terça-feira, 15 de dezembro de 2015



15 de dezembro de 2015 | N° 18386+ 
ECONOMIA | Marta Sfredo

Tempo de decisão

Entre economistas e empresários que comentam publicamente os ecos do impeachment, percebe-se tom semelhante: o que menos importa é o desfecho – a saída ou a permanência da presidente Dilma Rousseff.

O mais relevante, para a economia, é a duração do processo. Assim como se constatava meses antes de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acolher o pedido de afastamento, o que agrava a crise é a incerteza e a falta de previsibilidade.

Com a instabilidade política que emana de Brasília e coloca amarras no ajuste fiscal, empresas e consumidores não conseguem planejar investimentos e prever orçamento para os próximos anos. Essa receita negativa existia antes deste mês, mas ganhou um novo ingrediente amargo com o processo de impeachment.

A consultoria GO Associados apresentou, ontem, dois cenários, montados com ajuda de um economista, um jurista e uma socióloga. O primeiro considera um desfecho rápido para o rito no Congresso, com encerramento entre final de janeiro e início de fevereiro. 

A conclusão ainda no primeiro trimestre permitiria um “processo recessivo menos intenso” em 2016, com projeção de queda de 2,8% no PIB, inflação em 7% (ainda acima do teto da meta) e dólar cotado no final do ano em R$ 4,30. No segundo, os trâmites legais iriam até julho. Nesse cenário, a GO prevê recessão de 3%, IPCA na casa dos 7,5% e o câmbio acima de R$ 4,60 no final do ano. Nas projeções da consultoria, fechar o caso no primeiro trimestre garantiria até um 2017 sem mais recessão. Caso se estenda até julho, a perspectiva é de mais um ano no negativo.

O salto da inadimplência em novembro

Final do ano geralmente é um período em que os consumidores tratam de usar o 13º salário para colocar as contas em dia e se preparar para as compras de Natal.

Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostram um salto, em novembro, como não se via desde 2012. Nos atrasos em geral, por região, o maior aumento em relação a novembro de 2014 (8,46%) ocorreu no Nordeste, mas o segundo foi no Sul (5,56%), acima de Centro-Oeste (5,15%) e Norte (4,98%). 

Chama atenção o expressivo percentual, na Região Sul, de quem “pedalou” contas básicas, como água e luz.. Presidente da CNDL, Honório Pinheiro confirma a dedução lógica: o aumento na quantidade de pessoas negativadas nas regiões analisadas reflete o difícil cenário macroeconômico, com piora dos índices de emprego e o aperto representado pela inflação.

PITCH PÚBLICO

O modelo e formato não são fora da caixa, mas a proposta é justamente disseminar no Brasil a cultura inovadora que envolve o universo das startups. Um grupo de quatro empreendedores e executivos do segmento começou a desenvolver e produzir o reality show Os Negociadores. No estilo do popular O Aprendiz e inspirado no americano Shark Tank – que também tem startups no foco –, o programa faz uma competição entre empreendedores iniciantes em busca de investimentos para seus projetos. A cada episódio, dois exibem suas propostas (o pitch do título) para três investidores, que avaliam os pontos fortes e fracos das ideias e, ao final, decidem se querem aplicar recursos – ou não.

Erik Nybo, diretor jurídico global da Easy Táxi, é um dos idealizadores do programa. Até agora, Os Negociadores só tem o episódio-piloto pronto, que será publicado no YouTube amanhã – a primeira apresentação, para um público fechado, ocorreu em Porto Alegre, durante palestra de Nybo sobre o cenário jurídico nas startups. O executivo explica que o investimento na elaboração do programa – locação de cenário e contratação de produtora – saiu do bolso dele e dos outros três sócios, mas que, agora, estão em contato com canais de televisão para vender a ideia a patrocinadores.

– Queremos fazer um meio de campo para facilitar e impulsionar esse tipo de negócios – explica Nybo.

De volta para o passado

Até parecem os anos 1990: a Ford confirmou ontem a abertura de um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para os empregados da área de produção da montadora em Camaçari (BA), entre 4 e 15 de janeiro de 2016.

A empresa justificou a medida como uma adequação “do excedente da força de trabalho decorrente do encerramento do turno da noite a partir de março de 2016”. Pode ser o início de uma série de PDVs, como duas décadas atrás.

O futuro de rio grande

A condenação em primeira instância de Gérson Almada, um dos sócios da Engevix, líder do consórcio que emprega cerca de 6 mil pessoas em Rio Grande, espalha sombras sobre a cidade.

A alternativa de vender o controle do Ecovix, negociada desde o início do ano, exige um terceiro elemento. Os japoneses têm interesse, mas não querem nem ouvir falar em fazer negócios com empresas envolvidas na Lava-Jato.

Ainda faltam dados de Rússia, Argentina e Arábia Saudita, mas o desempenho do PIB brasileiro no terceiro trimestre – queda de 1,7% – foi o pior entre os países do G-20 no período. Segundo a OCDE, que compilou os dados, o grupo cresceu a uma taxa média de 0,7% entre julho e setembro.

A projeção da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV) para compras de Natal no Estado é de

R$ 5,9 milhões

mesmo valor nominal do ano passado. Caso se confirme, será uma queda real de 10%. O valor médio dos presentes caiu de ao redor de R$ 100, em 2014, para entre R$ 70 e R$ 90.

Na nota sobre Gramado, a coluna trocou os escudos, como alertaram leitores.

A que envolve um cidade cercada por uma redoma é Under the Dome, não The Shield.

Negócios de futuro

UMA GAÚCHA DE GARAGEM

Fundada por quatro sócios na garagem de um deles, a EZCommerce não tinha medo de se inspirar nas startups que viraram gigantes do Vale do Silício. Um era formado em Ciências da Computação, outro publicitário e dois trocaram a conclusão da faculdade pela vontade de empreender. Foi bem na época do estouro da crise financeira global, entre 2007 e 2008, e decidiram focar seus esforços no mercado corporativo.

Plataforma de aluguel

O comércio online mal engatinhava no Brasil e as empresas batiam cabeça para saber como oferecer uma experiência de compra razoável. A solução que encontraram parecia simples: alugar uma plataforma. O dinheiro não iria jorrar todo de uma vez, mas representaria um fluxo constante, que permitiria projetar a continuidade da empresa. Nascia a EZ Commerce (na pronúncia em inglês, seria ‘izi’ commerce, a mesma de easy, ou fácil, em português).

Capital 100% próprio

A marca pode ter dado voltas, mas o serviço agradou: Henrique Mengue, Alberto Fujita, Maurício e Ivan Correa (primos, não irmãos) começaram o negócio com capital 100% próprio, fruto de economias pessoais. Hoje, ocupam um andar de um prédio na Avenida Taquara, em Porto Alegre, mais um pequeno escritório em São Paulo, e atendem clientes como Bombril, Track&Field (rede de lojas de roupas esportivas), Calçados Bibi, EMS (medicamentos) e mais cerca de 500 lojas virtuais.

– No modelo de aluguel de plataforma, o cliente não precisa se envolver com problemas de tecnologia. Recebe o software pronto, atualizado e, se precisar, tem assistência técnica – diz Mengue.

Salto de 53% na receita

O que começou durante uma crise planetária, com quatro sócios sonhadores, mas com pés no chão, evoluiu para uma empresa com 70 funcionários estabelecida e estabilizada, com faturamento anual de R$ 10 milhões. E neste difícil 2015, terá aumento na receita de 53%. Tudo foi conquistado fazendo um caminho contrário ao tradicional no segmento, que usa muitos recursos de terceiros e busca financiamento no mercado. Agora que conquistaram certa robustez, pondera Mengue, os sócios admitem fazer, outra vez, a trajetória inversa:

– Vai chegar o momento em que a gente vai olhar o mercado e buscar um outro patamar.

Em várias línguas

A EZ Commerce tem no radar movimentos de mercado que podem representar novas oportunidades: conectar lojas em marketplaces – grandes portais de venda, como Submarino ou Lojas Americanas – e o movimento das fábricas em oferecer diretamente pela internet a venda direta de seus produtos, como calçadistas, por exemplo.

– Como a empresa já tem certa musculatura, esse salto que queremos dar não é para anjo (investidores que fornecem recursos e experiência para startups) nem para aceleradora (instituição que ajuda na implantação de negócios nascentes).

A empresa já começou conversas “em várias línguas”, mas não tem pressa, diz Mengue:

– Temos uma máquina montada e uma operação redonda, estamos conversando com investidores para aumentar nossa força de vendas e continuar investindo em pesquisa e desenvolvimento.