quinta-feira, 20 de junho de 2019



20 DE JUNHO DE 2019

DIÁRIOS DO MUNDO

NINGUÉM VAI DESDENHAR DE TRUMP

Poucos levaram Donald Trump a sério naquele 16 de junho de 2015, quando ele anunciou sua candidatura à presidência dos EUA no seu palácio da Quinta Avenida, em Manhattan. Ali, com o slogan Make America Great Again (Tornar a América Grande de Novo), falava o Trump apresentador de reality show, acostumado ao show business e às bravatas. Nem o Partido Republicano engolia o candidato, um outsider entre pelo menos uma dezena de políticos, alguns com a bênção de famílias tradicionais da legenda, como os Bush.

Na noite da eleição, lembro de muitos jornalistas acompanhando a contagem dos votos posicionados no Rockefeller Center, em Nova York, onde esperavam a comemoração dos apoiadores de Hillary Clinton. Com o jogo virando no Colégio Eleitoral, houve migração de repórteres rumo à Trump Tower, a quadras dali.

Havia sinais vindos dos grotões americanos que apontavam uma guinada conservadora: desgaste natural dos democratas, há oito anos no poder, a sensação de que Barack Obama era mais um presidente para o mundo e menos para os EUA, a repulsa em relação à agenda progressista, contra o Obamacare e a suposta mão leve com imigrantes ilegais e inimigos históricos, como os regimes cubano e iraniano. A vitória de Trump foi a vitória do americano branco, classe média, interiorano e masculino.

O empresário chegou à Casa Branca, mas não desceu do palanque. Tanto que o anúncio de sua candidatura à reeleição, na terça-feira (foto), é mera formalidade. Na prática, Trump já era candidato desde o dia primeiro de sua era. Cerca de 52,8% dos americanos desaprovam Trump, mas, de forma geral, esse percentual nunca foi muito alto nem muito baixo.

Se ele irá seguir na presidência após a eleição de 2020 é outra questão. Depende de a economia continuar indo de vento em popa. Se isso ocorrer, dificilmente alguém o desbancará. Nunca se gerou tantos empregos nos EUA, e o país registra um crescimento acima de 3%. Na hora do voto, o que pesa é o bolso.

A essa vantagem, soma-se a dificuldade de a oposição se articular: há mais de 20 pré-candidatos democratas. Com exceção de Joe Biden - ex-vice de Obama, de centro, mas com pouco carisma - e Bernie Sanders - muito à esquerda para ser o ungido do partido -, os demais são pouco conhecidos, representam facções minoritárias da legenda e misturam-se em uma fragmentação que muito atrapalha.

Trump não à toa escolheu a Flórida para lançar sua candidatura.Embora Trump seja impopular entre os eleitores hispânicos em nível nacional, na Flórida em particular eles sentem bastante simpatia pelo presidente em razão da linha dura com os regimes de esquerda latino-americanos. Sem o voto hispânico, nenhum candidato ganha a eleição.

2020 será, de certa forma, a repetição de 2016. Biden até aparece à frente do republicano na maioria das pesquisas, mas os EUA seguem rachados ao meio. A diferença é que, desta vez, ninguém se arriscará a desdenhar de Trump.

RODRIGO LOPES

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