quinta-feira, 21 de janeiro de 2016


21 de janeiro de 2016 | N° 18421 
LUCIANO ALABARSE

PARA SEMPRE VIOLETA


Nenhuma voz me fascina tanto quanto a da chilena Violeta Parra. Seu canto, áspero e inculto, me emociona. Compositora, tapeceira e pintora, é a artista da minha vida. Muito andei por Buenos Aires e Montevidéu recolhendo seus discos proibidos pelas ditaduras sul-americanas. Camuflava-os entre minhas roupas, rezando para que não me sequestrassem na fronteira o material sagrado. Trouxe-os todos e os guardo ainda hoje, como tesouros.

Violeta aprendeu a tocar criança ainda, observando o pai a dedilhar o violão em festas da região campesina onde nasceu. Suas compilações folclóricas, recolhidas em grotões chilenos esquecidos, são patrimônio de toda a humanidade. Amiga de Neruda, sua música sempre se ergueu contra as injustiças do mundo. No Brasil, Milton (Casamiento de Negros e Volver a los 17) e Elis (Gracias a la Vida, sua criação mais famosa) registraram, de forma definitiva, essas canções extraordinárias.

Visitando Santiago, li sobre uma exposição de seus aclamados tapetes, hoje pertencentes ao museu do Louvre. Último dia da mostra, chance única. Cheguei ao local com o coração disparado. Nenhum segurança, nenhum funcionário, visitante nenhum. Quatro horas sozinho no imenso salão vazio. Somente eu e os tapetes de Violeta.

Só vi agora Violeta Foi para o Céu, longa premiado no Sundance Film Festival de 2012. A atriz Francisca Gavilán a encarna em performance inesquecível. Ainda com o barulho do tiro que encerra a película ecoando, lágrimas correndo soltas, ouvi pela milésima vez suas últimas composições, lançadas após a sua morte. Canções urgentes, viscerais e desesperadas – como a própria Violeta. Sua paixão obsessiva por um músico mais jovem e a insustentável situação política de seu país a levaram ao suicídio. Tinha 49 anos.

Em Porto Alegre, Tânia Farias, artista de talento excepcional, cuja voz lembra o timbre de Violeta e que a ama como eu, sempre que possível canta suas canções nos espetáculos do Oi Nóis Aqui Traveiz. Está na hora do espetáculo inteiro, Tânia.