segunda-feira, 28 de novembro de 2016



28 de novembro de 2016 | N° 18700 
NÍLSON SOUZA

Zaz

Ninguém mais tem tempo para nada.

Dia desses, lendo o blog do meu amigo Mário Marcos, deparei com uma cantora francesa de voz rascante, que canta na rua e enche calçadas e auditórios com o poder de um flautista de Hamelin. Fiquei tão impressionado com o ritmo da moça, com seu visível prazer em cantar e com sua alegria contagiante, que acabei assistindo a vários vídeos de suas apresentações, tanto nas avenidas de Paris quanto em excursões pelo mundo. Ela já esteve até no nosso Araújo Vianna, no ano passado, mas, na época, eu ainda não a conhecia e sua passagem por aqui não me chamou atenção. Se a conhecesse, teria ido, sem dúvida. Seus fãs vão me chamar de analfabeto musical, mas assumo a minha ignorância.

Refiro-me a Zaz, o nome artístico de Isabelle Geffroy, que se tornou famosa com a canção Je veux, um hino ao desapego e à simplicidade. Não fui o melhor aluno de francês no pretérito imperfeito da minha vida estudantil, quando essa disciplina era obrigatória no segundo grau de então. Só lembro que “Quand trois poules s’en vont aux champs, la première s’en va devant, la seconde suit la première et la troisième va derrière”. Mas a tradução simultânea proporcionada pela tecnologia digital me permite compreender as belas letras dos versos de Zaz. Resumindo: fiquei fã da moça e passei a recomendá-la para os meus amigos.

Aí entra o tema desta crônica: selecionei cinco dos meus melhores amigos e amigas e passei-lhes alguns links de vídeos da francesinha, com recomendações efusivas para que assistissem e me comentassem. Esperei três semanas, e nada. Nenhum retornou. Quando os encontrei pessoalmente e cobrei, responderam com as mesmas palavras, do primeiro ao quinto:

– Ainda não tive tempo de olhar!

Socorro, as pessoas estão enfeitiçadas. Ninguém para sequer para ouvir uma canção. E dizer que as máquinas foram criadas sob o pretexto de nos proporcionar mais tempo livre? Onde foi parar esse tempo? Passamos 25 horas por dia conectados nos nossos brinquedinhos eletrônicos, digitando, trocando mensagens, olhando imagens rápidas que desaparecem em seguida – e raramente paramos tempo suficiente para apreciarmos coisas agradáveis como uma canção romântica.

Diante da ingratidão dos meus amigos, repito a estratégia com os meus leitores. Nos links ao lado, a canção mais famosa da moça, com legendas em português, e uma entrevista em espanhol na sua passagem pela Plaza de Mayo, em Buenos Aires.

Se receber cinco comentários, ficarei feliz.

O colunista Luis Fernando Verissimo está em férias.