domingo, 20 de novembro de 2016


Vinicius Torres Freire
20/11/2016  02h00
O Rio de Janeiro continua indo

A descoberta do pré-sal produziu mais ladrões do que barris de petróleo.

É uma frase de efeito. Não temos como saber quantos eram os assaltantes do Estado em 2008. Mesmo agora, em 2016, ainda estamos contando apenas alguns dos principais.

Sabe-se que o pré-sal não fez com que se produzisse muito mais petróleo. De 2008 até 2015, a extração de petróleo no Brasil aumentou 34%. De 2001 a 2008, outros sete anos, aumentara 41%. Foi em 2008 que se extraiu o primeiro óleo do pré-sal.

É uma estatística de efeito. Mais importante foi o fato de a maldição do petróleo ter caído imediatamente sobre o Brasil mal se havia perfurado o fundo do mar, como se já tivéssemos decorado o script da desgraça de tanto país petrolífero, história velha na economia política de recursos naturais.

Por aqui, a história da maldição foi logo farsa e tragédia ao mesmo tempo. Vieram o populismo corrupto, o desperdício, mais empresas sanguessugas do Estado, consumismo em vez de investimento. Consumo a crédito, pois o petróleo mesmo ainda não viera.

Veio o petrolão, variante aguda da doença crônica do nacional-empresismo, a predação do Estado por empresas que compram de partidos o cargo de líderes (de fantasia) do desenvolvimento nacional.

A Petrobras foi arruinada em nome de um Brasil potência industrial petroleira, mistura de delírios de Ernesto Geisel com Hugo Chávez, ruína financeira e corrupta que é um dos motivos importantes de esta recessão ser excepcional em desgraça.

Para os mais jovens: Geisel foi o ditador-general de 1974 a 1979, último praticante para valer do nacional-desenvolvimentismo, nome genérico de vários programas de industrialização mais ou menos autoritários, quase sempre ineficientes e sempre socialmente excludentes que fizeram a história do Brasil dos anos 1940 a 1980.

O Rio de Janeiro, que era o assunto original destas colunas, afogou-se no desenvolvimento desse óleo sujo. O governo do Rio se tornou um pouco de Venezuela, Nigéria e, por fim, Grécia, que nem petróleo tem.

O ora presidiário que governou o Rio nos sete anos da ilusão petrolífera cometeu a lambança populista, a irresponsabilidade criminosa típica, clichê, de criar gastos gigantes permanentes a serem financiados por uma receita instável, a do petróleo. Como soubemos por polícia, procuradores e juízes, a bandalha foi muito além. O crime central, porém, foi quebrar um Estado da importância e do tamanho do Rio.

Isso não terá solução tão cedo. Haverá menos dor no Rio quanto pior for o remendo, que virá em maior ou menor medida na forma de "ajuda", de mais dívida da União.

Isto é, virá do governo federal, quase tão quebrado quanto, quebrado pelo mesmo tipo de delírio, bandidagem, ignorância e, mais fundamental, de associação entre castas políticas, partidos (PT, PMDB e PP, neste caso) e grande empresa, cerca de metade do pelotão de elite do ranking das maiores do país.

Tudo isso é mais ou menos sabido. O que se ainda precisa pensar é como esse conluio opressor perdura quase sem cessar, travestido a cada vez de forma política diferente, mas sempre uma conversa fiada fora do lugar, seja o "liberalismo", o "desenvolvimentismo" ou outra besteira ideológica.