quarta-feira, 21 de outubro de 2015




21 de outubro de 2015 | N° 18331 
FÁBIO PRIKLADNICKI

A NOVA MÚSICA BRASILEIRA


Quem não adquiriu o costume de garimpar novidades na internet e nas plataformas digitais (YouTube, SoundCloud, Spotify, Deezer etc.) pode pensar que já se foram os bons tempos da música brasilieira, os tempos de Caetano, Chico, Gil, Gal, Bethânia e tantas outras figuras geniais que despontaram na virada dos anos 1960 para os 1970 – muitas das quais, fel

izmente, estão na ativa e se reiventando, como estas citadas. Daí vem a pergunta: quando surgirá um novo Chico?

 Volta e meia somos acometidos por esses surtos de nostalgia. Esperava-se de Maria Rita uma nova Elis, promessa que não foi cumprida, nem deveria: Maria Rita é Maria Rita, em suas semelhanças e diferenças em relação à mãe.

Mas o motivo de não termos uma nova geração como aquela é que agora temos muitas gerações, muitas cenas, muita pluralidade. Em vez de um grupo relativamente restrito de grandes artistas que conseguiram se inserir em um mercado reduzido, como o de décadas atrás, temos um catálogo antes inimaginável de opções. Só que o sistema se transformou, e a nova música brasileira não está nos programas de grande audiência da TV e não toca nas rádios mais populares. Você tem que desbravá-la.

Sou daqueles que acham que uma das cenas mais interessantes hoje é a do rap nacional. Mesmo que Chico Buarque tenha deixado de lado suas canções mais políticas com o fim da ditadura, os problemas do Brasil não terminaram. Quem está fazendo a devida crítica política e social, mais do que nunca necessária, é gente como Criolo, Emicida, Black Alien, Rodrigo Ogi, todos com novos discos lançados entre 2014 e 2015. 

Mãe, que abre o álbum Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, o novo do Emicida, é uma das músicas mais afiadas e emocionantes dos últimos tempos. “Moça, de onde cê tirava força?”, pergunta o cantor, a certa altura, nesta tocante crônica da desigualdade social. E mais adiante: “Vai dar mó treta quando disser que vi Deus/ Ele era uma mulher preta”. No que diz respeito às letras, esse novo rap que se mistura com ritmos brasileiros está fazendo um trabalho semelhante ao da poesia engajada em outros tempos.

Ainda é cedo para dizer o que será da nova música brasileira. Mas, como diria uma banda de rock conhecida nossa, as próximas horas serão muito boas.