terça-feira, 14 de agosto de 2018



13 DE AGOSTO DE 2018
L.F.VERÍSSIMO

Vices

Dan Quayle foi vice-presidente dos Estados Unidos na gestão do Bush pai, sem nenhuma credencial para o cargo salvo uma boa estampa. Era um político tão medíocre e inexpressivo, que logo surgiu um boato: caso acontecesse alguma coisa com o presidente Bush, o serviço secreto tinha ordens para matar Quayle imediatamente. Uma piada cruel para lembrar a importância de vice-presidentes inadequados, que estarão apenas a um infarto, uma bala ou um impeachment longe do poder, se forem da chapa vencedora.

A história política do Brasil a partir de Vargas tem sido uma sucessão de crises de sucessão, com vices influenciando diretamente a confusão - Jango substituindo Jânio, governando sob tutela e finalmente abatido, os generais de 1964 se sucedendo mutuamente, a melancólica figura de Pedro Aleixo, vice de Costa e Silva, preparando-se para assumir a Presidência com a doença do general, uma ilusão que não durou 15 minutos, o Sarney substituindo Tancredo Neves, o Itamar substituindo Collor, o Temer, ai de nós, substituindo Dilma...

Nenhum dos candidatos a vice na próxima eleição merece o fim do Quayle da piada. Longa vida para todos. Mas é sempre bom lembrar o que os vices significaram no nosso passado, e o que ainda podem aprontar no futuro. A perspectiva de sermos governados pelo general Mourão só obriga o Bolsonaro a zelar muito pela sua saúde, vacinar-se contra a gripe e controlar o colesterol. Se bem que há uma certa injustiça na reação ao que o general disse sobre a indolência dos índios e a malandragem dos negros. 

São estereótipos antigos, simplistas, racistas e lamentáveis, certo. Mas redimidos por uma triste realidade: grande parte da população branca do Brasil pensa a mesma coisa. Não é preciso procurar mais longe do que programas humorísticos de alguns anos atrás, na TV, em que o "turco" e o judeu da prestação eram sempre usurários, homossexuais eram sempre caricatos e índios e negros nunca escapavam do clichê da inferioridade. De qualquer maneira, Bolsonaro, cuide-se.

L.F.VERÍSSIMO