sábado, 24 de maio de 2025


24 de Maio de 2025
MARCELO RECH

Nossa maior encruzilhada

Você pode não ter se dado conta ainda, mas estamos diante da maior encruzilhada de nossas gerações. Não se trata das mundanas opções entre esquerda e direita ou capitalismo x estatismo. O dilema é bem mais profundo e decisivo: ele trata de definirmos se o que vem por aí em termos de inteligência artificial será o maior salto da humanidade desde a invenção da roda ou a nossa danação eterna.

O tema pode não ter chegado às mesas de bares, mas é o principal assunto em fóruns internacionais e entre pensadores, tecnólogos e futuristas. O debate ficou ainda mais aceso a partir do relatório "AI Future Project", difundido no mês passado. A bateria de previsões sombrias é liderada por Daniel Kokotajlo, um ex-pesquisador da OpenAI que se demitiu por discordar sobre como os ChatGPTs da vida estão avançando - ou seja, sem controle ou preocupação sincera com o que pode ocorrer quando chegarmos ao nível de uma IA capaz de alcançar, e até superar, a inteligência humana.

Ficção científica? Já foi, logo não será mais. A artificial general intelligence (AGI) deve ser realidade dentro dos próximos dois anos, com consequências ainda não compreendidas. Ao se equiparar ao nível humano, a IA ganharia autonomia e poderia supervisionar outras máquinas para acelerar descobertas. No melhor dos mundos, ela encontraria atalhos para descobrir a cura e prevenção de doenças. Se fugir de controle, a máquina começaria a mentir, tomaria decisões próprias, se rebelaria e desencadearia ações bélicas por conta própria ou estimulada por inimigos.

Relendo isso, parece doideira, mas não por acaso o papa Leão XIV, em sua primeira semana de papado, fez um alerta veemente para que a IA seja usada apenas para o bem. Os riscos para a humanidade são concretos, ainda mais porque a corrida ganhou um ritmo próprio entre os titãs da tecnologia, e nem as tentativas de regulação, como na Europa, têm sido capazes de deter ou ao menos redirecionar as locomotivas tecnológicas para os trilhos da racionalidade.

Nós sequer vencemos o abismo digital entre civilizações abastadas e as que ainda morrem de água contaminada, e já estamos diante de algo muito maior. A desinformação e a manipulação de emoções políticas via redes sociais são conto da carochinha perto das ferramentas que começam a ser aplicadas. Nesta semana, o Google liberou o Flow, um criador de vídeos hiper-realistas com diálogos. Nada será como antes na indústria de vídeos e, como efeito colateral, na das mentiras e enganações.

E, enquanto a locomotiva da IA segue sem freios, você se pergunta o que será do seu emprego, de seus filhos ou de seus netos. Ninguém sabe. A profissão de hoje pode acabar amanhã, outras que não existem podem surgir neste ano. Seja o que for, é melhor apertar os cintos. A jornada à frente será turbulenta. 

MARCELO RECH

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