04
de maio de 2015 | N° 18152
MARCELO
CARNEIRO DA CUNHA
O império que conquistou a
América
Para
um lugar tão acostumado com imperialismos, os Estados Unidos caíram facinho sob
a dominação de Empire, série do canal Fox que estreou em janeiro e se tornou um
dos maiores sucessos da temporada por lá.
Empire
é uma empresa de sucesso no lucrativíssimo mercado da música negra americana,
música criada pelos afro-americanos e comprada em massa pelos branquelos, como
diz Lucious Lyon, pai de três filhos que precisam competir pelo comando do
império musical criado por ele.
Se
alguém fala em pai, filhos e disputa pelo poder, alguém, em algum canto já
grita “Rei Lear” sabendo que vai estar certo. Em Empire, a voz dessa lucidez e
do conhecimento da tragédia shakespeariana é de Andre, o filho mais velho
vestindo terno e gravata. Os outros dois são Hakeem, talentoso e descerebrado,
e Jamal, talentoso, cerebrado e gay.
Essa
última parcela da composição da persona de Jamal o desqualifica para sempre
diante do olhar homofóbico do pai. Jamal é sensível, talentoso, capaz, mas
namora rapazes. No mundo bastante preconceituoso do rap, Jamal não terá
chances, ou não teria, se não acontecesse a vulcânica entrada em cena de
Cookie, a mãe dos meninos, que tenramente volta ao lar após 17 anos em uma
penitenciária por tráfico de drogas.
Compreenderam
o enredo? Fácil mesmo, e esse é um dos segredos do sucesso de Empire. Não há
quem não entenda, não há quem desgrude, porque Empire é melodrama do começo ao
fim, e melodrama, caros leitores, funciona.
O
que também funciona é a ambientação. O mundo dos negros americanos com milhões
na conta bancária pode ser tudo menos entediante ou carente de glamour, mesmo
que com cores um tanto excessivas. Essa é uma sacada da série: o mundo que
mostra é sensual, barulhento, exagerado, sexy. O mundo branco pode ser algumas
dessas coisas, mas não todas, porque ele é, ora vejam, branco.
Claro
que a série investe em estereótipos, e tem que haver quem se incomode com isso.
Mas, lembremos sempre, this is television, baby, e o que conta, no final do
dia, são os números.
Empire
os tem, de sobra, e já vai para a segunda temporada. No Brasil, parece que vai
ser lançada em agosto deste ano. Se isso acontecer mesmo, sorte de todos.
Empire, como a sua música, não é arte, mas é entretenimento, e dos bão.
Aproveitem.