segunda-feira, 14 de dezembro de 2015


 
14 de dezembro de 2015 | N° 18385 
MOISÉS MENDES

Depois do golpe


As passeatas de ontem ficaram no meio do caminho. Bateram o cansaço e o medo. E se, depois do golpe, faltar um degrau? A pergunta é incômoda: quem, depois do impeachment, nos garantirá dias melhores? O Temer? O Serra, numa eventual eleição, mesmo com a imagem manchada pelo vinho que a Kátia Abreu jogou na careca dele?

Quem confia na turma que ficará em torno do Temer? Você entregaria o Brasil ao grupo do Zé Agripino e do Mendonça Filho? Quem imagina Kim Kataguiri, o líder do Movimento Brasil Livre, como ministro da Juventude?

Kim pediu dinheiro no fim de semana para o Movimento pela internet. Deu o número da sua conta bancária pessoal. Golpes custam caro.

Outro japonês, o japonês bonzinho da Polícia Federal, o agente Newton Ishii, que seria a imagem do xerife anticorrupção, era dado como certo num futuro ministério. Mas o japonês da PF também esteve envolvido em rolos. O japonês bonzinho não é primário.

Alguns pensaram na Angela Merckel, mas ela não vai querer largar a Alemanha para resolver os problemas do Brasil. E a Constituição nem permite presidente estrangeiro, ainda mais depois do 7 a 1.

Aécio? Bolsonaro na cozinha do poder? Feliciano? É dureza. Outros pedem a alternativa militar. Recebo e-mails de sujeitos que se dizem da Resistência Democrática do golpe fardado. Mas nada é mais caduco e simplório do que defender golpe militar.

O comandante pós-golpe deve ser civil. Roberto Justus, liderança forte, voz muito ouvida, disse que o impeachment nos daria a chance de recuperar a economia. Muitos têm essa tese. O ex-presidente Fernando Henrique garante que o mercado deseja o impeachment. Valeria para sempre: governo ruim, impeachment nele, a pedido do mercado.

O mercado é civil, e tanto se fala no mercado, que esse pode ser o nome para assumir o governo. O Mercado, com letra maiúscula, finalmente chegaria ao poder no Brasil sem intermediários. Presidente Mercado. Então, Mercado para presidente.

Ficaria mais fácil para o nosso Mercado conversar com outros mercados. Não seria preciso acalmar os mercados, depois do golpe, porque o próprio Mercado já teria se acalmado.

Se os golpistas imaginam hoje que o golpe acontece, com a liderança de Michel Temer, e o Brasil entra em calmaria, sem oposição, sem resistências, sem nenhuma voz contrária, imagine com o Mercado. Seria o paraíso.

Mercado no poder. Só precisamos arrumar um sobrenome para o nosso Mercado, para que ele não fique por aí como um mercadinho qualquer.