sexta-feira, 23 de outubro de 2015



23 de outubro de 2015 | N° 18333 
MOISÉS MENDES

Verdades


A moral titubeante, que tentou acalentar o sonho do Eduardo Cunha estadista, é a mesma que o mantém na presidência da Câmara a serviço do golpe. O jornalista Jânio de Freitas flagrou uma das tantas contradições dos que se esforçam para que Cunha continue vivo com injeções de óleo canforado.

Segundo Jânio, não há como aceitar que a pretensa moralização da política (que incluiria o pedido de impeachment de Dilma) dependa de um sujeito como Eduardo Cunha.

Mas Jânio não fala da oposição que sustenta o deputado. Não há como cobrar coerência de tucanos, ex-comunistas agrupados no PPS e ex-pefelistas agrupados em muitos partidos, se o que importa é derrubar Dilma a qualquer custo.

O jornalista fala de outro constrangimento, o enfrentado pelos respeitados juristas Miguel Reale Jr. e Hélio Bicudo. O pedido de abertura de processo contra a presidente foi encaminhado à figura mais execrada da política hoje, não por inimigos do governo, mas por duas sumidades.

Dois representantes da correção cívica e jurídica submeteram-se a Eduardo Cunha para que sua missão fosse levada adiante. E não se sabe de nenhum questionamento de nenhum dos dois sobre a situação do homem das contas secretas e sob investigação do Supremo.

Entregar o processo de impeachment a Cunha, com pompa e circunstância, seria como imaginar, durante a Lei Seca, que juristas americanos delegassem a um parceiro de Al Capone uma empreitada moralizadora. Que tempos.

Dois delatores brigam pela confiança do juiz Sergio Moro como portadores da verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, aquele da franjinha, diz ter recebido R$ 8 milhões do lobista Fernando Soares, o Baiano.

Mas Baiano diz ter repassado a Costa algo ao redor de R$ 25 milhões. Costa pode ter se perdido com quantias tão grandiosas, ou pode ter ficado com parte do dinheiro que recebeu de Baiano e que deveria repartir com outros comparsas.

Enquanto isso, em Angra, estirado numa cadeira de praia, Pedro Barusco não é incomodado. Barusco disse que tinha guardado US$ 97 milhões na Suíça, e ninguém contestou. Não há como contestar um ladrão avulso.

Prometi que não iria falar mais de Barusco, o cara que roubou sozinho durante seis anos de governos tucanos e nunca ninguém reclamou do seu egoísmo. Mas não sei se vou aguentar a abstinência de não falar do Barusco. Fico encantado com o que Barusco é capaz de fazer com a verdade.