sexta-feira, 16 de outubro de 2015



Porto Alegre cinemeira e jazzista


Desde o século passado, Porto Alegre é uma cidade cinemeira. Jazz e cinema sempre foram bons companheiros - Woody Allen que o diga -, e, agora, definitivamente, a cinemeira é também jazzista. Uma belíssima combinação.

A segunda edição do Porto Alegre Jazz Festival, que rolou de 7 a 11 de outubro, com público diário de mais de 1,2 mil pessoas, artistas locais, nacionais e internacionais no Centro de Eventos do BarraShoppingSul, mostrou que temos público para jazz, inclusive para "be bop" e outras formas contemporâneas do gênero. No festival, bossa nova, tango, chacarea, canto indígena, música instrumental, choro, rock, ritmos latinos e outros foram executados para plateias que apreciaram os espetáculos em silêncio, sem mexer muito em celulares e sem perturbar os vizinhos com conversas. Plateias que, aliás, não ligam muito para joias, roupas, penteados e coisa assim. O negócio era a música. A música da boa.

O palco, os camarins e o backstage clean, a aparelhagem de som com volume civilizado e um clima absoluto de respeito à música imperaram. A música foi mais importante do que os músicos, a plateia, os organizadores, os patrocinadores e tudo mais. Tudo bem jazzístico. Música e amor, aliás, são as coisas mais próximas de Deus, isso todo mundo sabe, ou deveria saber. E jazz é, quem sabe, o que os Estados Unidos ofereceram de melhor para o planeta. Bossa nova é das nossas melhores contribuições para a humanidade. Não digo que é a melhor para não causar polêmica.

É bom lembrar que já tivemos aqui em Porto edições do Free Jazz Festival, a banda de jazz de 10 músicos do maestro, tenor e clarinetista Hardy Vedana nos anos 1960 e o bar Big Som, na Joaquim Nabuco, do saudoso baterista e jazzman Marco Antônio, nos anos 1980, mesma década que surgiu Dona Ivone Pacheco, a grande Dama do Jazz, vinda de uma temporada em Nova Orleans. 

Dona Ivone acaba de comemorar seus primeiros 83 anos com uma sessão no Clube de Jazz Take Five, que existe há mais de 30 anos. A festa seria das 19h às 2h. Houve prorrogação porque os amigos não paravam de chegar. A Dama tocou, ouviu e inspirou. O Take Five teve uma de suas maiores noites.
A simpática Poa Jazz Band, criada especialmente para o evento, encantou a galera com interpretações de jazz dixieland, com seu big trombone branco e muito, muito swing.

O festival contou com financiamento da Lei de Incentivo à Cultura, realização do Ministério da Cultura, apoio da prefeitura de Porto Alegre e patrocínio da GVT (máster), Petrobras, BarrashoppingSul e Dufrio.
a propósito...

Foi feita justa e merecida homenagem no Poa Jazz ao jornalista Paulo Moreira, apresentador há 16 anos do programa Sessão Jazz, da Rádio Cultura FM 107.7. Moreira foi, novamente, o mestre na apresentação do evento, mas sem qualquer cerimônia, que o jazz é balanço. Parabéns a Carlos Badia, Daniel Henz, Ralfe Cardoso e a todos os mais de 40 infatigáveis colaboradores. Campai, vida longa, sonora e feliz ao Poa Jazz Festival, que mostrou que muitas pessoas não querem apenas dançar e ouvir aporrinholas eletrônicas. Elas querem ouvir e escutar música de verdade. As colinas e as águas de Porto Alegre ficaram vivas com o Poa Jazz, como no verso da canção da Noviça Rebelde. 

(Jaime Cimenti)