
Medida tem como meta enfrentar o aumento de hospitalizações por doenças respiratórias no Estado. Iniciativa permite que municípios tenham acesso facilitado a várias ações, como contratação de profissionais e compra de insumos
Governo decreta emergência na saúde pública
O governo do Rio Grande do Sul decretou emergência em saúde pública em razão do aumento da síndrome respiratória aguda grave (SRAG), especialmente em crianças de até cinco anos - na faixa etária, as hospitalizações praticamente dobraram nos últimos dias.
O decreto, assinado ontem pelo governador Eduardo Leite, será publicado hoje no Diário Oficial do Estado. A medida foi adotada diante do aumento expressivo de casos e da demanda nos serviços de emergência, com filas de espera. Ontem, por exemplo, a emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre operava acima de sua capacidade.
A secretária da Saúde, Arita Bergmann, afirmou que a decisão busca fortalecer a rede hospitalar, com a preparação e disponibilização de leitos de UTI e suporte ventilatório. Com o decreto, o Estado permite que os municípios tenham acesso facilitado aações emergenciais em cada localidade, como contratação de profissionais da saúde e compra de insumos.
Além disso, o Estado e os municípios podem buscar financiamento com o Ministério da Saúde para leitos SRAG, destinados especialmente para pacientes com problemas respiratórios. A validade do decreto é de 120 dias, a contar da data de publicação.
- O decreto é pré-requisito para que se busque financiamento federal para leitos SRAG e com suporte ventilatório. O decreto contribui nesta preparação da rede hospitalar para receber os casos que precisam de internação. Como a gente tem tido aumento de internações, em especial de crianças até cinco anos, e uma vacina pouco protetiva, pois a cobertura ainda é baixa, a situação nos coloca neste risco maior - explicou a secretária adjunta da Saúde do Estado, Ana Costa.
A Secretaria Estadual da Saúde informou que já anunciou neste mês investimento de R$ 20,8 milhões na Operação Inverno Gaúcho, a serem aplicados na atenção primária e nas unidades de pronto atendimento (UPAs). Esses valores serão pagos entre 30 de maio e 30 de junho.
Análise feita por Zero Hora com base em dados disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) entre os anos de 2008 e 2024 mostra que julho é o mês com a maior média de internações por doenças respiratórias. De acordo com dados do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), divulgados em painel, o Rio Grande do Sul registrou neste ano, até ontem, 4.099 hospitalizações por SRAG. Essas internações foram causadas por infecções como influenza (gripe), covid-19, vírus sincicial respiratório (VSR), entre outros. Do total de casos, 305 evoluíram para óbito. Entre as crianças menores de cinco anos, foram registradas 1.374 internações e 10 mortes.
Alvorada
Além disso, há situações que mostram outras dificuldades na saúde pública. Com falta de uma UPA, a população de Alvorada, na Região Metropolitana, por exemplo, é direcionada até o único hospital da cidade. No entanto, a instituição está superlotada e opera com restrições. Segundo os relatos de pacientes e moradores do município, a saída tem sido procurar atendimento em Porto Alegre.
Administrado pelo grupo Ana Nery, o hospital de Alvorada pertence ao governo do Estado. De acordo com o diretor da instituição, João Marcelo Goulart, a emergência do local opera com lotação de 260% e, por isso, apenas casos considerados com risco estão sendo atendidos. Também há superlotação dos leitos clínicos e de enfermaria. _
Participaram da reportagem Beatriz Coan, Henrique Ternus, Iân Tambara e Lisielle Zanchettin
Busca intensa pelas emergências
Entre os hospitais privados da Capital, ontem, a situação mais crítica era no Hospital São Lucas da PUCRS, onde havia superlotação no serviço, sem estimativa de tempo de espera de atendimento. Segundo a instituição, ainda há muitos casos de dengue, mas, se somados todos os tipos de síndromes respiratórias, esse passa a ser o maior tipo de incidência.
O Hospital Moinhos de Vento chegou a registrar 112% de ocupação na emergência pediátrica no final de semana. Mas, ontem de manhã, o setor voltou a estar dentro da capacidade, com ocupação em 75%, considerada ainda acima da média. Na emergência adulta, o índice era de 69%. As doenças respiratórias também são a principal causa de procura pelo atendimento. Nos demais hospitais de rede privada, havia busca intensa de pacientes pelas emergências, mas nenhum operava com índices elevados.
Na sexta-feira, a prefeitura de Porto Alegre declarou situação de emergência em saúde pública, considerando o cenário epidemiológico das doenças respiratórias e a superlotação de serviços do SUS na Capital e na Região Metropolitana. A medida tem validade por 90 dias. O prazo pode ser prorrogado conforme os indicadores epidemiológicos.
A medida vai auxiliar na ampliação de leitos para a Operação Inverno, na compra de insumos e materiais e na contratação de serviços necessários ao atendimento emergencial. Segundo o Boletim InfoGripe da Fiocruz, Porto Alegre está em nível de alerta para crescimento de longo prazo dos casos de doenças respiratórias.
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