segunda-feira, 17 de junho de 2019



17 DE JUNHO DE 2019
+ ECONOMIA - LUIZ FERNANDO DE PAULA, Economista, professor da UFRJ

"NÃO TEM BALA DE PRATA" NA ECONOMIA

O debate sobre a estagnação da economia voltou a dar luz ao embate entre as linhas de pensamento ortodoxo e heterodoxo. Luís Fernando de Paula, professor da pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está no segundo grupo: presidiu a Associação Keynesiana Brasileira (AKB) entre 2009 e 2013. Com consciência fiscal, admite que não há "bala de prata" para a reanimação, mas aponta medidas que ajudariam.

Qual é o diagnóstico da economia?

A recessão técnica se caracteriza por dois trimestres de PIB negativo, então estamos perto da recessão, mas tecnicamente ainda não. Há risco de volta. Na comparação com recessões passadas, entre 1981 e 1983, a de 1991, com o plano Collor, sempre as recuperações foram mais rápidas do que observamos em 2017/2018. Tudo indica que a economia está saindo de uma recuperação muito lenta e entrando em uma nova recessão. E sem perspectiva de curto e médio prazo para sairmos dessa estagnação.

Qual é a causa?

De certa forma, o diagnóstico do Paulo Guedes não é muito diferente do governo Temer. Faz ajuste fiscal, aumenta a confiança dos agentes com a sinalização da sustentabilidade da dívida, e o aumento da confiança faz com que as famílias voltem a gastar, as empresas, a investir. Essa é a chamada contração fiscal expansionista, significa que o corte nas despesas teria esse efeito de gerar crescimento. É uma tese bastante controversa, inclusive nos EUA. Paulo Guedes confia demais no termo usado pelo Paul Krugman (Nobel de Economia em 2008), a "fadinha da confiança". É a ideia de que, tirando as amarras do Estado sobre a iniciativa privada, com reforma trabalhista, a previdenciária, estimula empresários a contratarem mais e gera maior crescimento.

Qual é o problema?

A economia está com enorme ociosidade. Com capacidade produtiva sem uso, empresários só vão investir se houver perspectiva de aumento de vendas. Entramos em uma espécie de ciclo vicioso, com todos os motores da economia falhando. As famílias estão fortemente endividadas, mesmo com redução de juros, e como o desemprego está muito elevado, a tendência é não contrair empréstimos e, aos poucos, ir pagando os que já tem. O comércio exterior também não tem perspectiva, muito em decorrência dessa briga entre China e EUA. O gasto público, até pela regra do teto, também não é opção. E a arrecadação cai por causa da recessão.

Sem motores, como avançar?

É a pergunta mais difícil. Ouço economistas dizendo que não adianta repetir os estímulos que Dilma (Rousseff) adotou no primeiro governo, porque não dá certo. É falacioso, porque foram estímulos errados. Por exemplo, fez política de expansão fiscal não por meio de investimentos e gastos públicos, mas por inversão fiscal. Permitiu que empresários trocassem o pagamento à Previdência por percentual de 1% a 1,5% sobre o faturamento (desoneração da folha). Abriu mão de receita, deu subsídio para a indústria, e os empresários aumentaram a margem de lucro.

O que se pode fazer?

Não tem bala de prata. Haveria um conjunto de elementos. Por exemplo, algo semelhante ao que Ciro Gomes propôs, uma renegociação geral de dívida. Temos de manter a direção de sustentabilidade da dívida no longo prazo, mas com teto de gastos, regra de ouro, há travas enormes. O investimento público é importante porque, especialmente em infraestrutura econômica e social, tem elevados multiplicadores sobre a renda. Usar um pouco das reservas internacionais para reduzir a dívida pública abriria espaço para investimento público. Seria preciso rearticular um conjunto de políticas que reavivasse a economia, que está anêmica, e a política do governo só enfraquece o doente.

O que é "um pouco" das reservas?

É difícil avaliar, o nível atual é bastante significativo (US$ 386 bilhões). Não seria grande volume, mas para sinalizar, abrir espaço para criar um fundo público de infraestrutura, retomar por exemplo, o Minha Casa Minha Vida, que envolve construção, intensiva em mão de obra. O desemprego é alto e, quando se prolonga, parte se torna estrutural. As pessoas não voltam ao mercado de trabalho. É o chamado problema de histerese, ou seja, a persistência de um fator negativo tende a prolongar sua duração

Liberar FGTS ajuda ou atrapalha?

No governo Temer, deu uma aliviada. O governo atual não percebe, aposta muito na fada da confiança, só que o tempo passa, a economia não reage e a situação se complica. Algo tem de ser feito, e não pode demorar muito.

Jair Bolsonaro estava "por aqui" com o presidente do BNDES por esperar algo que joaquim levy não podia entregar, nem seu sucessor: uma prova documental de que financiamentos concedidos pelo bndes durante os governos do PT foram irregulares. o material em posse do banco são contratos, já publicados por levy, como o do porto de mariel, em cuba. só que malfeitos não costumam ser registrados em contrato.

MARTA SFREDO

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