sexta-feira, 11 de novembro de 2016



Jaime Cimenti


A cleptocracia no futuro próximo

O volume 2038 (Chiado, 270 páginas), romance de estreia do advogado Max Telesca, que nasceu em Porto Alegre em 1974 e passou a infância no pampa gaúcho, em Canguçu, é uma narrativa inquietante e não trata apenas do ficcional país Lisarb no ano de 2038, período de sua pós-redemocratização.

Telesca formou-se em Direito pela Universidade Federal de Pelotas em 1997 e logo depois foi para Brasília, passou a advogar e militar na OAB, onde exerceu cargos relevantes. É vice-presidente do Sindicato dos Advogados do Distrito Federal, especialista em Tribunais Superiores e atuou como advogado em favor de uma das rés do mensalão, absolvendo-a. Telesca fundou o Instituto de Popularização do Direito e criou a Telesca e Advogados Associados.

Não por acaso, o romance tem epígrafe de Maquiavel e o primeiro capítulo se inicia com as seguintes frases: "A corrupção é algo natural, nasceu com o homem e vai morrer com ele, uma característica humana. A ética é cultural e, como tal, pode ser construída, destruída, cair em desuso ou ser transformada, e o homem, naturalmente corrupto, tenta, muito lentamente, um progresso civilizatório no rumo da justiça social, da igualdade e da construção do que chama de Estado Democrático de Direito".

A narrativa caudalosa e ágil gira em torno de Alex, funcionário do governo, e de Lisa. Se encontram e desenvolvem relacionamento num momento de incertezas pessoais. Ele progressivamente desencantado com as manipulações e projetos mirabolantes do governo, empenhado em vender as soluções da tecnologia como progresso social. Ela cada vez mais preocupada com as coisas da política e interessada em seguir o caminho da esquerda militante. Ele, com o mundo do dinheiro, do poder; ela, com o mundo popular. Uísque, amor, encruzilhadas e um torvelhinho de surpresas vai aparecendo, revelando a alma e a vida humana.

O jornalista Leandro Fortes escreveu, na apresentação: "Ao prever a dissolução dos costumes em um estágio de elevação da corrupção como bem imaterial da sociedade, Max Telesca nos apresenta uma obra onde a degradação moral está formalmente associada à ética e à política. Em 2038, o nefasto não é apenas aceitável, é natural. Um lugar onde a reversão de valores deu sentido ético a um novo pacto social: a Doutrina da Aceitação, a corrupção como variável da economia, da política e da própria estrutura do tecido social. No mundo bizarro pós-redemocratização de Lisarb - Brasil ao avesso, não ao contrário - esquerda e direita se amalgamaram em torno dos mesmos símbolos".

A ficção poderosa de Telesca, estreia madura no romance, talvez premonitória e com certo tom de advertência, além do prazer na leitura, faz pensar. E muito.

lançamentos

Um passeio no jardim da vingança (Novo Século, 302 páginas), romance de estreia do magistrado e professor Daniel Nonohay, narra a saga de um advogado rico e drogado que, depois de uma crise, retoma a vida e acaba se transformando em caça. Alto suspense em meio a drogas e muito mais.
Qorpo Santo - diabos e fúrias (Artes e Ofícios, 136 páginas), do premiado escritor e jornalista Luís Dill, autor de 50 livros, é baseado na noite de 26 de agosto de 1966, quando três peças de Qorpo Santo foram encenadas em Porto Alegre. 

O autor faz um link com as manifestações de 2013. 2016 Sombras & Luzes - Crônicas sobre um ano inquietante (Mecenas, Besourobox, 136 páginas), do publicitário, poeta e cronista Luiz Coronel apresenta textos literários sobre os fatos políticos de 2016. Apresentações de Pedro Simon, José Fogaça, Bruno Zaffari e Luciana Genro.