terça-feira, 19 de maio de 2020



19 DE MAIO DE 2020
CORONAVÍRUS

UFRGS monta um projeto de socorro a pequenas empresas

Da noite para o dia, a pista de boliche foi esvaziada sem data para retornar. O professor de matemática se viu afastado dos alunos. As irmãs donas do brechó passaram a temer pela saúde da mãe (de grupo de risco) se saíssem para fazer entregas.

Os casos que chegaram até o projeto SOS-PME Rede de Assessoria Empresarial são boas medidas do quão diversos e críticos são os males que afetaram a saúde das pequenas e médias empresas a partir da chegada da covid-19.

Nascido como um projeto de extensão do curso de Administração da UFRGS, o SOS foi viabilizado como forma gratuita de ajudar pequenos empresários a segurarem as pontas e buscarem alternativas enquanto a pandemia durar. O número de empresas que já procuraram a universidade remete a uma emergência lotada: foram 93 "pacientes". E as analogias com a saúde vão além.

- A gente até pensou em chamar o projeto de UTI empresarial. Para participar é preciso preencher um formulário em que perguntávamos o quanto de perdas de faturamento as empresas previam e quão grave elas consideravam o quadro da empresa. Priorizamos os atendimentos conforme a urgência. Mas descobrimos que o "não sei" era uma resposta tão preocupante quanto as demais - conta Daniela Brauner, uma das coordenadoras do projeto.

Planejamento

Veio à tona a forma muitas vezes amadora como os pequenos empreendedores se estabelecem no Brasil. Um grande número deles não fazia ideia de estoque, fluxo de caixa, dívidas, número de clientes e outros dados fundamentais para planejar uma retomada.

Foi o caso de Luiza Teixeira, que dividia com a irmã, Ísis, a administração do Lua Bazar Brechó. Acostumadas a faturar participando de feiras, tiveram acompanhamento para organizar estoque, dividir tarefas e otimizar processos.

- Tínhamos medo de nos expor fazendo entregas, porque a minha irmã mora com a minha mãe, que é do grupo de risco. Cobrar frete encareceria o produto. Após a consultoria, fechamos com um entregador para levar as vendas por Instagram apenas uma vez por semana. São soluções até meio óbvias, mas precisa de alguém que te ajude a enxergar - conta Luiza.

No caso do professor de matemática Diego Matos de Andrades, por exemplo, ou ele investia no ensino a distância ou diria adeus aos alunos em preparação para vestibulares e Enem.

- Comecei com aulas virtuais de duas horas, como fazia presencialmente. Me deram o toque de que, em EAD, teriam de ser mais curtas e focadas em esclarecer dúvidas. Outra dica foi disponibilizar uma aula experimental de graça. Para a minha surpresa, não só mantive os alunos como tive duas matrículas novas desde a pandemia - conta Diego, conhecido na redes sociais como o Professor Diegueira.

Virada

Conforme Daniela, os casos mais complicados são os das empresas que "não conseguem mais entregar a sua proposta de valor". Foi o caso do Bowlerama, uma casa de boliche no bairro Santo Antônio com pegada anos 1950.

- Somos um lugar muito querido pelos nossos clientes. Mas todo faturamento do local se baseava em receber eles bem em torno do boliche. Até tínhamos no local mesas para servir lanches, petiscos, mas quem conhecia o Bowlerama, não relacionava a marca à comida - declara o proprietário do local, Thiago Araújo.

A solução foi transformar o local em uma "dark kitchen": uma cozinha para restaurantes que só existem para delivery. O auxílio aperfeiçoou a ideia. Em vez de uma marca com diversos produtos, foi criada uma para cada prato, otimizando a eficiência das buscas nos apps de comida. A primeira, o Tinys Burger, é uma hamburgueria, que em breve dividirá espaço com outras seis: de pastel, churros, pizza, empanadas, frango e xis.

Com cinco funcionários, o Bowlerama está todo voltado aos restaurantes virtuais. Porém, a ideia é que, no futuro, os dois negócios coexistam. O melhor aproveitamento da cozinha, segundo Thiago, deve se manter depois da pandemia.

Desde o início do SOS PME, mais de 40 negócios já "tiveram alta" e novas rodadas de atendimento estão em curso. A avaliação é tão positiva que será mantido após a pandemia.

CAUE FONSECA

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