terça-feira, 27 de março de 2018


27 DE MARÇO DE 2018

INDICADORES - Ricardo Felizzola

Sinto vergonha de mim


Após as "supremas" decisões recentes que nossa Democracia permite, fundamentada na nossa gloriosa Constituição de 1988, como a de "salvar o corpo" do chefe do PCC condenado a 65 anos e colocá-lo em liberdade, entre outras, só me resta hoje reescrever Rui Barbosa, com a licença de todos:

"Sinto vergonha de mim... por ter sido educador de parte deste povo, por ter batalhado sempre pela Justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado de varonil enveredar pelo caminho da desonra. 

Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar a meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula mater da sociedade, a demasiada preocupação com o eu feliz a qualquer custo, buscando a tal felicidade em caminhos eivados em desrespeito para com o seu próximo. 

Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos floreios para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre contestar?, voltar atrás e mudar o futuro. Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer... 

Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir, pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. 

Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro! De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem- se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".

Ou o Brasil toma rumo, ou vamos criar a antimatéria da ética mundial, considerando que todos, independentemente do que façam, são inocentes até morrer....

Ricardo Felizzola escreve às terças-feiras, a cada 15 dias. Na edição de quarta-feira, Ricardo Hingel.