sábado, 22 de dezembro de 2018


22 DE DEZEMBRO DE 2018
PIANGERS

Todos somos Grinch

Muito já se falou sobre as incongruências natalinas, e fico aqui imaginando como serão as reuniões familiares neste final de ano, depois de tantas brigas no WhatsApp. Mesmo do ponto de vista das crianças, o Natal não parece uma boa ideia. Existem os presentes, ok, mas todo o resto é apenas uma grande fila de pedágio para colocar as mãos naqueles embrulhos, para muitas vezes descobrir meias ou pijamas dentro deles. Percebam: todos os símbolos natalinos são inexplicáveis; neve, trenós, esquilos, senhores diferentes em cada shopping, todos de casaco no meio do verão, cercados de renas, animais que deste lado do equador têm outro nome.

O suplício infantil começa ainda em outubro, logo após o Dia das Crianças, quando devem decidir qual será o brinquedo que pedirão no Natal. Contudo, se no dia 12 era só pedir e ganhar, no dia 24 de dezembro elas precisarão ter sofrido bastante. Pegarão filas para conversar com o Papai Noel, que perguntará se foram comportadas. Passarão meses esperando chegar a noite de Natal, perguntando aos pais "faltam quantos dias?", uma vez no almoço, outra vez na janta.

Quando a festa se aproxima, os adultos estão todos tensos: é preciso organizar a viagem, combinar quem vai levar o que para a casa da vó, as brigas com parentes distantes se intensificam, os pais estão sempre brigando e as crianças não entendem o motivo. Não era uma festa de paz e harmonia? Mas tem que levar o frango, a cunhada fez o arroz à grega que todos odeiam, o tio levará o panetone com frutas cristalizadas (outra invenção inexplicável), não pode esquecer os presentes, acho que compramos coisas demais.

A criança está tentando escapar da confusão, ouvindo sistemáticos "Porque sim!". "Por que que eu tenho que colocar essa roupa?", "Por que eu não posso correr com meus primos?", "Por que meu presente é menor do que o presente do meu irmão?". O Natal, essa época tão esperada, acabará em choro, inevitavelmente. Os pais voltando pra casa indignados com algum comentário maldoso de um parente distante; as crianças cansadas no banco de trás dormindo com roupas desconfortáveis e suadas; a avó tendo que arrumar toda a bagunça que ficou; e o tio inconveniente completamente bêbado, roncando alto para desespero de quem disponibilizou o quarto pra ele dormir.

Em algum lugar, longe dali, uma outra família não teve dinheiro para presentes, não conseguiu se reunir com os parentes, não teve condições financeiras de encher a mesa de comida. Também não estão satisfeitos. No Natal, ninguém nunca ficará satisfeito. Apenas aqueles que não desejam nada. Aqueles que agradecem por tudo o que já têm. Aqueles que só querem saúde e tempo junto, uns dos outros.

PIANGERS

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