sexta-feira, 25 de novembro de 2016



LIVROS Notícia da edição impressa de 25/11/2016. 
Alterada em 24/11 às 17h36min

Milhares perderam o sono

Doadores de sono (Record, 166 páginas, tradução de Cláudia Costa Guimarães) é o novo título da talentosa escritora norte-americana Karean Russel, autora de Uma terra fantástica: Swamplândia!, finalista do Prêmio Pulitzer 2012, e de duas coletâneas de contos Vampires in the Lemon (best-seller do N.York Times) e Saint Lucy Home for the girls Raised by Wolves. Ela foi mencionada como um dos melhores autores com menos de 40 anos pela revista The New Yorker e na de menos de 35 pela The National Book Foundation.

Doadores de sono trata de um tema atual: a falta de sono, a morte por falta de sono. A narrativa fala de milhares de pessoas que perdem a capacidade de dormir e do aparecimento da Corpo do Sono, organização que persuade sonhadores saudáveis a fazer doações para os insones. Sob o comando dos enigmáticos irmãos Storch, o alcance da Corpo do Sono só cresce e ela aparece nas principais cidades norte-americanas. Trish Edgewater, cuja irmã, Dori, foi uma das primeiras vítimas da insônia letal, há sete anos recruta doadores para a organização. Mas sua crença na empresa e nas próprias motivações começa a vacilar quando é confrontada com a Bebê A, a primeira doadora universal, e com o misterioso e maligno Doador Q.

Ninguém menos que o célebre Stephen King, autor de clássicos de mistério, suspense e terror, assina a apresentação da obra. Ele escreveu: "Doadores de sono é um misto brilhante de ficção científica hard com fantasia e ficção científica clássica. Livro digno de um Prêmio Hugo. É desenvolvido com uma beleza artesanal e o que realmente me impressiona foi a facilidade com a qual Karen reuniu várias idéias eletrizantes. Em primeiro lugar, a culpa da sobrevivente Trish, a melhor integrante da equipe de doadores de sono. 

Em segundo lugar, vem a moralidade da doação forçada. A Bebê A, uma doadora universal, sofre pressões constantes para salvar vidas. Com a autorização dos pais, o pessoal da Van do Sono explora a bebê como uma mina. Em último lugar está o subtexto, no qual a propagação de uma doença causada pela privação do sono, começando com o Paciente Zero, lembra a propagação da AIDS. Além disso há o temor de que o fornecimento do "sono bom" tenha sido contaminado pelo pesadelo maligno e recorrente do Doador Q. "

Este romance vem em boa hora, num mundo em que há preocupação, especialmente com jovens, que não dormem o suficente e nem horas boas de sono, indispensáveis para uma vida saudável. O uso de celulares e computadores, nos quartos de dormir e nas camas, muitas vezes no escuro, comprovadamente contribuem para que muitos não durmam o suficiente ou durmam mal, tendo por isso problemas de depressão, obesidade, déficit de atenção e outros.

A ficção de Karen Russel é um alerta e, desculpem o clichê, mostra que quando pesadelos são reais, dormir passa a ser um privilégio.