terça-feira, 11 de dezembro de 2018



11 DE DEZEMBRO DE 2018
COMPORTAMENTO

Na batida da solidariedade

Jovem que percorreu 23km a pé para não perder aula de bateria ganhou instrumento de presente.

Entre bumbo, caixa, pratos, chimbal e surdos, estava o adolescente Anderson da Silva, 16 anos, em mais uma aula semanal de bateria. Enquanto lições sobre música eram aprendidas no andar de cima do estúdio onde acontecem as aulas - no bairro São Geraldo, em Porto Alegre -, na parte de baixo, aumentava a movimentação de pessoas. O trânsito silencioso e ágil na parte térrea era de doadores sensibilizados com a história contada na semana passada, no site de GaúchaZH, do garoto de Viamão, que, sem dinheiro para passagem, percorreu 23 quilômetros a pé para não perder a aula de bateria.

Ontem, foi o dia da entrega surpresa daquilo que Anderson mais sonhava em ganhar: o instrumento que ele acredita ser a chave para a mudança na vida dele, da mãe e da irmã de nove meses. Chamado para ver uma Kombi estilizada, o jovem desceu as escadas acompanhado do professor de música Ébano dos Santos, 42 anos, e dos doadores Thomas Dornelles, 19, e Alisson Aguiar, 40.

Ao abrir a porta do carro, o adolescente deparou com uma bateria nova, mas não acreditou que o instrumento era realmente para ele:

- Eu olhei, fechei a porta e abri de novo. Não passou pela minha cabeça que era um presente para mim. Esse dia é um divisor de águas na minha vida. Agora, eu vou conseguir estudar, praticar mais e deixar de batucar nas pernas, no sofá e no banquinho lá de casa.

Depois que a história de Anderson foi parar nas redes sociais e contada em GaúchaZH, pipocaram notificações no celular do instrutor Ébano.

- Eu recebi inúmeras mensagens de gente daqui, mas, também da Austrália e dos Estados Unidos. Um amigo meu que mora no Michigan se ofereceu para pagar as aulas dele. As pessoas se prontificaram muito rapidamente a ajudar o Anderson. Em três dias, já tinha sido doada a bateria e todos os acessórios necessários. Foi muito bonito ver a rede de solidariedade que se formou em torno dele - diz Santos.

Exemplo de perseverança

sensibilizou doadores

Alisson Aguiar, amigo de longa data de Ébano, viu a postagem do instrutor nas redes sociais e logo decidiu ajudá-lo. O técnico em TI doou os tambores, os pratos simples e o banco:

- O que mais me emocionou foi o fato de ele colocar a paixão dele pela música acima das limitações e adversidades da vida. Quando a gente encontra uma pessoa assim, que supera seus limites para fazer aquilo que almeja, precisamos dar um empurrãozinho - afirma Aguiar.

Praticante de bateria desde criança, Thomas Dornelles doou os pratos porque enxergou em Anderson a motivação que encontrava em si quando começou a ter as primeiras lições do instrumento, aos 11 anos de idade:

- Plantaram uma semente em mim e, hoje, sou um profissional. Vivo da música. Por isso, resolvi plantar essa semente no Anderson também, porque é visível a paixão dele por esse instrumento.

Em casa, no quarto com uma cama e um roupeiro, o espaço da bateria já está reservado. Aos poucos, as peças são montadas e acomodadas dentro do cômodo.

- Ela vai ficar do ladinho da minha cama. Vou ter de colocar caixa de ovo, espuma e o que for preciso nas paredes do quarto para abafar o som, não atrapalhar os vizinhos e conseguir estudar. Se me for permitido, quero ir longe, quero que minha música toque as pessoas - afirma Anderson com a costumeira voz baixa de timidez. 

IAREMA SOARES

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