quarta-feira, 15 de agosto de 2018


15 DE AGOSTO DE 2018
DAVID COIMBRA

A macheza dos PMs do Paraná


Causou trepidante polêmica o edital daquele concurso para a Polícia Militar do Paraná em que o critério "masculinidade" exigia o seguinte:

"Não se impressionar com cenas violentas, suportar vulgaridades, não emocionar-se facilmente, tampouco demonstrar interesse em histórias românticas e de amor".

Gostei da parte do interesse em histórias românticas e de amor. Se fosse apenas por este quesito, poderia ser PM no Paraná. Um filme, quando tem amor no título, já descarto. Romances românticos me entediam mais do que ler a lista telefônica.

Quanto às demais obrigações, teria de me esforçar muito para passar, pelos seguintes motivos:

Depois que tive filho, passei a me emocionar com facilidade, sobretudo quando há criança envolvida. Não consigo nem ir adiante em livros ou filmes em que crianças se machucam ou são maltratadas. Terá a paternidade me tomado um pedaço da masculinidade? Medo.

Cenas violentas - também não gosto. Filmes com amputações e entranhas expostas são tão abjetos, para mim, quanto os de amor. E quando a Marcinha está com TPM, eu, pusilânime, me homizio no bar.

Mas quais seriam as vulgaridades que o PM paranaense precisa suportar? Letras de funk? Discursos de políticos populistas? Bares com cadeiras de plástico? Ovo em conserva? Algumas dessas são realmente insuportáveis.

Outra coisa: não sei se esse teste de masculinidade está completo. Há mais questões a se avaliar, para se alcançar um resultado seguro. Por exemplo:

1. Se o candidato tiver cachorro, tem de ser grande, maior do que um vira-latas de tamanho médio. Se tiver gato, está reprovado.

2. Se o candidato falar "adoro", está sob suspeição. Se falar "a-mei!", está reprovado.

3. O candidato tem de gostar de mocotó.

4. O candidato não pode beber clericot.

5. PM do Paraná que é PM do Paraná não dança.

6. Candidato a PM do Paraná não fica magoado com os amigos.

7. Candidato a PM do Paraná tem refluxo quando ouve o termo "empoderamento".

8. PM do Paraná não passa creminho nas mãos.

9. A casa do PM do Paraná não tem vela de decoração.

10. PM do Paraná só conhece as cores azul, vermelho, branco, preto, verde, amarelo, marrom, rosa e cinza. No máximo, laranja. Ali, ali, bege. Se falar que algo é da cor de qualquer fruta ou legume, como "cenoura", "caqui", "goiaba" ou "cereja", está reprovado. Se falar "lavanda", pode prender.

Sei bem que o cumprimento de todas essas exigências não garantirá a eficiência dos PMs do Paraná, mas é certo que eles serão machos ortodoxos. Já o degas aqui, não enganarei você, másculo leitor: eu não me classificaria. Passo creminho nas mãos.

DAVID COIMBRA