sexta-feira, 25 de dezembro de 2015


JOSÉ FUCS
18/12/2015 - 18h02 - Atualizado 18/12/2015 20h20

Jaques Wagner, Levy e o perigo de Dilma "bancar" a economia


Político experiente, Wagner deveria saber que o que mais assusta o mercado é Dilma mandar na economia

Se o ministro Jaques Wagner, da Casa Civil, pretendia tranquilizar o mercado em relação ao futuro da política econômica depois da saída de Joaquim Levy, da Fazenda, sua declaração nesta sexta-feira foi um desastre.

Ao afirmar que “quem banca a política econômica é a presidenta da República e não o ministro da Fazenda”, Wagner deixou muita gente de cabelo em pé. Mais que qualquer outra questão, o que mais assusta os empresários e os investidores, do Brasil e do exterior, é justamente isso. É saber que quem manda na economia é a presidente Dilma, e ninguém mais. Esta é a questão.

Não é, afinal, por nenhuma outra razão que Levy está deixando o posto. Em nenhum momento desde que foi indicado para o cargo, logo depois das eleições de 2014, Levy teve o pleno apoio de Dilma para para recolocar o país nos eixos. Todo mundo sabe que Levy é um fiscalista e Dilma, uma gastadora compulsiva de dinheiro público – e não faltaram exemplos disso ao longo da convivência de ambos. O sinal mais recente foi a redução da meta de superávit primário (saldo das contas públicas antes do pagamento dos juros) para 0,5% do Produto Interno Bruto em 2016, contra todas as recomendações de Levy para mantê-la em 0,7%.

Ao longo do período que esteve à frente da Fazenda, Levy foi desautorizado inúmeras vezes por Dilma e perdeu uma batalha atrás da outra para seu substituto e ex-colega do Planejamento, Nelson Barbosa, o grande arquiteto da maldita “nova matriz econômica”, adotada por Dilma em seu primeiro mandato. Se Levy permaneceu até agora no cargo, foi por teimosia ou por ingenuidade em acreditar que Dilma havia realmente mudado a sua visão dos anos 1950, na economia. 

Diante da magnitude da crise provocada pela gestão econômica deplorável de Dilma, certamente seria melhor se Wagner tivesse dito que o próximo ministro da Fazenda seria, por exemplo, o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e que ele teria plenos poderes para tomar as medidas necessárias para o país sair do buraco em que se encontra.

Para quem não lembra, aqui vão alguns exemplos das ideias heterodoxas de Dilma, que deram uma “contribuição milionária”, como dizia o escritor Oswald de Andrade, para minar a confiança da iniciativa privada no governo e deixar a economia em frangalhos. Ao contrário do que Dilma, Lula, o PT e seus aliados afirmam, elas nada têm a ver com a crise global, mas com a gestão pífia de Dilma:

1) Um pouco de inflação não faz mal a ninguém - Contra todas as evidências de que era preciso endurecer a política monetária para conter as pressões inflacionárias, Dilma pressionou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não apenas a não aumentar os juros, mas a baixá-los artificialmente. Resultado: a inflação explodiu e deve fechar 2015 acima dos 10%, a maior taxa desde 2002.

2) Se parar de pedalar, a bicicleta cai – Para mascarar o rombo bilionário que criou nas contas públicas, Dilma pressionou o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ex-secretário do Tesouro, Arno Augustin, a atrasar pagamentos do Tesouro a bancos e órgãos públicos. Mesmo em 2015, manteve a prática. Resultado: o governo foi condenado pelo Tribunal de Contas da União pelas pedaladas e sofre um processo de impeachment na Câmara dos Deputados.

3)Para os amigos tudo, para os inimigos a lei – Como diz o velho ditado, Dilma desorganizou o setor produtivo – e o caixa do governo – ao editar benesses a granel, como subsídios e desonerações, para beneficiar empresas e setores específicos. Resultado: além de ter ressuscitado a política de “pires na mão” adotada durante o regime militar, que estimula o tráfico de influência nos gabinetes de Brasília, Dilma gerou uma queda dramática na arrecadação federal e levou o governo a fechar o orçamento com déficit em 2014 e também em 2015.

4)As regras do jogo existem para serem mudadas - Com uma manobra arriscada, Dilma decidiu mudar as regras do jogo na área energética, que ela comandou no início do governo Lula, antes de se tornar ministra da Casa Civil. Com seu voluntarismo ideológico, ela reduziu na marra os preços da energia no país. Resultado: criou-se o caos, que acabou afastando investidores nacionais e estrangeiros do setor, um dos mais carentes de investimentos no país. Em 2015, os preços foram liberados, para tentar reverter os malefícios causados no setor no primeiro mandato, e houve um aumento de mais de 50% no preço da energia elétrica.