terça-feira, 18 de dezembro de 2018


18 DE DEZEMBRO DE 2018
LUÍS AUGUSTO FISCHER

A CIDADE E AS DÉCADAS

Cinquenta anos atrás foi editado o Ato Institucional número 5, inaugurando um festival de burrice e truculência que mudou nosso modo de fazer as coisas. Não foi o único, mas foi um dos mais decisivos gestos da ditadura militar a atormentar nossa vida. Dá pra imaginar o que seria o Brasil sem os golpes de 64 e de 68, assim como sem o Pacote de Abril de 77 (que instituiu os senadores biônicos e deu à Arena, o partido governista de então, ampla margem de manobra no Legislativo federal)?

Até dá, mas é difícil. Seríamos um país menos submetido aos caprichos e desmandos, de dentro e de fora. Teríamos talvez resolvido a equação da educação básica universal, como a ação do Brizola, em sua demorada volta do exílio, mostrou brevemente, com os CIEPS. Teríamos menos medo de figuras como o futuro presidente, que se mostra claramente um sujeito que despreza a opinião pública, preferindo, como repetiu na diplomação, o contato direto pelas redes sociais, que deformam e impedem o debate esclarecido.

Em compensação, 30 anos atrás saiu a primeira edição de um livro clássico, que retorna agora em edição revista e ampliada, a quinta de sua longa trajetória: o sensacional Porto Alegre - Guia Histórico, de Sérgio da Costa Franco, agora pela editora Edigal - procure na livraria Martins, na Erico Verissimo, no telefone 3226-7779.

Trata-se de um livro que é um presente raríssimo que uma cidade pode ganhar: uma enciclopédia das ruas e de boa parte das instituições da cidade, com texto enxuto, informativo, preciso e de leitura sempre agradável, que vai desvelando algumas camadas do passado da cidade e nos torna, isso mesmo, cidadãos - nos faz ver que em cada canto, em cada esquina, pisamos onde outros já pisaram, e por isso temos que criar vergonha na cara e cuidar desse bem impressionante e sublime que é a cidade que habitamos.

Pena em lembrar desse grande livro em companhia da memória do horror do AI-5. Que o caríssimo Sérgio da Costa Franco não se aborreça com a vizinhança!

LUÍS AUGUSTO FISCHER

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