sábado, 15 de junho de 2019



15 DE JUNHO DE 2019

CARPINEJAR

Pais açucarados

A prostituição mudou de nome. Não vigora mais a figura do cafetão. Não há mais a necessidade de resolver a noite com dinheiro vivo ou cartão. Os motéis ficaram para trás. O novo termo da safadeza bitcoin é patrocínio.

Inspirados no modelo americano Sugar Daddy (Pai Açucarado), vários aplicativos no país vêm ganhando popularidade estabelecendo um escambo sexual. É um serviço de acompanhantes para altos executivos, generosamente estendido para todos os públicos.

Clientes pagam mesadas para fazer sexo com jovens bonitas dentro de uma redoma de reserva e discrição na web. É um casamento do Tinder com o Mercado Livre, um ponto de pegação e também um pregão virtual, onde você fica com quem faz o lance mais alto.

Funciona como um app monetário de paquera, com claras e diretas segundas intenções, destinado a uma faixa etária mais velha, abonada, sem paciência para intimidade e que não pretende perder tempo com conquistas espontâneas. Rola-se na tela um cardápio com figurinhas para escolher a anatomia de sua preferência.

É uma negociação cheia de eufemismos. Os interessados "investem" na pessoa, em vez de cobrir um valor específico que pudesse ser enquadrado como venda do corpo. Mas dá no mesmo.

Posses compensam poses. Mulheres estipulam o que desejam para sair com alguém. Oferecem prazer em troca de um sonho de consumo. Qualquer ambição material entra na negociação. Eu transo com você se adquirir o último modelo do iPhone ou eu transo com você se pagar uma cirurgia plástica nos seios ou eu transo com você se quitar a minha faculdade ou eu transo com você se bancar um aparelho. Dependendo do que se pede, carro ou imóvel decorado, pode-se formalizar um plano de convivência de um a dois anos, quase um namoro sacramentado por conveniência e oportunismo.

É o apogeu do ter em detrimento do ser, a normalização da ideia de que tudo pode ser comprado, a gourmetização digital da nudez. Cria-se uma variação sofisticada de uma antiga profissão: alugam-se momentos em nome da aparência, sem nenhum envolvimento emocional.

Além da coisificação do corpo feminino, as plataformas incentivam a mentalidade incestuosa, já que os homens são tratados como pais mimando as suas filhas. Alcançam presentes às protegidas para a realização de fantasias ou respectiva ostentação da ninfeta em lugares públicos. O uso contaminado do papel da filiação provoca repulsa, tendo em vista que a gratificação representa uma contrapartida a favores eróticos.

Parem o mundo que eu quero descer.

CARPINEJAR

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