terça-feira, 28 de agosto de 2018


28 DE AGOSTO DE 2018
DAVID COIMBRA

O homem que escolhia os amantes da ex-mulher


Já tive um prato de restaurante com o meu nome, tipo o "Filé a Osvaldo Aranha", que honra o antigo diplomata gaúcho e tem bastante alho frito.

O meu era "Lombinho a David Coimbra", que o meu amigo Atílio Romor, gerente do Lilliput, consagrou no cardápio do bar. Os amigos, gaiatos, brincavam:

- Hoje vou comer o lombinho do David.

Tudo bem, era um orgulho para o degas aqui. Pena que não guardei um daqueles menus.

Conto isso porque fez pulsante sucesso a minha proposta de eleger O Melhor Bar da História de Porto Alegre. Os leitores têm enviado seus candidatos e os defendido com o valor de Kannemans e Geroméis.

Por essa razão, tenho de destacar outras candidaturas. Não quero que fiquem questionando a lisura do pleito, como fazem os críticos da urna eletrônica.

Por exemplo: faz-se necessário citar o histórico bar O Encouraçado Botequim, embora não o tenha frequentado. Um bar bom até no nome, que brincava com o título do famoso filme de Serguei Eisenstein, O Encouraçado Potemkin.

Agora, necessito da sua compreensão, paciente leitor, porque uma coisa remete a outra, nessa história, e são todas coisas extraordinárias. Primeiro, lembro que o filme de Eisenstein contava sobre uma revolta que se deu na Rússia czarista em 1905. O tal Encouraçado Potemkin era uma belonave que havia participado da guerra contra o Japão, da qual a Rússia saíra derrotada e esfarrapada.

Neste ponto, terei de fazer novo desvio, porque o Potemkin que o navio homenageava havia sido o principal amante da imperatriz Catarina II. Quando digo "principal" significa que Catarina teve muitos amantes, embora em geral fosse um por vez. Por Potemkin ela se apaixonou como uma menina de Malhação. Porém, como os cientistas já provaram, o fogo da paixão dura, no máximo, um ano e meio, às vezes dois. Ao cabo desse período, as chamas do sexo se extinguiram entre eles, restando a muito mais sólida admiração. Catarina manteve Potemkin como seu conselheiro e auxiliar de governo. Ele organizou a marinha russa e foi importante em conquistas militares. Mais até: Potemkin ajudava-a a escolher novos amantes.

Quase sempre, o eleito indicado por Potemkin era um jovem oficial do exército. O rapaz primeiro passava por uma entrevista, que identificava se ele tinha algum espírito para pelo menos conversar civilizadamente com a rainha, uma mulher culta e cheia de interesses mundanos. Depois, uma dama de companhia de Catarina fazia um teste com ele: levava-o para a cama e avaliava se era competente ou não nas lides do amor. O passo seguinte era orientá-lo a respeito das preferências de Catarina, detalhes como "língua na orelha, não". Finalmente, o gajo era levado à presença real para se repimpar.

Não se podia dizer que Catarina fosse exatamente uma mulher bonita, mas era generosa. Depois que se cansava dos amantes, despedia-os com uma pensão vitalícia e um palácio em algum lugar aprazível da Mãe Rússia.

Pois bem. Potemkin foi o campeão de Catarina. E um campeão da Marinha, donde merecer duplamente a homenagem de nomear o encouraçado. Feita a necessária digressão, voltemos ao filme e à revolta propriamente dita, que foi dramática e feroz, e produziu reflexos inclusive no Brasil, envolvendo inclusive um personagem gaúcho. Mas tudo isso continuo contando amanhã, não há tempo para mais nada, a não ser para finalizar com um agradecimento aos leitores. O seguinte: perguntei, na coluna de segunda, como deveria fazer para abrir páginas coladas de um livro de 1945. Recebi dezenas de respostas. Estou lendo uma a uma e já vi que o mais recomendado é:

1. Expor as páginas ao vapor.

2. Polvilhá-las com talquinho de nenê.

Continuarei o estudo e logo digo se teve resultado.

DAVID COIMBRA