sábado, 29 de dezembro de 2018



29 DE DEZEMBRO DE 2018
SCOLA ENTREVISTA

"Sou contra o valor abusivo do pedágio no Estado"

JUVIR COSTELLA, Futuro secretário dos Transportes do RS

Sem experiência na área, mas com disposição para buscar respostas rápidas para melhorar os serviços, Juvir Costella assume, nos próximos dias, o cargo de secretário dos Transportes do Rio Grande do Sul. Ainda no primeiro ano, o governo eleito precisará destravar o programa de concessões que começou a ser feito pela atual gestão mas andou devagar, concluir obras que já começaram, como a duplicação da RS-118, entre Gravataí e Sapucaia do Sul, e rediscutir o papel da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). Costella é deputado eleito pelo MDB, mesmo partido de José Ivo Sartori. Ainda assim, se diz insatisfeito com a qualidade das estradas.

Como melhorar as estradas estaduais?

Temos de enfrentar essa questão indo em busca de recursos. O futuro governo terá como prioridade a recuperação das estradas. Tem uma questão de segurança e logística importante aí. Se tivermos rodovias em estado de bom para ótimo, isso trará investimentos de empresas para o Rio Grande do Sul.

O senhor está satisfeito com as estradas?

Não, de forma alguma. A recuperação vem acontecendo, principalmente nos últimos dois anos. Em algumas regiões, avançamos bastante. Mas temos ainda muito, muito mesmo, para evoluir. Foram mais de 3 mil quilômetros de estradas recuperadas. Mas trata-se apenas de uma etapa. E tem outra coisa preocupante: acessos municipais. Estamos no século 21 e quase 50 municípios não têm acesso de asfalto. Isso chega a ser desumano.

A RS-118 sempre teve atraso na entrega. Agora, a mais recente promessa é de conclusão no primeiro semestre de 2019. Vai se confirmar?

Não trabalho com chance de atraso. Prefiro falar sobre expectativa de conclusão. Vou ser incansável para garantir a conclusão no primeiro semestre. Sempre pode atrasar 30, 60 dias.

É apenas questão de dinheiro? Ou existe algum outro possível entrave?

Os projetos mais importantes para essa estrada estão concluídos. A área que precisa ser desocupada, dos quilômetros 0 ao 5, em Sapucaia do Sul, já foi feita. As obras mais pesadas, como viadutos e elevadas, estão prontas. O acesso de Esteio está 60% concluído. O único ponto que tem um pouco mais de dificuldade é a inclusão da BR-448 (Rodovia do Parque) com a RS-118. Esse viaduto independe da conclusão da estrada, que é uma obra para todo o Estado e não apenas para a Região Metropolitana.

O Rio Grande do Sul tem locais conhecidos como Estrada da Morte e Curva da Morte. O que o senhor vai fazer para acabar com esse estigma?

O grande desafio é fazer com que as estradas tenham melhores condições. Precisamos também criar um trabalho de conscientização das pessoas com relação ao respeito dos limites de velocidade e identificar e atuar em pontos com grandes índices de mortes.

O que vai acontecer com a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR)?

Há duas discussões: rediscutir o papel do Daer. Existem excelentes técnicos no departamento queestão sendo mal aproveitados. E a EGR tem papel fundamental para o Estado. Está em 16 rodovias com praças de pedágios. O governador eleito tem dito que, se tiver de vender, vamos fazê-lo. Digo a mesma coisa. Não vejo dificuldade nenhuma em vender a EGR, mas quem vai fazer o papel da empresa depois disso?

Mas, por enquanto, muda alguma coisa?

Por enquanto, ela vem desenvolvendo o seu bom papel. Não sou contra pedágio. Sou contra o valor abusivo do pedágio. Por que do Mampituba para cima podemos ter pedágio de R$ 2,50 e aqui custa R$ 7, R$ 8? Esse é um outro debate que quero fazer.

A tarifa aqui é elevada?

Tarifa de R$ 7 para as estradas do Estado é alta demais. O que leva uma praça de pedágio a cobrar esse valor? Existe a expectativa de se criarem novas praças por meio de parcerias e concessões. E precisamos debater também se é papel do Estado manter uma empresa pública para administrar pedágios.

Qual é sua opinião sobre isso?

Não é papel do Estado manter empresa que cuida de pedágios e de estradas. Acho que isso pode ser feito por meio de concessões e parcerias.

O caminho da EGR, então, é a privatização?

Exatamente. O Estado deve buscar algo por aí, privatização ou forma de concessão. A EGR tem hoje cerca de 1,5 mil servidores envolvidos em todas as praças. São muitas famílias envolvidas, por isso, é necessário planejamento. Mas insisto: não é papel do Estado ter empresa para cuidar de pedágios. Para estradas, já temos o Daer.

Quais são as concessões que vão acontecer ainda no primeiro ano do governo?

Uma empresa de consultoria vai entregar a modelagem das concessões no primeiro trimestre. Em cima disso, vamos começar a trabalhar. Ela cria parâmetros de exploração das estradas a partir de dados técnicos. Sou muito ativo. Sou um cara de respostas. E rápidas.

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Balanço do governo Sartori aponta a recuperação de 3 mil quilômetros de estradas, de um total de 10 mil quilômetros, por meio de financiamentos de BNDES e Banco Mundial.

Durante a campanha eleitoral, o governador eleito Eduardo Leite (PSDB) prometeu "extinguir" a EGR, o que foi reafirmado em entrevista à Rádio Gaúcha na sexta-feira.

As tarifas em locais administrados pela EGR variam em cada praça. Para carros de passeio, vão de R$ 3,25 (caso da RS-239, em Campo Bom), a R$ 7,90 (caso da RS-115, em Gramado).

Até dezembro deste ano, a EGR arrecadou R$ 260 milhões em pedágios. O custo da empresa nesse período foi de R$ 263 milhões. O balanço considera a operação das 14 praças espalhadas pelo Estado.
DANIEL SCOLA

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