sábado, 29 de junho de 2019



29 DE JUNHO DE 2019
ENTREVISTA

"Startup é a maior democratização da inovação a que já assistimos"

Tem um toque gaúcho no cenário da tecnologia disruptiva brasileira. Nascido em Horizontina e graduado em Informática pela PUCRS, com especializações no Exterior, Cristiano Kruel está à frente do departamento de inteligência e inovação da StartSe, empresa com foco na educação para a realidade das startups, com filiais espalhadas pelo mundo - Brasil, China e EUA.

- Nossa proposta é continuar reaprendendo e redesenhando habilidades. Porque todos nós fomos impactados com essa coisa de Vale do Silício - afirma Kruel.

Neste mês,comandou a AgroTech Conference, voltada às startups do agro, trazendo cases de sucesso e apostas de novidades que vêm sendo desenvolvidas mundo afora. Em entrevista, ele avalia que o maior beneficiado com o cenário atual será o consumidor final. Confira trechos.

Startup era vista como coisa de gente maluca ou com muito dinheiro. E hoje?

Startup é a maior democratização da inovação a que já assistimos. Nunca foi tão barato "startupar". O que é uma startup? É um experimento. Se toparmos com uma quantidade de dinheiro, para o sprint (a arrancada) e, ao final, tivermos aprendizado, isso não é falha, é um ciclo. A quantidade de experimentos no mundo explodiu e, quando isso ocorre, o que acontece com o pace (ritmo) de inovação? Explode junto. Ouvir falar de startup e achar que o mundo está mais rápido, faz todo o sentido. É um movimento econômico sustentável. Tem fundamentos sólidos, e é uma nova lógica de empreender e de inovar.

É a chamada nova economia?

Sim, e é muito mais acelerada, muda o poder de mãos, cria novo tabuleiro de competição. O "Nubankinho" briga com o "Itauzão". O problema da Ford era a GM. Essa ruptura nos modelos de negócios está pegando muita empresa bacana desavisada. Tem empresa de sucesso que não consegue se transformar.

Se a democratização da informação barateia o acesso às tecnologias, por que o agronegócio ainda é dominado por gigantes?

Existem dois tipos de gigantes. O tipo dinossauro, que vai morrer. E o fênix, que vai morrer e renascer das cinzas. Há, além das startups unicórnio, as quimeras (figura com aparência híbrida de dois ou mais animais). Empresas como Amazon, Alphabet, Alibaba e Tencent são quimeras. Nasceram como startups, viraram meconglomerados, mas não perderam o espírito de continuar "startupando". E isso parece ser o DNA de uma organização moderna. Diferente de uma empresa tradicional, que se criou com a lógica de melhorar sempre. E o mundo de startup, é poderosa nova ciência de gestão.

Quando será barato utilizar produtos criados por startups?

Antigamente, qual a opção para ir para casa? Ou pegava táxi, ou ônibus, ou metrô. Hoje, quantas tenho? Só de aplicativos, uns 30. Nessa oferta de transformação, o benefício garantido da startup é o do consumidor. Porque passamos a ter opções mais amplas.

E isso inclui o produtor? Há quem o considere conservador...

Ouço muito que o agro é tradicional, conservador. Mas acho estranho, porque os caras que desbravaram esse Brasil são uns loucos de empreendedores. Enterram um caminhão de dinheiro na terra e ficam olhando para o céu. Embora se achem conservadores, são excepcionais tomadores de risco. Talvez é porque tem muita coisa nova e diferente, e os ciclos no agro são longos.

Nos outros setores, as respostas são mais rápidas?

No mundo digital, é teste AB. Boto agora e vejo quem clicou e quem não. O agro é fantástico, temos de celebrar demais as conquistas. Mas a gente usa muito uma vantagem que Deus nos deu: terra, água e sol. E temos de usar. Só que é muito perigoso. Se alguém, em algum lugar do mundo, em um pote de flor, com um litro de água, produzir mais proteína do que em um hectare, vai morrer esse negócio. Temos de cuidar para a vantagem não inibir a capacidade de questionar se o jeito que fazemos é o do futuro.

Como funcionará a Cap Table, braço de captação de recursos que vocês lançarão?

É alternativa de investimento de crowdfunding, que ainda não é muito popular. Esse ecossistema ainda não tem no Brasil a maturidade dos ambientes de fora.

*A colunista viajou a convite da StarSe - GISELE LOEBLEIN*

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