quarta-feira, 27 de janeiro de 2016



27 de janeiro de 2016 | N° 18427 
DAVID COIMBRA

Por que cresce Bolsonaro

Bolsonaro não é filhote da ditadura. É filhote do PT.

Bolsonaro é a reação mais acerba e menos lapidada a 14 anos de governo do PT no Brasil. Não chega nem a ser um antipetista clássico. É uma caricatura de antipetista clássico.

Bolsonaro foi recebido com festa de centroavante goleador, no aeroporto de Porto Alegre, nesta semana. Tem sido assim em todo o país. Chamam-no de “mito”.

Ontem, o entrevistamos no Timeline, da Gaúcha. Ele foi ao estúdio, conversamos rapidamente por Skype. Eis um homem encantado com a própria popularidade. Bolsonaro está feliz. As coisas têm dado certo para ele. Tanto, que vai se candidatar à Presidência do Brasil.

Não será eleito. Não devido as suas ideias ou a sua postura, no sentido de “compostura”. Ideias e postura não elegem presidentes, no Brasil. Dutra não tinha ideia alguma, e Jânio e Collor eram o que havia de mais exótico em suas épocas.

Bolsonaro não será eleito pelo mesmo motivo que fez dele um dos políticos mais populares do Brasil: porque não usa nenhum filtro quando emite opiniões.

O brasileiro, na média, nunca vota no mais; vota no menos. Ele não vota no que tem mais chance de dar certo, vota no que tem menos chance de dar errado. Mesmo o voto aparentemente esdrúxulo, como o voto em Collor, é conservador: em campanha, Collor jamais dizia claramente qual era o seu projeto, até porque ele não tinha projeto algum. Posava de valente, de inimigo do Mal, e todos são contra o Mal.

O voto em Lula foi igualmente conservador. Havia já três eleições que Lula concorria e era derrotado. Na quarta, sua barba estava grisalha e seu discurso estava macio. Convencionou-se, entre os eleitores, que, em 2002, chegara “a vez dele”. Era uma espécie de “decorrência natural”, na cabeça do eleitor.

Lula, tanto quanto Collor antes dele, teve a sabedoria de ser dissimulado durante a campanha. Lula, tanto quanto Collor antes dele, foi eleito pelo mérito de não ter projeto algum antes de assumir.

Bolsonaro não é dissimulado. Ele expõe claramente quem é. E ele é um tipo que, nos Estados Unidos, seria chamado de “rude”, adjetivo que se aplica bem, no caso, também em português. Bolsonaro é um sujeito agreste, de opiniões antigas, é um Trump caboclo, com a mesma agressividade, mas sem a competência empresarial a lhe dar respaldo.

O que dá respaldo a Bolsonaro é o ódio que sente e o ódio que sentem dele. Ontem, o movimento LGBT, que odeia Bolsonaro, fez uma manifestação onde ele se apresentava, em Porto Alegre. Deu briga. Não cresceu o movimento LGBT; cresceu Bolsonaro.

Bolsonaro não é oposição ao PT; ele odeia o PT. Foi cevando esse ódio que ocupou tanto espaço, porque a maioria dos brasileiros não suporta mais o PT.

Esse mesmo ódio, porém, vai acabar com Bolsonaro. Quando não houver mais PT a combater, ele não terá mais o que dizer. Quando o PT perder o protagonismo político, Bolsonaro também perderá seu protagonismo. Não por ser de direita ou por ser preconceituoso, mas porque há políticos de direita e preconceituosos melhores do que ele. Mais lapidados, mais flexíveis, mais dissimulados. Só que, por ora, nenhum tão feroz.

A ferocidade de Bolsonaro irá transformá-lo em subalterno de políticos mais requintados. Em alguns anos, nós todos vamos rir desse momento estranho em que uma pequena jaguatirica da ditadura foi chamada de “mito” nos aeroportos do Brasil.