sábado, 30 de janeiro de 2016



30 de janeiro de 2016 | N° 18430 
DAVID COIMBRA

O que é melhor: macarrão ou Monalisa?

Todo mundo gosta de pizza. Não por acaso. Pizza é uma imbatível reunião de valores. É como ter Pelé e Garrincha no mesmo time. Você sabia que a Seleção, com Pelé e Garrincha juntos, jamais perdeu? E não foram poucos jogos: foram 50, incluindo os de três Copas do Mundo.

Pois a pizza não tem dois, e sim três talentos insuperáveis: a massa, que lhe dá a forma e a consistência; o queijo derretido, que lhe dá o charme e a sedução; e o molho de tomate, que lhe dá o sabor e a suavidade. Pão, queijo e tomate. Estão para o paladar como os Beatles estão para o ouvido.

O tomate. Um dia ainda escreverei alentado tratado sobre o tomate. Não é por acaso que os italianos chamam-no de “pomo d’oro”. Fruta de ouro. Sim, porque o tomate é de fato uma fruta. Vi, com meus próprios olhos esverdeados, sul-coreanos comendo tomates às dentadas, como se fossem maçãs. Na Coreia do Sul, ninguém faz salada de tomates. 

Um dia, o Pedro Ernesto Denardin ensinou a dona de um restaurantezinho onde almoçávamos, em Ulsan, a fazer salada no estilo brasileiro, com cebola, tomate e alface. Ela fazia e chamava os amigos para nos verem comendo. Era muito estranho aquilo de comer tomate em rodelas, temperado com azeite, sal e vinagre. Os coreanos olhavam e faziam: óóóó.

Mas é claro que o ápice da carreira do tomate foi alcançado pela arte suprema dos italianos quando eles inventaram o... molho de tomate! Oh, que culminância da Civilização, a criação do molho de tomate! Quanto da nossa humanidade devemos aos italianos. Pense: Michelângelo pintou o teto da Capela Sistina e tirou do mármore de Carrara o David, o Moisés e a Pietà; Leonardo nos deu o sorriso da Monalisa; Dante, a visão do inferno; a Júlio César devemos o calendário e o simpático mês de julho; a Augusto, o de agosto; e a Terra, no entanto, se move graças a Galileu Galilei; mas qual é o nome do italiano que concebeu o molho de tomate?

DIGA!

Se não disser, reflita: o que faz de você mais feliz: contemplar o enigma do sorriso da Monalisa ou almoçar um generoso prato de fetuccine coberto por denso, vermelho, quente, oloroso e saboroso molho de tomate, encimado por miríades de minúsculas lascas de queijo parmesão?

É óbvio que você preferirá o macarrão, sobretudo se vier acompanhado de um bom tinto.

Pois então: agora vá ao Google e descubra o nome do italiano que inventou o molho de tomate. O Google, que tudo sabe, não sabe. Ninguém sabe. E ele, esse italiano, provavelmente um napolitano, ele era um gênio.

Renderei, agora, preito ao italiano que, entre os séculos 17 e 19, teve a ideia de fazer do tomate a base do seu molho de pizza ou macarrão. Em sua homenagem, reservarei uma linha inteira para glorificá-lo. Aí vai:

GLÓRIA AO ITALIANO ANÔNIMO DO TOMATE! GLÓRIA AO ITALIANO ANÔNIMO DO TOMATE! GLÓRIA AO ITALIANO ANÔNIMO DO TOMATE!

Feito esse necessário reparo, lembro agora que o molho “Pomodoro” vem, exatamente, de pomo d’oro, que, já ressaltei, é como os italianos chamam o tomate.

Mas me alonguei e não cheguei aonde queria. Sabe de quem queria falar? Do Bolsonaro. Deixarei para a próxima coluna. Aguarde!