quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Feliz é quem sabe acordar o seu próprio sol..


Stunning Dianne:

Feliz é quem sabe acordar o seu próprio sol..

Quero dizer algo mais sobre a felicidade sem precisar dialogar com fórmulas, prescrever soberbas receitas. Queria ser prática, simples, casual, objetiva, sem o desaforo da banalidade. Não queria usar esdrúxulas metamorfoses ou incorrer na arte talentosa do fingimento de atores, que ensaiam textos cheios de metáforas inalcançáveis para traduzir a felicidade. 


Sei de cor todos os prefácios que nos torturam quando tentam emanar bestas definições para credenciar a felicidade. Não quero falar de todos esses rebuscados e engessados conceitos. Peço licença para passear nas combinações de poetas como Manoel Barros e Rubem Alves que orquestram palavras simples, com maestria para definir a felicidade.

Quero dizer com isso que felicidade é um abraço apertado de quem chegou inesperadamente. É um singelo e pretensioso olhar de confirmação de afeto da mãe para o filho. É abrir os olhos todas as manhãs e ter a certeza de que a vida é uma sorte. É conseguir franqueza e afeto na mesma medida para dizer não, as desavenças. Felicidade é sentir a respiração do bebê que dorme, confirmando que o mesmo está bem. É olhar a chuva que refresca a terra após um gigante calor. É ter o merecido descanso após horas de trabalho. É saciar a fome, a sede, o desejo na hora exata em que eles aparecem. 

Quero crer que felicidade é o resultado positivo do exame final. É enxugar a lágrima do aflito. É receber um telefonema de agradecimento. É ceder o lugar ao idoso na fila. É guardar uma safra de afeto para gastar em tempos de dores. 

Experimentar a felicidade é enfrentar com atos corajosos as lutas cotidianas, sem desistir. É apostar em terras férteis, os sonhos mais simples. É testar uma receita nova para a família. É fotografar a beleza da primavera, sem contudo dispensar no outono o espetáculo das folhas que caem para surgir novos brotos. Abram os corações porque a felicidade pode surgir a qualquer hora do dia e sem pedir licença, ocupar todos os espaços. Nada de muitas exigências, a felicidade é produzida pacificamente na constância dos bons sentimentos. Felicidade é uma questão de ousadia e insistência. E não adianta inventar a felicidade. Ela existe na captura de momentos do cotidiano. Ela está presente na serenidade da fascinante tarefa de viver. 

Na palavra comprometida com o perdão. Na delicadeza para com o outro. No amanhecer todos os dias com a coragem para enfrentar os dissabores. 

Feliz é quem consegue dispensar as razões para viver. Feliz é quem consegue florescer em tempos áridos. Felicidade é o trajeto. É um estado individual e sem propósito de transformações diárias. Feliz é quem, com tudo isso, consegue acordar o próprio sol.