terça-feira, 27 de março de 2018


27 DE MARÇO DE 2018
GERAL


Depois de 24 anos, de volta às mãos do dono

LUIZ CARLOS BORGES comprou na Polônia, em 1994, violão que foi furtado em Viamão meses após aquisição

Passados 24 anos, o cantor e compositor nativista Luiz Carlos Borges voltou a dedilhar as cordas de aço de um violão que comprou em 1994, na Polônia. Furtado cinco meses depois no sítio do músico, em Viamão, na Região Metropolitana, o instrumento estava com um motorista de transporte por aplicativo e foi recuperado pela 2ª Delegacia de Polícia (2ª DP) de Porto Alegre na sexta-feira. Ontem, Borges foi buscá-lo.

O músico espremeu os olhos para enxergar a assinatura do fabricante no interior da caixa acústica e verificou a letra C talhada a mão no alto da cabeça do violão para ter certeza de que se tratava do equipamento furtado. Torceu as tarraxas para acertar a afinação das cordas e tocou uma de suas composições mais famosas, Tropa de Osso.

- É muito boa a emoção de colocar a mão em um instrumento que tu comprou por achar bom - comentou.

Borges lembrou que, ao passear por uma feira na Cracóvia, depois de um show, viu o violão branco que o fez interromper a caminhada. Conversou com o fabricante, alemão de Frankfurt, conhecido pelo apelido de Cheri - o nome inscrito no interior da peça. O artesão explicou ter trabalhado dois anos naquele e em outros quatro violões, que se diferenciavam por detalhes. Disse que os havia produzido especialmente para a feira e que o comprador daquele, o último dos cinco, teria de ser, obrigatoriamente, sul-americano.

- Os outros tinham sido vendidos um para cada continente. Ásia, África, Europa e América do Norte (o vendedor dividiu o continente americano em Sul e Norte e não considerou a Oceania). Faltava a América do Sul. Mostrei meu passaporte e comecei a pechinchar - recordou o artista.

Adquiriu o instrumento por cerca de US$ 900 (o que hoje corresponderia a US$ 1,5 mil, ou R$ 4,9 mil), mas não teve tempo de levá-lo aos palcos. Apenas um jingle e duas músicas de amigos foram gravadas com o equipamento.

- De vez em quando, colocava o disco (do amigo que gravou as músicas) para ouvir esse violão. Gosto da delicadeza dele. Deu uma amarelada e precisa de alguns reparos, mas segue muito bom. Tão bom que, mesmo assim, malcuidado, afina bem ainda. Foi um dos motivos pelos quais comprei - explicou.

CONVERSA EM CORRIDA DE APP ORIGINOU APURAÇÃO

O paradeiro do instrumento começou a ser revelado quando um motorista de transporte por aplicativo comentou com um cliente ter comprado um violão que acreditava ter pertencido ao cantor tradicionalista - a polícia ainda não esclareceu como o condutor sabia a origem da peça. O passageiro, músico, mostrou interesse e fez perguntas sobre as características, como marca, modelo e cor. Dias depois, o homem levou as informações a Borges, de quem é amigo de longa data.

O nativista informou a polícia e a 2ª DP seguiu o rastro. Conforme apuraram os investigadores, o equipamento teria sido vendido ao motorista por R$ 100 há mais de 10 anos, depois de ter estado com outras duas pessoas.

- Ele (o motorista) entregou o violão tranquilamente. Não pareceu ter agido com má-fé. Até disse que gostaria de conhecer o Borges pessoalmente - contou o delegado César Carrion.

O furto, registrado em 11 de outubro de 1994, já prescreveu, mas há possibilidade de indiciamento por receptação.

MARCELO KERVALT