sexta-feira, 18 de dezembro de 2015


Jaime Cimenti

Interpretação geral do Brasil


A terceira edição de Interpretação do Brasil (Global, 256 páginas), do grande sociólogo brasileiro Gilberto Freyre (1900-1987) com prefácio do professor Eduardo Portella, ex-ministro da Educação e introdução do professor Omar Ribeiro Thomaz, reúne conferências apresentadas em instituições norte-americanas em 1944 e pensadas para o público estrangeiro, mas que são atraentes e atuais para nós. Sua leitura revela um momento crucial na obra de Freyre. A primeira publicação no Brasil deu-se em 1947 - a segunda edição, em 2001.

Interpretação do Brasil segue no quadro argumentativo configurado pelas obras antecessoras e pelas contemporâneas Casa-grande & senzala; Sobrados e mucambos; Região e tradição e Ordem e Progresso, não se deixando tomar pela tentação da síntese. A obra ensina aos brasileiros, no que diz respeito ao regime superior de coabitação cultural, trocas materiais e imateriais, intercâmbios simbólicos, sensações difusas, encontros e desencontros, previsíveis e imprevisíveis, vida, forma e cor.
A primeira parte fala dos antecedentes europeus da história brasileira; a segunda, de fronteiras e plantações, unidade e diversidade; nação e região é o título da terceira e condições étnicas e sociais do Brasil moderno é a quarta. A política exterior e os fatores que a condicionam é o tema da quinta. A literatura moderna do Brasil é a sexta parte do volume, que apresenta, ainda, história bibliográfica de Interpretação do Brasil, bibliografia sobre Gilberto Freyre, biobibliografia do autor e índice onomástico.

Na introdução, escreve Omar Ribeiro Thomaz: "Interpretação do Brasil mantém, no entanto, seu interesse: revela-nos o processo pelo qual passava a obra de Gilberto Freyre. Observa-se uma inflexão, uma passagem, como que uma interpretação geral do Brasil, no tempo e no espaço, a informar a universalização de sua teoria luso-tropical. Traduz a importância crescente que o Brasil, e as representações construídas em torno de sua realidade, passa a ter num mundo cada vez mais preocupado com as consequências potencialmente violentas e dramáticas de contatos entre povos, culturas e religiões".

Gilberto Freyre, em Interpretação do Brasil, depois do mural Casa-grande & senzala e de Sobrados e mucambos, nos dá um dos sentidos de sua obra: a glorificação de um povo, responsável último pela formação de uma cultura e de uma sociedade. Não busca heróis individuais, mas aqueles representativos dos esforços da coletividade.

"Gostaria de ver incluído num monumento à plantação a senhora de engenho, o escravo do campo, o moleque, companheiro paciente e às vezes masoquista do senhor-moço, e ainda a mulata que no Brasil ficou sendo chamada de a mucama: a companheira da senhora branca", contou Freyre.