quinta-feira, 28 de janeiro de 2016



28 de janeiro de 2016 | N° 18428 
CARLOS GERBASE

SOBRE FILMES E VIADUTOS

Na semana passada, terminei de dirigir um longa-metragem. O plano inicial era filmar em 24 dias, mas, como os recursos eram limitados frente aos desafios da produção – trazer atores e atrizes do centro do país, construir 30 cenários em estúdio, gerenciar uma equipe técnica de qualidade –, fizemos um esforço e reduzimos para 23. Numa produção cinematográfica, cada dia a mais (ou a menos) significa muito dinheiro. 

Trabalhamos 10 horas por dia, não temos sábados nem domingos de folga (neste filme, descansamos nas segundas-feiras) e comemorávamos a cada final de tarde que o cronograma estava sendo cumprido. Tudo isso é normal. Quem já fez um filme sabe que atrasos ou paralisações aumentam tanto os custos que podem inviabilizar o projeto.

Vendo a quantidade de obras da nossa cidade que estão atrasadas, paralisadas ou sendo refeitas poucos meses depois de “prontas” – e aquele trecho da Protásio Alves perto da Lucas de Oliveira é o mais irritante deles, pelos engarrafamentos absurdos que provoca em janeiro –, só posso chegar a uma conclusão: o município tem dinheiro a rodo, garantido por contratos bilionários que permitem a manutenção de centenas de trabalhadores e máquinas nos canteiros por prazos a perder de vista. 

Se cada obra de Porto Alegre – túnel, viaduto ou corredor de ônibus – fosse gerenciada por um produtor executivo cinematográfico, todos esses produtores já teriam sido demitidos sumariamente e exortados a procurar outra atividade profissional. Incompetência tem limite.

Sei que as obras viárias têm suas particularidades, que elas demandam relações judiciais complicadas entre o poder público e as empreiteiras, mas filmes também são muito complexos e envolvem ferramentas e processos sofisticados. A comparação não é absurda. E faço pelo menos uma proposta: que as licitações não sejam mais pelo “menor preço”. 

É melhor pagar mais caro para um profissional (ou uma empresa) que tenha competência e entregue o serviço no prazo, que continuar jogando fora dinheiro público em obras intermináveis, que já esgotaram a paciência da população. Cada dia a mais numa obra é, inevitavelmente, mais custo, mesmo que isso seja maquiado de alguma maneira nos contratos. A conta sempre chega, em filmes ou viadutos.