terça-feira, 21 de agosto de 2018


21 DE AGOSTO DE 2018
CARPINEJAR


Pais diferentes para cada filho

Não sou filho dos mesmos pais que os meus irmãos, apesar de termos os mesmos pais.

As características físicas são comuns, somos reféns do DNA, só que o biotipo do temperamento seguirá caminhos distintos.

É sentar com Rodrigo, Miguel e Carla, que cada um descreverá uma mãe e um pai diferentes. Quase opostos. Possivelmente antagônicos. Não predominarão harmonia e consenso no retrato falado.

Afora a competição para identificar quem é o mais mimado ou o predileto, a turma não partilhará de iguais olhos das lembranças. Haverá aquele que é mais generoso e se contenta com pouco, haverá aquele que recordará exclusivamente das brigas e reclamações, haverá aquele que será tocado pelas confraternizações mais do que pelos atritos, há aquele que aceitará a normalidade de altos e baixos e não destacará ninguém. No conclave dos laços, seremos como os sete anões evidenciando uma virtude ou um defeito em nossa personalidade. Discutiremos o passado como se fôssemos o Soneca, o Dengoso, o Feliz, o Atchim, o Mestre, o Zangado e o Dunga.

E todos têm razão e nenhum tem razão.

Os pais são aquilo que conseguimos enxergar, não o que realmente recebemos. Eles decorrem mais de nossa capacidade de acolhimento do que de nosso parcial julgamento. Nem sempre aceitamos o que eles podem dar.

Tudo depende de quantas chances nos permitimos para o verdadeiro diálogo.

Você pode perguntar mais quem eles são ou ser passivo e imaginar o que pensam, você pode adotar conselhos ou tratá-los como censura, você pode querer sair com eles ou não ser incomodado em seu quarto. Isso influenciará em sua decisão.

Tanto que os pais mudam conforme a nossa idade. Na infância, experimenta-se o padrão da cumplicidade. Na adolescência, reina a revolta. Na maturidade, vem a culpa. Na velhice, encontra-se o difícil espelho.

Passamos metade da vida fugindo deles e a outra metade, ironicamente, tentando voltar para a família e fazer as pazes.

A questão primordial é que, involuntariamente, distorcemos a realidade para favorecer as nossas impressões.

O filho mais próximo da mãe não se relacionará perfeitamente com o pai, o filho apegado ao pai será mais crítico com a mãe, o filho que se mantém distante do pai e da mãe apenas elogiará os irmãos e se manterá com ressalvas à criação e à educação herdadas.

A pergunta talvez não seja a qual dos dois você é idêntico, mas se deixou o pai e a mãe, em algum momento, puxarem também os seus traços com a disponibilidade e a convivência.

Os pais, quando amados, se parecem com os filhos.

CARPINEJAR