terça-feira, 18 de junho de 2019


18 DE JUNHO DE 2019
CARPINEJAR

O adeus da bicicleta


Com a moda da bicicleta colorida estacionada nos passeios públicos, retirada a partir de aplicativos, eu me lembrei do quanto ela é a parábola perfeita da paternidade e da maternidade. A bicicleta é a primeira vez que o pai ou a mãe deixa o filho seguir sozinho.

Não é quando ele caminha, ainda bebê, tropeçando e se esgueirando nas paredes, porque permanecemos por perto, com as mãos cuidadosas e temerárias fazendo balizas. Não é quando começa a dirigir, adulto, porque já estaremos acostumados com a sua independência.

É a bicicleta que representa o desmame social da criança. Quando ela pode pedalar com suas próprias pernas para longe e sentir a escolha de seus caminhos, para a direita ou para a esquerda, sem a nossa voz indicando a rota.

Quando os pais são obrigados a retirar a rede da janela dos olhos, desligar o GPS do sangue e confiar que nada de ruim acontecerá.

Talvez seja o maior dilema da criação: posicionar-se com os braços na garupa, oferecendo impulso para o filho se equilibrar na largada. Gritam-se palavras de incentivo até que se experimenta o difícil papel de largar o banquinho na corrida troteada e sumir de repente, para permitir que o nosso rebento trilhe a calçada em zigue-zague, com a força constante dos pés, sem que ele perceba que não há mais ninguém segurando lá atrás.

A mirada desesperada do filho nos procurando a suas costas e tentando manter o controle do volante é de rasgar o coração em pedaços. Muitos pais quase se arrependem do ato e dão piques de inútil e chorosa perseguição.

É um adeus à inocência do colo, à superproteção, às colheradas de avião na boca.

Você baterá palmas por reflexo, comemorando a conquista, mas a vontade é de somente acenar de saudade.

Corresponde a um instante mágico do desapego. Mesmo que ele caia e se machuque, assumimos as consequências da liberdade. Não há como voltar atrás no aprendizado. As quedas formarão a resistência para ele jamais desistir da aventura e do vento nos cabelos.

Parece que não é nada, porém a bicicleta é uma segunda e necessária gestação: o nosso pequenino nasceu para o mundo.

CARPINEJAR

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