terça-feira, 19 de janeiro de 2016


19 de janeiro de 2016 | N° 18419
EDITORIAL

A CHAGA DA DESIGUALDADE

As migrações que comovem e assombram o mundo estarão ao lado de outro tema recorrente no Fórum Econômico Mundial que se realiza de amanhã até sábado na Suíça. É a questão das desigualdades sociais, ampliadas nas últimas décadas pelas distorções de renda em todo o mundo, mas não só pelos dramas de países em conflito. Também em nações em paz, em todos os continentes, a grande maioria da população vem ficando mais pobre, enquanto a ponta da pirâmide fica mais rica. 

No ano passado, no mesmo Fórum, a ONG britânica Oxfam previu, com base em levantamento anual sobre riqueza do banco Credit Suisse, que em pouco tempo a parcela de 1% dos mais ricos da população mundial passaria a ter mais que os 99% restantes. No Fórum deste ano, a Oxfam mostrará que a previsão já se confirmou em 2015.

O debate sobre o assunto não é ideológico e está muito acima da discussão de modelos e sistemas econômicos. Como adverte o Nobel de Economia Paul Krugman, a pergunta sobre o que leva o mundo a concentrar tanta renda e a ampliar tanta miséria não é uma interrogação fútil. No caso brasileiro, que confirma essa tendência, os números sobre desigualdades estão em outro estudo realizado por economistas da Tendências Consultoria Integrada. Os dados demonstram que a desigualdade no Brasil, medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), é pior do que se pensa.

A análise denuncia que as diferenças de renda no Brasil são mais graves do que as mostradas na pesquisa oficial, porque se baseia também em informações do Imposto de Renda. Enquanto a Pnad indica um percentual de 16,7% da renda nas mãos da chamada classe A brasileira, o estudo da Tendências mostra um percentual de 37,4%. Não é razoável que o crescimento dessas diferenças seja observado à distância, sem provocar reações e debates. 

Tanto que o Fórum Econômico irá se debruçar sobre um assunto que exige bem mais do que intervenções pontuais, como os programas de transferência de renda, mas análises profundas e ações decididas contra distorções que acabam por punir a todos, ricos, remediados, pobres e miseráveis.