quarta-feira, 16 de dezembro de 2015


16 de dezembro de 2015 | N° 18387
EDITORIAL ZH

ATÉ QUANDO?


Se já não tinha antes, a partir de agora é que o deputado Eduardo Cunha não conta mesmo com as mínimas condições de se manter no comando de uma instituição como a Câmara. Atende às expectativas dos brasileiros a operação da Polícia Federal, solicitada pelo procurador-geral Rodrigo Janot e autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, de busca e apreensão na residência e no gabinete do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, suspeito de crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. 

A ação policial também atinge outras cabeças coroadas da política nacional, como o senador Edison Lobão, o deputado Aníbal Gomes e o ministro Celso Pansera, todos do PMDB. Batizada emblematicamente de Catilinárias, numa referência aos discursos de Marco Túlio Cícero no Senado romano, a operação da Polícia Federal faz jus à frase mais famosa do pronunciamento: Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?. Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é um exemplo mais escancarado dos políticos que confundem imunidade com impunidade.

Por mais que parecesse impossível, a desfaçatez pela qual o presidente da Câmara vem pautando sua atuação e o deboche que costuma destinar à opinião pública e às próprias instituições foram ainda mais exacerbados ontem. Mesmo depois da operação de busca e apreensão e de ter sido derrotado no Conselho de Ética, o parlamentar rechaçou a possibilidade de renunciar ao terceiro cargo político mais influente do país. 

Se já não tinha antes, a partir de agora é que o deputado Eduardo Cunha não conta mesmo com as mínimas condições de se manter no comando de uma instituição como a Câmara. E, muito menos, de comandar um processo importante como o do impeachment da presidente da República. Passou o tempo para que pudesse apresentar argumentos minimamente convincentes diante de acusações como a de que mentiu numa CPI, mantém contas não declaradas na Suíça e teria se beneficiado de desvios na Petrobras.

A sociedade, que acompanha e aplaude a ação firme das instituições policial e judiciária contra a corrupção e se manifesta cansada e indignada com tantas falcatruas, tem também razões de sobra para refletir sobre seu papel diante desses fatos. Políticos ascendem e se mantêm onde estão primeiro pelo voto e, depois, pelo nível de tolerância de seus próprios colegas, mas também dos eleitores, com malfeitos e violações continuadas da ética. 

Os brasileiros precisam se dar conta de que nenhum interesse imediato pode justificar qualquer tipo de condescendência com a falta de ética, com o uso descarado de ritos e mesmo das próprias instituições em defesa própria ou de vinganças pessoais, muito menos por parte de quem está no comando de um poder.

O lado positivo, encoberto por tanta sujeira e por tentativas de se impor no grito é que, enquanto a corrupção parece transbordar por todos os lados, as instituições democráticas, de maneira geral, resistem e se fortalecem na defesa da Constituição. É esse o recado que precisa ser ouvido pela Câmara e pelo Congresso num momento em que têm diante de si um desafio decisivo para o futuro político do país – a decisão sobre o processo de impeachment. A sociedade não pode se conformar em deixar sem resposta outras questões do célebre discurso do cônsul romano, como essa: “Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?”.