quarta-feira, 21 de outubro de 2015




21 de outubro de 2015 | N° 18331 
DAVID COIMBRA

O maior assassino do Brasil

Pedrinho Matador é o maior serial killer brasileiro. Assassinou mais de cem pessoas, a maioria a facadas, que a peixeira é sua arma favorita, talvez por ser mais pessoal.

Pedrinho matou o primeiro quando tinha 14 anos. Foi um primo seu, com quem se desentendeu por algum motivo. O primo estava moendo cana-de-açúcar, e Pedrinho o empurrou moedor adentro. “Achei que ele ia passar todo no moedor, mas passou só o braço”, lamentou Pedrinho. Enquanto o primo urrava de dor, os outros trabalhadores correram para buscar ajuda. Pedrinho, então, aproveitou para tomar do facão, retalhar o primo e terminar o serviço.

Ainda aos 14 anos, Pedrinho matou o vice-prefeito da cidade em que morava, porque ele havia demitido seu pai, acusado de roubar merenda escolar de uma escola onde trabalhava como vigia. Dias depois, Pedrinho descobriu quem era o verdadeiro ladrão, um outro vigia, e o matou também.

Seguiu matando quem o ameaçava ou fazia mal a alguém de quem gostava, até ser finalmente preso. Na cadeia, um dia um guarda veio lhe falar:

– Pedrinho, tenho uma má notícia para te dar: mataram tua mãe.

Ele ficou arrasado. Foi levado até o necrotério, a fim de identificar o corpo. Agarrado à borda do caixão, jurou vingança, de dentes rilhados. Foi quando descobriu que o assassino havia sido seu próprio pai. Bem, o juramento fora feito, não havia como voltar atrás.

Convenientemente, tinham colocado o pai na mesma cadeia em que ele estava. Pedrinho dominou o carcereiro, tirou-lhe o revólver e o trancou numa cela. Em seguida, procurou pelo pai. Antes que ele pudesse reagir, desferiu-lhe 22 punhaladas, uma a mais do que as que feriram o corpo da mãe. Com o pai exangue no chão, abriu-lhe um buraco no peito, arrancou-lhe o coração, mastigou um pedaço, cuspiu para o lado e saiu. Caminhou mansamente até a cela em que trancara o carcereiro. Devolveu-lhe o revólver. E sentou-se para descansar da lida.

Pedrinho Matador não se arrepende de nenhum homicídio cometido. “Matei só lixo”, diz. Nos presídios pelos quais passou, eliminou 47 homens. Detesta, em especial, estupradores. Um dia, foi colocado na traseira de um camburão junto com um estuprador. Ambos iam para o tribunal. Na chegada, os policiais abriram a porta do camburão e encontraram o estuprador morto. Pedrinho o estrangulara com a corrente das algemas.

Pedrinho prometeu matar o Maníaco do Parque, mas ainda não conseguiu. Ninguém ficou mais tempo preso do que ele, no Brasil: 34 anos.

Se você vir um depoimento de Pedrinho, se espantará com sua serenidade. Ele vive repetindo:

– Sou muito sossegado...

E parece, de fato, o próprio sossego. Assisti a uma entrevista dele ontem, e percebi que ali está um homem com a consciência tranquila. Porque acredita ter feito justiça. Matou estupradores, assassinos, traficantes, gente que considera má, que não merecia viver. Que ele decidiu que não merecia viver.

Pedrinho Matador é movido pela mesma lógica de qualquer um que acredita que a justiça está acima da lei. A população lincha o bandido, porque, se a polícia prendê-lo, um juiz o soltará. Vinte manifestantes fecham uma estrada, porque sua reivindicação é legítima. 

O governo comete ilegalidades fiscais, porque diz precisar de dinheiro para o Bolsa Família. Ninguém acha que fez errado e, se acha, dá de ombros: foi por uma causa justa. Como há causas justas no Brasil... Só que uma nação de verdade não se faz com causas justas. Faz-se com leis justas.