metropolitano de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
O conclave é histórico e recheado de segredos. Lá, os participantes ficam "trancafiados" entre a Casa Santa Marta e a Capela Sistina. A coluna conversou com Spengler e perguntou sobre curiosidades do evento:
O que se comia dentro do conclave?
Sobretudo pasta, pasta italiana.
Podia beber vinho ou não?
Sempre tinha uma garrafinha de vinho em cima da mesa, sim.
Era bom? Igual ao gaúcho?
Eu diria bom, não vou dizer ótimo, mas era bom, sim.
Havia um horário para acordar e dormir?
Sim, nós tínhamos um horário preciso, acordávamos cedo, seis horas da manhã, estávamos em pé.
Que língua se falava entre os cardeais?
Sobretudo italiano, mas não só. Também francês, italiano, alemão, espanhol e português.
E durante o conclave?
Os juramentos eram em latim, mas a língua comum ou inglês ou espanhol ou também italiano.
Não havia acesso à internet, mas poderia ver televisão?
Impossível acesso à internet, rádio, TV ou outro meio de comunicação.
Em algum momento sentiu medo ou ansiedade de participar do conclave?
Medo não digo, mas responsabilidade marcada, sim, por uma ansiedade, sim.
? E qual o sentimento de ter participado desse evento histórico?
Um sentimento de pertença à igreja e de responsabilidade pela vida da igreja. _
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