sexta-feira, 21 de dezembro de 2018



21 DE DEZEMBRO DE 2018
ARTIGOS

PRESCRIÇÕES NATALINAS

MARTA LEIRIA LEAL PACHECO - Procuradora de Justiça

Neste final de ano, aderi à ideia de presentear com livros. Confesso que nunca tinha ouvido falar no escritor angolano José Eduardo Agualusa, de língua portuguesa, até encontrá-lo palestrando no Fronteiras do Pensamento deste ano. Achei o máximo ouvi-lo citar dois exemplos de uso inusitado e criativo da literatura. Um deles, o livro Farmácia Literária, das inglesas Susan Elderkin e Ella Berthoud. A cada verbete, indicações de leituras para uma injeção de coragem, ansiedade e outras situa- ções, em uma espécie de biblioterapia. O outro, reparem que genial, é o projeto do sonhador português Zé Pinho, que pretende inaugurar uma farmácia literária em um antigo hospital desativado.

O próprio Agualusa, muito antes do livro do sonhador português surgir, havia publicado um conto sobre uma velha senhora em Benguela que receitava poesia como tratamento para todos os males. Eu mesma, diletante da arte da escrita, e desconhecedora da existência desses escritores, ousei receitar às amigas separadas o livro Dias de Abandono, de Elena Ferrante - parece que a prescrição funcionou.

Outra confissão pública: era avessa às redes sociais. Pelo pouco que conhecia, julgava-as um espaço para mostrar apenas fotos e feitos espetaculares. Inventei de divulgar escritos e pensamentos para reflexão. Ando sempre com uma miniagenda a tiracolo, vá que surja uma ideia! Estou estudando e me apaixonando por minicontos. E publicando os de minha autoria. Reparem na beleza deste que integra a obra Minicontos Coloridos, organizada pelo professor Marcelo Spalding, Ed. Metamorfose. É de Felipe Sieira Castro: "Faltou luz em casa. Minha mãe me trouxe uma vela e um livro. Foi a noite mais iluminada da minha vida".

Precisa dizer mais sobre o poder curativo da literatura? Que neste Natal, e também nos dias mais prosaicos, venha a luz na forma de livros para todos nós, sem distinção de qualquer natureza, independentemente de idade, gênero, etnia, profissão, religião, credo ou cor.

DANÇANDO COM A MORTE - JOSÉ ALBERTO WENZEL

Geólogo, analista ambiental

josealbertowenzel@gmail.com

Nobres em desabalada corrida por entre faias não eram incomuns. Montados em aparelhados cavalos, seguiam velozes aos cães adestrados para a caça. A presa em desespero, de olhos vidrados, lançava-se em ímpeto muito superior ao que seus músculos poderiam suportar em condições normais. Raramente escapava. Quando o "príncipe" errasse a pontaria, sempre havia um subalterno para derribar a vítima, debitando a glória infausta ao senhorio despossuído de maior destreza.

Algum tempo depois da Idade Média, soava comum "bater" uma fotografia com os troféus espalhados à frente dos caçadores de domingo à tarde. Álbuns nem tão antigos ainda guardam imagens do ar vitorioso dos "corajosos" que saiam à caça dos veados, tatus, capivaras e pássaros.

Agora, em tempos de pós- modernidade, o RBS Notícias desta semana, em valorosa e conscientizadora matéria ambiental, escancara humanos em algaravias de matança. Com a caça não se contentam. Alegram-se com seu manifesto. Aprazem-se com a proeza de matar. Seguem cães tristemente treinados, não para saciar sua fome, mas para facilitar o tiro já bem mais certeiro do que o dos antigos arcabuzes.

A cada presa, uma vida a menos. A cada tiro, uma dor a mais. A presa e o alvo somos nós próprios. A cada animal silvestre abatido, é a humanidade alvejada.

Como explicar o "sabor" de matar um veado, uma capivara, um tatu, uma ave ou outro habitante natural de nossas cercanias? Como aceitar que se use, à sorrelfa, da própria "preservação ambiental" para matar?

Que a desilusão não nos abata junto. Que valorizemos os fiscais. Que persistam em sua valorosa missão. Que nos lancemos à educação ambiental. Podemos ser melhores. Antes, peçamos perdão a todas as criaturas indefesamente abatidas, cruelmente assassinadas, destemperadamente sacrificadas. Que as imagens alertadoras não sejam em vão.

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