sexta-feira, 29 de janeiro de 2016



29 de janeiro de 2016 | N° 18429 
DAVID COIMBRA

Quando surgem os grandes


Você conhece o episódio mezzo lendário mezzo verídico de Alexandre e o nó górdio? Ainda que conheça, contarei, porque os bidus do MEC estão tentando acabar com o ensino da História Antiga, então não custa repisar fatos que têm a ver conosco, antes que os esqueçamos.

A expressão “desatar um nó górdio” é usada quando você resolve, de forma prática e veloz, uma questão complicada. Você já sabia. O MEC, não.

Ocorre que, centenas de anos antes de Cristo, na Frígia, reino da Ásia Menor que não desperta o menor interesse nos sábios do MEC, ocorre que essa Frígia estava sem rei. Aflitos, os frígios foram consultar o Oráculo para saber quem seria seu próximo soberano. Esperavam, talvez, que seu novo governante fosse a vivalma mais honesta do país. O Oráculo respondeu que seria um homem que entraria na cidade num carro puxado por bois. Eis que, de uma hora para outra, uma carroça puxada por bois apareceu, e ela era conduzida por um sortudo chamado Górdias.

Esse Górdias virou rei e, em homenagem ao carro que lhe rendeu a coroa, amarrou-o no templo de Zeus com um nó tão benfeito, que era impossível de desamarrar. O reinado de Górdias foi bom, sem haver qualquer envolvimento escuso com empreiteiras. Seu filho e sucessor não era um político insignificante, sem experiência alguma, que falava disparates. Ele jamais faria, por exemplo, um discurso de ode a, sei lá, pense em algum absurdo, como uma planta tuberosa, digamos, a mandioca. Pois ele jamais faria isso. Ele não era outro senão o famoso Rei Midas, tão bem-sucedido, que originou a lenda de transformar em ouro tudo o que tocasse com sua mão santa.

Midas, porém, não teve filhos e, assim, os frígios ficaram de novo sem rei. Voltaram ao Oráculo, e a resposta foi que o conquistador de toda a Ásia Menor seria aquele que conseguisse desatar o nó de Górdias.

Muito tempo se passou, e ninguém conseguia desamarrar o tal nó. Um dia, Alexandre Magno, rei dos macedônios, que também não interessam ao MEC, resolveu enfrentar o desafio. Foi à Frígia, onde lhe apresentaram o nó górdio. Alexandre olhou de um lado, olhou de outro, olhou de cima, ponderou e, em um átimo, sacou da espada afiada e, com um único golpe, cortou o nó górdio ao meio.

Como todos sabem, menos o pessoal do MEC, Alexandre tornou-se rei de toda a Ásia Menor.

Uma decisão dessas, sábia e impetuosa ao mesmo tempo, só quem tem autoridade, ousadia e inteligência é capaz de tomar. Na solução dos grandes impasses é que nascem os grandes. Não é por acaso que ele era “Magno”. Isto é: Alexandre, o Grande.

Alexandre foi centroavante na vida. Admiro os centroavantes, homens que, em meio às explosões do front que é a grande área, cercados de inimigos ferozes, tendo apenas uma fração de segundo para tomar uma decisão, tomam-na, e a tomam corretamente. O centroavante é dotado de calma e agressividade ao mesmo tempo, o centroavante sabe o que faz e o faz no momento exato, nunca antes, nunca depois. Quem, na vida, é centroavante, é vencedor.

Digo tudo isso em homenagem a Romário, que hoje completa 50 anos. Vi Romário jogar dezenas de vezes, e cada vez foi uma lição. De paciência. De serenidade. E de ação fulminante no momento da definição. Romário. Rei dos centroavantes. Um homem que sabia o que fazer diante de qualquer nó górdio.