sexta-feira, 15 de janeiro de 2016



15 de janeiro de 2016 | N° 18415 
MARCOS PIANGERS

Todo mundo está querendo mudar de vida

Conversando com um amigo, esses dias, carreira bem-sucedida na televisão nacional, trabalho estável em um canal internacional, fiquei surpreso quando ele disse que queria largar tudo. “Estou pensando em abrir uma pousada em uma praia da Bahia, vender uns hambúrgueres. 

Criar a minha filha na beira do mar.” Um outro amigo meu já tinha se mandado pros EUA, depois de uma admirável carreira jornalística, para, segundo ele, “fazer qualquer coisa em um país desenvolvido”. Está, agora, vendendo sua própria cerveja em Seattle.

Imagino que não seja uma tendência apenas entre profissionais de comunicação. Com quem quer que eu converse, nos últimos anos, ouço sempre a mesma coisa: “Estou querendo largar tudo”. Professoras, contadores, médicos, engenheiros. 

Todos, até os mais bem-sucedidos, estão pensando em tirar um ano sabático, viajar para a Tailândia, criar os filhos nos Estados Unidos, abrir uma loja de cupcakes, tirar cidadania italiana, escrever um livro e viver da renda dos direitos autorais. Não há pra onde eu olhe e veja pessoas satisfeitas. Ou melhor, há.

As pessoas satisfeitas são aquelas que fizeram tudo isso. As pessoas que são donas de um restaurante minúsculo que serve só comida orgânica. As pessoas que trocaram o carro pela bicicleta. As pessoas que estão morando em outro país. As pessoas que pediram demissão. As pessoas que resolveram dizer não pra uma vida medíocre. As pessoas que foram atrás do seu potencial.

Dá um prazer de conversar com essas pessoas. Elas são como super-heróis. Olhamos pra elas com admiração, mas sentimos medo de voar. Talvez não seja pra gente. Talvez seja. Todo mundo quer mudar de vida. Fugir do trânsito, da poluição, da violência, da cobrança do chefe, da crise. Todo mundo quer viver uma vida com significado, mais tempo pros filhos, mais tempo pros amigos, mais lazer. Todo mundo está querendo mudar de vida. Talvez não seja pra gente. Talvez seja.